UTAD abre curso para nos ensinar a cuidar da “floresta urbana”

Universidade quer combater falta de conhecimento, que põe em causa a saúde das árvores e a segurança de pessoas e bens.

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Curso pretende ajudar a identificar e prevenir situações de risco com árvores nas cidades Paulo Pimenta

Não foi por causa do recente acidente com um carvalho na Madeira, que provocou a morte a 13 pessoas, que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro decidiu abrir uma pós-graduação em Floresta Urbana. Mas o director deste novo curso - que está em fase de entrega de candidaturas - assume que o país tem um défice de conhecimento sobre o ciclo de vida das árvores e a forma como o seu enquadramento em áreas urbanas as condiciona, gerando, por vezes, riscos que podem levar situações limite como a de Agosto passado.

A relação entre as árvores e as cidades é uma história muitas vezes contada nas notícias de jornais. Há quem se queixe do espaço que elas ocupam, da vista que roubam e do muito que as suas folhas sujam, mas há quem também as entenda como seres vivos que partilham, connosco, o espaço urbano, dando-lhe cor, amenizando as temperaturas, oferecendo sombra e abrigo para a biodiversidade. Devemos-lhes muito mas, segundo o director da nova pós-graduação da UTAD, Luís Martins, nem sempre as tratamos como merecem.  

A noção de que, nas autarquias e outros organismos há pouca gente com capacidade para avaliar o arvoredo sob a sua alçada levou a UTAD a lançar esta pós graduação que pretende melhorar conhecimentos sobre a fisiologia e biomecânica da árvore; sobre os principais problemas Fitossanitários em espaço urbano, fornecer competências para a realização de podas e cirurgias correctas, com recurso à escalada em condições de segurança, e ensinar os participantes a fazer avaliação Patrimonial e avaliação da segurança e do risco sobretudo em árvores de idade e porte elevados.

O docente universitário – que foi chamado pelo Ministério Público para a avaliação do carvalho que caiu na Senhora do Monte -  considera que em Portugal continuam a repetir-se erros básicos, como o plantio de espécies pouco adaptadas ao espaço urbano, muitas vezes sem antecipar as reais necessidades que estas árvores terão quando adultas. E se o desconhecimento sobre aquilo que uma árvore nos mostra (o seu tronco e a sua copa) é grande, a ignorância sobre aquilo que ela esconde é ainda mais gritante, diz, levando, por exemplo, que se insista no seu plantio em caldeiras de um metro cúbico.

Estas “são como pássaros em gaiolas”, atira.  “Ainda há quem pense que as árvores têm uma raiz aprumada ao longo de toda a sua vida, e isso é um erro”, nota este investigador, explicando que, depois dos primeiros anos, elas desenvolvem raízes superficiais, cuja necessidade aumenta em função da escassez de oxigénio no subsolo.  “Os choupos ou os plátanos fazem pela vida” e levantam tudo, assinala, explicando que a excessiva impermeabilização ou compactação do solo em zonas com árvores potencia, ainda mais, este comportamento destes seres vivos que, como nós, apenas procuram acomodar-se ao espaço da melhor forma.

Se não o conseguem fazer, o risco de doenças que podem, no limite, levar a quedas de ramadas ou da própria árvore em si, aumenta. E há poucos, no terreno, que saibam avaliar esses riscos, embora o docente da UTAD note uma maior preocupação por parte de entidades públicas em procurar quem domine esse saber. A Câmara do Porto, por exemplo, contratou-os para uma análise e inventariação do estado fitossanitário de todas as árvores da cidade, mais de 24 mil, no caso.

A nova formação pós-graduada da UTAD procura também ajudar arquitectos, paisagistas e decisores a planearem melhor. Luís Martins queixa-se de que no geral, plantam-se quase sempre as mesmas espécies, com desenvolvimento mais rápido, em prejuízo da biodiversidade e da vegetação autóctone. As nossas cidades estão cheias de plátanos, tílias, choupos, carvalhos-americanos  ou liquidâmbares – e os dois últimos até têm uma folhagem vermelha, outonal, de grande beleza – mas faltam-lhes, explica, mais carvalhos-alvarinho, sobreiros, freixos ou lódãos, só para dar alguns exemplos. Algo que não será alheio a uma cultura urbana que nos afastou da vida no campo e dos seres que faziam parte do quotidiano dos nossos avós, admite Luís Martins. 

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