“Faria todo o sentido existir uma marca forte que possa fazer um Portugal Fashion Week”

Adelino Costa Matos, presidente da ANJE, avalia os resultados de anos de investimento do Portugal Fashion nos criadores portugueses.

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Depois da passagem por Nova Iorque, Londres e Milão, a 41.ª edição do Portugal Fashion começa este sábado em Lisboa e segue na próxima semana para o Porto, durante mais três dias. A organização, apoiada pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), leva criadores portugueses a mostrar o seu trabalho em eventos internacionais de moda há sensivelmente 17 anos, levando-os a Paris, São Paulo e Viena. Adelino Costa Matos, 35 anos, licenciado em Gestão, é o presidente da ANJE desde Janeiro e faz o rescaldo do último circuito no estrangeiro, que levou cinco criadores portugueses a Nova Iorque, Londres e Paris.

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Depois da passagem por Nova Iorque, Londres e Milão, a 41.ª edição do Portugal Fashion começa este sábado em Lisboa e segue na próxima semana para o Porto, durante mais três dias. A organização, apoiada pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), leva criadores portugueses a mostrar o seu trabalho em eventos internacionais de moda há sensivelmente 17 anos, levando-os a Paris, São Paulo e Viena. Adelino Costa Matos, 35 anos, licenciado em Gestão, é o presidente da ANJE desde Janeiro e faz o rescaldo do último circuito no estrangeiro, que levou cinco criadores portugueses a Nova Iorque, Londres e Paris.

O que tem a ANJE aprendido ao longo de quase duas décadas?
O conceito de desfile do Portugal Fashion já é maduro. O que entendemos que deveríamos fazer melhor é criar mais substância e conteúdo em acções paralelas. Já que vamos a Nova Iorque, Paris, porque não criar um showroom ou open house? Acima de tudo sermos mais inclusivos e criarmos sinergias com outros sectores – como o do calçado, da joalharia, do lifestyle.

Como é que olham para o futuro do formato do desfile tradicional, que tem sido questionado na indústria?
Tentamos que os desfiles tenham um conteúdo inovador e diferenciado – no caso de Londres, por exemplo, a Alexandra Moura escolheu uma igreja para fazer o desfile. É importante perceber que há criadores que tem uma componente de vendas mais forte em Itália ou outros em Nova Iorque, e levá-los aonde podem causar mais impacto.

Qual é o critério para escolher os criadores que levam a cada uma das cidades?
Primeiro temos de ter alguma capacidade de consistência. A partir do momento em que levamos Katty Xiomara ao mercado dos Estados Unidos não será com certeza numa única edição que ela vai conseguir implementar-se no mercado. Esses um ou dois anos com desfiles consecutivos têm de mostrar resultados. O caso da Alexandra Moura é interessante: dentro de todas as localizações, Londres acabou por ser uma plataforma para vender para o Médio Oriente e Ásia. No caso de Miguel Vieira, que está em Nova Iorque há bastante tempo, houve uma conversa franca em que nos disse que está neste momento a tentar fechar um negócio nos EUA e obviamente merece o nosso apoio.

Ao longo de cerca de 17 anos destes circuitos internacionais, quais foram os casos de sucesso?
Temos imensos. Alexandra Moura é um deles. Carlos Gil é outro. Katty Xiomara. O próprio Miguel Vieira vende bastante em Itália, mas está agora a tentar entrar no mercado dos EUA. Existem vários casos de sucesso em geografias distintas. Luís Buchinho... São designers de excelência que tiveram claramente através do Portugal Fashion uma porta aberta para venderem no estrangeiro e acesso a compradores.

Sucesso a nível de facturação?
Nós tentamos sempre obter resultados e ter essa informação dos resultados dos nossos criadores – por vezes é um bocadinho difícil, no aspecto em que alguns são a imagem e marca e muitas vezes as vendas e a produção são feitas através de outras empresas. Ou seja, eles unicamente dão a cara e o design – é um modelo de negócio perfeitamente viável. O Miguel Vieira é um caso desses: as vendas que tem a nível individual não reflectem as vendas efectivas das peças. Porque, na realidade, ele é a imagem e recebe uma componente de royalties.

Não é importante saberem concretamente quais os lucros face ao investimento para poderem medir esforços?
Temos efectivamente uma base de informação – para nós é importantíssimo. Esta é uma máxima que vai ter de ser forte, pelo menos enquanto estiver na ANJE: as acções têm de gerar retorno do investimento que estamos a fazer. Nós e genericamente, o país. Na realidade trabalhamos com fundos europeus e fundos nacionais. Conseguimos de alguma forma medir isso, em alguns casos através das próprias vendas, como em outros através da abertura de lojas.

Quais são os criadores que têm lojas próprias?
Tem sido mais multimarca, como a Katty Xiomara que hoje já tem quase 50 pontos de venda nos EUA.

São pontos de venda fortes?
Não tenho conhecimento dos pontos de venda específicos, mas para estar no mercado norte-americano, quando há uns anos atrás efectivamente estava a entrar, achamos que já é um indicador bastante bom.

