Hollywood afasta-se de Weinstein e mais vozes se levantam contra o produtor

Há mais actrizes a denunciar abusos sexuais. Depois da academia dos prémios Bafta é a Academia de Hollywood que discute o afastamento do influente produtor.

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Lea Seydoux, Emma de Caunes, Gwyneth Paltrow, Asia Argento, Ashley Judd, Cara Delevingne, Rosanna Arquette, Judith Godreche Angelina Jolie e Rose McGowan foram algumas das vítimas dos assédios e absusos do produtor LUSA/N. PROMMER / G. HORCAJUELO / S. NOGIER / A. GOMBERT / PETER FOLE

A Academia de Cinema dos EUA irá reunir-se para analisar o caso de Harvey Weinstein, fundador da produtora Weinstein Co., que tem 81 Óscares no currículo. O influente produtor foi denunciado ao longo de anos  por diversas mulheres devido a assédio e abuso sexual, foi despedido da sua própria produtora e o futuro em Hollywood parece estar em risco, incluindo para as produções cinematográficas em carteira.

Em comunicado, a academia responsável pelos Óscares do cinema considera “a conduta descrita nas alegações contra Harvey Weinstein repugnantes, abomináveis e antiéticas", salientando que "vão contra os elevados padrões que a Academia e a comunidade criativa representam”. No mesmo texto anuncia que irá reunir-se este sábado para analisar a situação. Em cima da mesa pode estar a retirada da condição de sócio da Academia de Weinstein.

Na quarta-feira, o produtor foi suspenso da lista de membros da academia britânica de cinema, que anualmente atribui, em solo europeu, os prémios Bafta aos melhores da indústria.

Apesar de Weinstein negar as acusações de que é alvo, a teia aperta-se cada vez mais. E a lista de vítimas que partilham o seu testemunho não pára de aumentar. Percebe-se também que a situação não era completamente desconhecida na indústria cinematográfica, apesar do carácter sigiloso dos acordos extrajudiciais que Weinstein fez, ao longo de anos, com mulheres que o poderiam acusar. Agora, o medo caiu e as histórias multiplicam-se.

Uma das mais recentes revelações chega da actriz francesa Léa Seydoux, 32 anos, co-protagonista do filme 007 – Spectre e protagonista do filme A Vida de Adèleque partilhou um depoimento na primeira pessoa, no jornal britânico The Guardian.

“Conheço muitos homens como Harvey Weinstein”, começa por contextualizar a actriz. “Quando conheci Harvey Weinstein não demorei a perceber como é que ele era. Estávamos num desfile de moda. Ele era charmoso, divertido, inteligente – mas muito dominador."

Ele queria encontrar-se comigo para um copo e insistiu que fosse nessa mesma noite. Isto nunca iria ser sobre trabalho. Ele tinha outras intenções – era muito claro. (...) Agiu como se estivesse a considerar-me para um papel. Mas eu sabia que era treta. Podia ver nos olhos dele. Tinha um olhar lascivo. Ele estava a usar o seu poder para conseguir sexo.

A actriz conta que se encontrou com o produtor no lobby de um hotel e que Weinstein não tirou os olhos dela, como "se fosse um pedaço de carne". 

O produtor convidou então Seydoux para subir até ao quarto do actor e aceitou o convite. "Era difícil dizer não, porque ele é muito poderoso. Todas as raparigas têm medo dele. Pouco depois, a assistente dele saiu e foi quando ele começou a perder o controlo. Estávamos a falar no sofá quando ele saltou para cima de mim e tentou beijar-me. Tive de me defender. Ele é grande e gordo, por isso tive de me esforçar para afastá-lo. Saí do quarto, nauseada. Mas não tive medo dele, porque sabia que tipo de homem ele era."

Depois desse episódio voltou a encontrar o produtor em eventos. "Trabalhamos na mesma indústria por isso é impossível evitá-lo. Já vi como ele age: ele está sempre à espera de uma oportunidade. A forma como ele trata as mulheres é uma maneira de perceber se se consegue safar.”

Também não aceita um não como resposta.

“Toda a gente sabia o que ele andava a fazer. Isso é o mais repugnante. Todos sabiam o que Harvey fazia e ninguém fez nada. É inacreditável que ele se tenha comportado desta forma durante décadas e tenha mantido a sua carreira. Isso só foi possível porque ele é muito poderoso", considera a actriz francesa.

Seydoux acusa ainda outros realizadores com quem trabalhou, sem adiantar nomes. "A primeira vez que um realizador fez um comentário inapropriado tinha eu 20 anos. Estávamos sozinhos e ele disse-me: ‘Adorava fazer sexo contigo, gostava de te foder’, escreve Léa Seydoux.

A indústria funciona com base em actrizes que sejam desejáveis. Tens de ser desejável e amada. Mas nem todos os desejos devem ser cumpridos, mesmo que os homens nesta indústria tenham essas expectativas. Eu espero que finalmente assistamos a uma mudança. Só a verdade e a justiça nos podem fazer seguir em frente.

Também a modelo e actriz Cara Delevingne, de 25 anos, denunciou um episódio em que Weinstein a tentou beijar à força. Esta terça-feira a mulher de Weinstein, Georgina Chapman, anunciou que se iria separar do marido.

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