Autarca candidata-se à liderança do PS-Madeira para abrir caminho a Cafôfo

Divisões do partido vêm à tona, com as regionais de 2019 no horizonte. Militantes pró-Paulo Cafôfo anunciam intenção de avançar com uma candidatura que coloque o autarca do Funchal na linha da frente para disputar o governo com Miguel Albuquerque.

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Paulo Cafôfo não é militante do PS mas já se assumiu socialista Nuno Ferreira Santos

O presidente da Câmara do Porto Moniz, um pequeno concelho no extremo Norte da Madeira, anunciou esta sexta-feira a intenção de avançar com uma candidatura para a liderança do PS do arquipélago, no próximo congresso regional que deverá realizar-se em Janeiro próximo.

O anúncio de Emanuel Câmara, um antigo árbitro de futebol que renovou, a 1 de Outubro, a maioria absoluta no Porto Moniz, choca de frente com o actual líder dos socialistas madeirenses, Carlos Pereira, mas corporiza a facção do partido que vê em Paulo Cafôfo, o independente que preside à Câmara do Funchal, a melhor solução para o PS ser governo pela primeira vez na Madeira.

É que Cafôfo, que lidera a principal autarquia madeirense desde 2013, tem, para já, dois handicaps. Por um lado, embora recentemente se tenha confessado socialista, não é militante do partido. Por outro, acabou por ser eleito com garantias de que iria cumprir integralmente o mandato. São questões que a candidatura agora apresentada parece ultrapassar. Emanuel Câmara assume o partido e apresenta depois o autarca do Funchal como candidato independente, pelo PS, à presidência do governo madeirense.

O próprio Emanuel Câmara, sem nunca apontar o nome de Cafôfo, que foi reeleito no Funchal com os apoios do PS, BE, JPP, PDR e Nós, Cidadãos!, explicou, numa declaração colocada na página pessoal no Facebook, que o objectivo da candidatura é apresentar em 2019, data das eleições regionais, um “projecto de todos e para todos os madeirenses”. Numa entrevista ao JM-Madeira foi mais taxativo: “Julgo que todos sabemos o que os madeirenses querem e quem desejam como candidato à presidência do Governo Regional em 2019”.

Carlos Pereira não. Também no Facebook, o presidente do PS-Madeira, que é vice da bancada em São Bento, fala em “acto de cobardia” e de um “golpe baixo que rasteira todas as premissas das organizações”. Ao PÚBLICO não comenta candidatura de Emanuel Câmara, o homem a quem no domingo eleitoral, contados os votos, foi dar um abraço.

Também Paulo Cafôfo não reagiu, apesar das tentativas do PÚBLICO, mas depressa se multiplicaram os apoios dos que lhe são próximos. José Miguel Iglésias, o chefe de gabinete na autarquia, foi dos primeiros a mostrar apoio ao autarca do Porto Moniz. Victor Freitas, a quem Carlos Pereira sucedeu na liderança do PS-Madeira em 2015, colocou-se já também ao lado desta candidatura. Foi ele, em 2013, o mentor da coligação Mudança, que, com PS, Bloco de Esquerda, PAN e os anti-sistema PTP e PND, unidos em torno de Cafôfo, roubou a Câmara do Funchal ao PSD de Alberto João Jardim.

Dois anos depois, nas regionais de Março de 2015, Freitas apresentaria uma solução semelhante, que viria a falhar em toda a linha, relegando os socialistas para terceira força no parlamento regional – atrás do PSD, CDS e com os mesmos deputados do JPP – e permitindo nova maioria absoluta social-democrata, a primeira com Miguel Albuquerque na liderança. A demissão foi apresentada na noite eleitoral, abrindo espaço para Carlos Pereira, que pegou no partido em Maio desse ano.

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