Qual é o valor do investimento?
O projecto 2015/2017 termina agora em Setembro. Fechámos um budget de cerca de 11 a 12 milhões de euros. Normalmente a alocação de fundos é de dois em dois anos.

Consegue indicar um designer cujos resultados comerciais sejam superiores ao investimento feito?
Temos vários casos de sucesso. Para nós obviamente é importante o retorno, não só para o designer, mas também para a indústria nacional. Normalmente não é medido no momento do investimento. Temos o investimento feito em 2016/2017 – parte desse retorno é analisado em 2018/2019, quando existe efectivamente mais contactos e um reforço das vendas. Não é fácil à data de hoje.

E em relação ao histórico de cerca de 17 anos a levar criadores lá fora?
Não tenho hoje dados concretos presentes. Conseguirei obtê-los com  facilidade. No entanto, a partir do momento em que temos criadores no estrangeiro que não tinham lojas ou pontos de venda e nos EUA hoje já têm 50 pontos de venda como Katty Xiomara, ou Miguel Vieira, que tem bastantes vendas em Itália, achamos que efectivamente existe um retorno do investimento que já foi feito há uns bons anos.

O objectivo é que estes criadores possam eventualmente suportar o próprio investimento?
Não gostaria de individualizar. Vamos agora apresentar a nova candidatura para os próximos dois anos. À data de hoje ainda é prematuro referir algum criador em especial.

Como vão financiar-se após o final do programa Portugal 2020?
À data de hoje não temos mais informação se existirão mais fundos. Fala-se no novo quadro comunitário de fundo de 2020/2027… A estratégia do Portugal Fashion tem de ser centrada na componente global do investimento – mas [também]. até que ponto conseguimos criar mais conteúdo internamente, de forma a potenciarmos patrocínios que possam trazer outras fontes de rendimento, minimizando a necessidade de fundos estruturais. 

O que aconteceu a designers que já não mostram, como Fátima Lopes. Não fazia sentido o investimento?
Entrei há nove meses [na ANJE]. Fátima Lopes teve um percurso bastante grande com o Portugal Fashion e chegou a um momento em que ambas as partes acharam que era melhor a própria seguir a sua própria carreira de forma independente, com bastante sucesso. Não deve haver nenhum estigma para que esse tipo de situações aconteça.

Qual é a sua visão para a ANJE?
Nós [actual direcção] tentámos trazer algum dinamismo. Acho que o Portugal Fashion tem uma grande história, apoiou muitos criadores, internacionalizou-nos... Acho que nos falta a capacidade de pensar mais longe. Já que fazemos o investimento, não apostar unicamente nos criadores, mas trazer outro tipo de sectores. Esta é claramente uma aposta nossa. Sermos mais inclusivos. Achamos que não faz sentido existirem  investimentos replicados no país. Devemos unir esforços.

Está a referir-se à ModaLisboa?
Não estou a referir-me em nenhuma em específico. Estou a falar da moda, do calçado, do têxtil, da joalharia. Devemo-nos unir e potenciar conjuntamente acções no exterior.

Faz sentido a duplicação de esforços entre as duas organizações de moda?
O que posso dizer é: o que é válido para a ModaLisboa é válido para outro tipo de eventos e associações. A partir do momento em que chegamos sem bagagem, temos uma visão estratégica que este sector tem de ser apoiado. Tem de ter retorno, tem de ter união para gerar ainda mais força e sinergias entre as associações – isto reforça o facto de achar, a nível pessoa, que esse esforço se poderia traduzir em maior comunicação e colaboração entre as associações – inclusive com a ModaLisboa.

Há algum diálogo entre as duas?
Temos toda a abertura. Aqui não se trata da associação PortugalFashion, da ANJE, não se trata das outras associações individualmente, nós temos de pensar o que é melhor para o país. Até porque todos nós investimos recursos nacionais. Portanto, temos de entender como é que somos mais fortes conjuntamente. Nesse aspecto, a minha opinião pessoal é que faria todo o sentido existir uma marca forte nacional que possa potenciar-se e fazer um Portugal Fashion Week – ou seja, não ser ModaLisboa em Lisboa, um Portugal Fashion no Porto e em Lisboa. Podemos analisar, não só com a ModaLisboa, mas com todas as outras associações uma forma de conjuntamente sermos mais fortes.

Como surgiu a visita de Suzy Menkes à open house londrina?
Para lhe explicar como aconteceu teria de abrir o véu a uma acção que nós estamos a preparar.

Pode abrir...
Neste momento ainda não posso (risos). A ANJE e o Portugal Fashion estão a analisar a possibilidade de parceria com a Condé Nast Internacional e com a Vogue. Surgiu a hipótese do representante da Condé Nast de Londres vir ao evento e trazer a Suzy. Que obviamente nos alegrou bastante: muitas vezes é mais importante ter uma Suzy no evento do que, se calhar, ter 500 visitantes. A partir do momento em que uma pessoa destas coloca o radar em Portugal, nas criações portuguesas, estamos a potenciar para todo o mundo, para muitos milhões de pessoas, aquilo que é feito em Portugal.