PSD: Um partido e as suas famílias

As categorias nada têm a ver com santanistas, mendistas, barrosistas, marcelistas, cavaquistas ou qualquer outro “ista” que ainda esteja em formação

Desde a sua origem, o PSD sempre foi um partido composto por várias famílias com tendência para se unificarem quando estão perante personalidades fortes, capazes de vencer eleições. Foi assim com Cavaco Silva, em 1985, só para recordar um líder (na verdade, um dos) que encontrou o PSD quase desintegrado e que o devolveu às vitórias.

Nascido em tempos de revolução, o então PPD-PSD tinha um programa vasto, muito mais à esquerda do que teve nos últimos anos. É mesmo caso para dizer que o PSD de Passos Coelho dificilmente caberia no PPD-PSD de Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota. Mas os problemas e as questões de hoje são também bem diferentes de uma altura em que não havia troika, nem Procedimentos por Défice Excessivo e em que falar de direito a desligar, por exemplo, não era uma questão laboral. A evolução do PSD nota-se nos diferentes programas eleitorais que foram sendo submetidos a votos.

Ainda assim, numa altura em que o partido das três setas segue para uma nova corrida pela liderança, com duas facções bem definidas em disputa - uma dita social-democrata e consubstanciada em Rui Rio e outra protagonizada pelo homem que um dia pensou em criar o Partido Social Liberal, Pedro Santana Lopes-, vale a pena categorizar as várias sensibilidades internas que subsistem no PSD. E as categorias nada têm a ver com santanistas, mendistas, barrosistas, marcelistas, cavaquistas ou qualquer outro “ista” que ainda esteja em formação.

Os “ismos” são as faces visíveis das famílias ideológicas que estão do ADN do partido e que distinguem os sociais-democratas dos liberais, os do centro-esquerda dos do centro-direita, os mais conservadores nos costumes dos menos conservadores e também os católicos dos não-católicos.

Ao longo dos tempos, esses “ismos” foram geradores de tensões e cisões que resultaram em grupos como o Opções Inadiáveis (defensor da matriz social-democrata do PSD), a ASDI (Associação Social-Democrática Independente, dissidente da linha social-liberal) ou a Nova Esperança (contra o Bloco Central).

Em 2007, Marcelo Rebelo de Sousa reconhecia a existência de cinco ramos na árvore genealógica do PSD, alertando para o facto de não corresponderem a correntes estanques: o ramo social-democrata (do quais já resistiriam poucos exemplares), o social-liberal (onde incluía Francisco Balsemão e Miguel Veiga), o social-cristão (do qual ele próprio fazia parte), o social-populista (de Santana Lopes e Luís Filipe Menezes) e o social-rural (mais ligado às bases do partido).

No meio deste caldeirão, em que PSD ora se aproxima do CDS-PP (Aliança Democrática) ora do PS (Bloco Central), houve quem não resistisse à tentação de mudar de lado: Helena Roseta e Sousa Franco foram primeiro sociais-democratas e depois socialistas; José Sócrates entrou na política pela JSD e chegou a primeiro-ministro pelo PS; Durão Barroso andou pela esquerda (mais esquerda que o PS) antes de chegar ao PSD; e Fernando Seara e Paulo Rangel foram do CDS antes de serem do PSD. Há quem diga que é esta homogeneidade, esta capacidade de mutação genética e de adaptação permanente, que tem garantido ao PSD a sua sobrevivência. Sem os espartilhos existentes noutros partidos.

Nos últimos sete anos, com Pedro Passos Coelho, o PSD encostou-se à direita e chegou ao governo. Não perdeu legislativas, mas viu a governação passar para as mãos do PS, apoiado pela esquerda. E levou uma grande tareia nas últimas autárquicas, em que as bases deviam ter mostrado a sua força. E agora, PSD? Haverá um líder que consiga unir a família para ganhar o país? 

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