O desafio ao crescimento económico

O crescimento económico assume-se como um foco constante de preocupação por parte dos líderes mundiais, mas a fórmula mágica para atingir taxas positivas e estáveis é ainda uma incógnita

Ao longo da história, o crescimento económico foi um dos grandes motores do pensamento humano. Até ao século XVIII, vivia-se na sombra da Armadilha Malthusiana, teoria desenvolvida por Thomas Robert Malthus, segundo a qual crescimento económico durável era inconcebível, uma vez que a população cresceria a um ritmo superior aos recursos alimentares.

A Revolução Industrial veio, então, contradizer esta teoria, mostrando ser possível atingir um crescimento económico sustentado ao longo do tempo. Neste sentido, surgiram várias conjecturas acerca do papel da investigação, inovação e tecnologia no crescimento das economias. Robert Solow foi um dos pioneiros no desenvolvimento da teoria neoclássica, introduzindo o avanço tecnológico como um fator explicativo no crescimento económico, mas exógeno ao modelo.

Contudo, economistas como Kenneth Arrow and Robert Lucas compreenderam que este modelo apresentava algumas limitações, e o progresso tecnológico deveria ser entendido como um fator endógeno ao modelo, isto é, uma força interna ao sistema económico, geradora de efeitos “spillover” and “learning by doing”.

Hoje, contrariamente ao esperado, dadas as notícias bastante positivas relativas aos indicadores macroeconómicos da grande maioria das economias e zonas agregadas, a instabilidade, incerteza e conflitos mundiais aumentam, colocando um grande ponto de interrogação no futuro.

A OCDE estima que, em 2017, a economia mundial cresça, em termos reais, 3,5% fruto do grande contributo das economias emergentes (crescimento esperado de 4,2%) e à expetativa de uma política orçamental “moderadamente pró-crescimento” nas economias desenvolvidas, cujo crescimento previsto é 2%.

As economias emergentes aprensentam perspetivas animadoras: o o sul asiático deverá acelerar até aos 7,1%; a região da América Latina estima um crescimento amplamente estável de 3,1%; e a região do leste asiático e Pacífico deverá avançar a um ritmo cerca de 5% mais rápido que 2016.   

Relativamente às economias desenvolvidas: nos Estados Unidos estima-se um crescimento de 2,5%; no Japão, a expetativa é de que o crescimento atinja os 1,4%, e na Zona Euro prevê-se um crescimento médio de 1,75%.

Contudo, este panorama global parece assombrado por uma considerável lista de riscos e incertezas, a que não devemos fechar os olhos, pois estas ameaçadas podem ser como vulcões adormecidos: se não supervisionados e contidos, os efeitos serão catastróficos (como aliás já aconteceu no passado).

Para começar, as tensões geopolíticas são incontornáveis e assumem-se como um dos principais entraves ao crescimento mundial. A crise entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte escalou recentemente, gerando uma preocupação sobre futuros ataques nucleares. A guerra no Médio Oriente coloca-se também no centro da questão, com foco na colisão entre os Estados Unidos (novamente) e a Síria, que, por sua vez veio acentuar as divergências entre os EUA e a Rússia, que condena os ataques americanos e concede apoio total ao governo presidido por Bashar al-Assad.

Na Europa, o cenário também é envolto na incerteza: subsequente ao Brexit, novos países apresentaram as mesmas pretensões de saída, colocando uma dúvida imensa sobre o futuro do projeto Europeu, ao mesmo tempo que coloca em evidência o ressurgimento do protecionismo nas economias contemporâneas. As desigualdades entre os países e as que persistem dentro das fronteiras nacionais “somam” incerteza à economia europeia e mundial.

Os mercados sofrem simultaneamente, uma vez que estes são o reflexo de expetativas, e estas respondem automaticamente ao gatilho destes acontecimentos. Perante economias ainda fragilizadas e em recuperação, a crescente volatilidade financeira, a condição vulnerável da banca na zona euro, marcada por enormes desafios estruturais; e uma até então débil regulação bancária (ainda mais incentivada pela Administração Trump), a retoma económica mundial poderá ser mais lenta e fraca, sem dúvida alguma.

Surgem ainda receios pela saúde da economia Chinesa, uma das mais influentes na atualidade. Apesar de ter conseguido manter a meta governamental de um crescimento de 6,5%, a resiliência do modelo de crescimento chinês na expansão rápida de crédito, intermediada por um sistema financeiro cada vez mais fragilizado e interdependente, coloca a China na linha de perigo e faz soar o alarme mundial.

Em suma, sob o domínio de tensões financeiras e geopolíticas, onde o protecionismo e desigualdade ganham formas robustas, a recuperação económica da economia mundial está fortemente ameaçada. Olhando para o futuro, e de modo a estimular um crescimento sustentado e a estabilidade política e social, é crucial olhar para todos estes desafios, percebendo que todos eles estão interligados e se podem reforçar mutuamente. 

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

 

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