Como a população de Almada olha para a derrota comunista

Os comunistas lideravam o município desde as primeiras eleições autárquicas (1976), mas Inês de Medeiros conseguiu no dia 1 ser eleita pelo PS para a presidência, ainda que sem maioria.

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Almada, 15 dias depois das eleições autárquicas Fabio Augusto

A vitória do PS em Almada nas eleições autárquicas de 1 de Outubro apanhou de surpresa parte da população do concelho, mas alguns moradores asseguram que havia sinais de descontentamento mesmo entre os apoiantes da CDU.

"Penso que toda a gente ficou surpreendida, até mesmo os próprios intervenientes ficaram surpreendidos com a perda da Câmara Municipal. Se calhar a perda de alguns vereadores por parte da CDU já era esperada - falava-se muito nisso -, agora a perda da Câmara foi bastante inesperada", disse à agência Lusa Gonçalo Paulino, presidente da delegação de Almada da Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal.

Os comunistas lideravam o município desde as primeiras eleições autárquicas (1976), mas Inês de Medeiros conseguiu no dia 1 ser eleita pelo PS para a presidência, ainda que sem maioria.

"Existem alguns problemas relacionadas com a limpeza, com a reestruturação das principais vias de circulação automóvel, existe também uma questão que os comerciantes e os moradores não quiseram abordar antes as eleições - porque podia parecer uma questão política, que não é -, como é o caso do metro de superfície estar a fazer muito, muito ruído, o que é muito incómodo para as pessoas que aqui moram e trabalham, uma questão que terá de ser resolvida rapidamente", acrescentou.

A opinião de Gonçalo Paulino é corroborada por vários moradores no concelho de Almada, que, de um modo geral, apontam a falta de limpeza, os problemas de trânsito e de estacionamento, bem como os constrangimentos e o ruído provocado pelos comboios do Metro Sul do Tejo como causas prováveis para um descontentamento cada vez maior dos almadenses ao longo dos últimos anos.

"Fui um pouco surpreendido, mas não muito, porque sentia que o ânimo das pessoas estava a modificar-se lentamente e havia uma grande insatisfação, até das pessoas que simpatizavam com a equipa da Câmara Municipal", disse à agência Lusa Silvino Oliveira, que trabalha perto dos Paços do Concelho.

No seu entender, uma das causas mais importantes para a derrota da CDU em Almada foi a forma de actuar da Ecalma, Empresa Municipal de Estacionamento e Circulação de Almada, havendo um grande descontentamento com a gestão do estacionamento na cidade.

Outra razão que causou grande insatisfação entre o comércio, apontou, foi a construção do metro, que alterou a vida e o acesso à cidade.

“Nos últimos tempos, uma cidade suja, muito lixo por apanhar, uma desorganização nos serviços. O lixo por vezes acumulava-se durante dias e depois vinham equipas para limpar, mas limpavam pouco lixo, dando a ideia de que havia desorganização, não havia método. São pormenores que se juntaram para construir uma pirâmide que levou a este resultado", acrescentou, convicto de que a vitória autárquica do PS poderá trazer "modificações estruturais na cidade".

José Gomes não é de Almada, mas trabalha no concelho e diz que não ficou surpreendido com a derrota da CDU, devido ao que considera serem os erros cometidos pela maioria CDU, alguns dos quais durante os mandatos da anterior presidente, Maria Emília de Sousa, substituída há quatro anos por Joaquim Judas, também da CDU.

"Não fiquei surpreendido, porque a Maria Emília de Sousa, que esteve cá muitos anos, estragou estas avenidas por aqui acima e estas coisas pagam-se”, criticou, sublinhando que o metro de superfície estragou a “espinha dorsal” de Almada – a avenida que vai de Cacilhas até à rotunda do Centro Sul.

“Se esta avenida tiver uma fluidez de trânsito como deve ser, com certeza que Almada é outra Almada", defendeu.

Mas entre os almadenses também há quem deixe transparecer a preferência pela maioria CDU e que admita a surpresa total pela vitória socialista, enquanto outros celebram a conquista socialista como se fosse sua, embora confessem que até preferiam uma autarquia mais à direita.

"Eu acho que foi uma bomba. Fiquei admirada. Eu votei sempre no mesmo, nunca falhei. Agora, que eu gosto da rapariga, também gosto - ela é filha do Vitorino de Almeida. A Maria Emília fez as coisas bem feitas, deixou a câmara sem dívidas, com dinheiro. Este [Joaquim Judas] esteve pouco tempo", disse Maria Lucília Gonçalves.

Vítor Jesus não foi surpreendido e comenta que até ficou "muito contente por os comunistas terem perdido". Embora lamente que não tivesse sido o PSD a ganhar as eleições em Almada, espera "que as coisas melhorem com a nova governação" do município.

A opinião é corroborada pela mulher, Maria Manuela Jesus, que pede ao novo executivo que resolva rapidamente o problema da falta de limpeza.

"Uma coisa que eu esperava era que eles pusessem a cidade mais limpa, porque está tão suja, tão suja, que é uma vergonha. Eu vivo cá há um ano - vim da cidade de Faro, que é muito mais limpa - e tenho muito pena. Há tanta gente a passar multas, porque é que também não há gente a limpar as ruas? Eu esperava uma cidade mais limpa", disse.

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