Os estreantes, os regressados e os que ficaram em crise

Islândia e Panamá são os estreantes garantidos no torneio do próximo Verão. As ausências mais notadas são a Holanda, o Chile e os EUA.

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Robben, o "homem de cristal", retirou-se da selecção holandesa Reuters/STRINGER

Antes ainda de ter começado, o Mundial 2018 já tem muito que contar para além da selecção portuguesa, que é, para já, o único campeão continental apurado para o torneio. As histórias de superação e de crise estão nas listas dos que vão e dos que não vão estar na Rússia durante o próximo Verão. Na lista dos 23 há regressos e há estreantes, mas as ausências notáveis também são muitas e indiciam longas travessias no deserto. Também houve um enorme suspiro de alívio com a qualificação no limite da Argentina, que poderá (ou não) ter tido um empurrão sobrenatural.

Dos 23 países já qualificados, 17 estiveram há quatro anos no Brasil, incluindo o próprio Brasil, que mantém o seu registo perfeito de presenças em fases finais de Mundiais. Há quatro selecções que regressam (Egipto, Sérvia, Arábia Saudita e Polónia), sendo que são os norte-africanos aqueles que tiveram uma ausência mais prolongada — o Itália 90 foi a sua última participação, e mesmo essa foi apenas a segunda presença, depois de 1934, também em Itália.

Os sérvios são, para já, os únicos da antiga Jugoslávia a marcar presença (a Croácia ainda pode lá chegar), depois de uma única presença em 2010, enquanto polacos e sauditas já não iam a uma fase final de um Mundial desde 2006.

E para cumprir uma tradição que nunca falhou, o Mundial 2018 vai ter duas equipas estreantes (já agora, o de 2022 também tem um estreante garantido, o Qatar). No apuramento da CONCACAF, o Panamá contou com uma combinação improvável de resultados e um golo que não existiu para estar na Rússia. Não só ganhou o seu jogo com a Costa Rica por 2-1 (com o tal golo fantasma), como beneficiou da vitória de Trindade e Tobago sobre os EUA (que falharam o Mundial depois de sete presenças consecutivas).

A Islândia, por seu lado, mostrou que a sua carreira no Euro 2016 (em que chegou aos “quartos”) não foi por acaso e vai ser na Rússia o país com menor população (330 mil habitantes) a qualificar-se para um Mundial. Os nórdicos dominaram um grupo muito equilibrado (Croácia, Turquia, Ucrânia) e foram fiéis à sua identidade, uma equipa solidária e que sabe o que está a fazer em campo. Sobreviveram à saída do treinador Lars Lagerback, e superaram-se com o seu adjunto, o treinador-dentista Helmir Hallgrimsson. Sigurdsson, médio ofensivo do Everton, é uma “estrela” de primeira grandeza, e Gunnarsson é o verdadeiro capitão, que lidera a equipa em campo e comanda uma das melhores celebrações do futebol mundial, as palmas em sincronia com o público.

Holanda “vermelha”

Há três anos, no Brasil, um dos resultados mais surpreendentes da fase de grupos foi o triunfo esmagador (5-1) da Holanda sobre a Espanha e muito se falou do renascimento de uma selecção e do fim de uma era. Em 2017, essas impressões continuam, mas de lados opostos. Se a “roja” conseguiu dar a volta com Lopetegui e uma boa colheita de novos talentos (Morata, Isco, Asensio), a Holanda (que foi vice-campeão mundial em 2010 e terceira em 2016) entrou em decadência acelerada.

Depois de falhar o Euro 2016, a “laranja mecânica” também não vai ao Mundial, o que significa um adeus sem grande glória da maior “estrela” do futebol holandês da última década, Arjen Robben. Nem Danny Blind conseguiu ressuscitar a Holanda, nem Dick Advocaat, o seu sucessor após o desastre na Bulgária. E assim, a equipa que se celebrizou com Johan Cruyff, volta a falhar duas fases finais consecutivas, algo que já não acontecia desde os anos 1980.

A qualificação directa não era óbvia para a Holanda num grupo em que estava a França, mas o lugar do play-off era bem acessível. Só que os holandeses falharam pela diferença de golos — de nada valeu a vitória final com a Suécia.

Confirmada a eliminação, Robben anunciou a sua retirada da selecção, depois de 14 anos, 96 internacionalizações e 37 golos (incluindo dois na sua despedida). Com todas as suas idiossincrasias, ele ainda era uma das coisas boas do futebol holandês e o último sobrevivente de uma geração que tinha Sneijder, Van Persie e Van der Vaart e que não parece ter descendência à altura. “Já estava a pensar nisto há algum tempo. Estou muito orgulhoso do que fiz. Catorze anos é muito tempo. Mas fui eu o ‘homem de cristal’ que durou mais tempo”, resumiu Robben na despedida.

Debandada no Chile e EUA

Também no Chile se pensa em fim de ciclo. O bicampeão da América do Sul falhou o Mundial e uma das suas maiores “estrelas”, Arturo Vidal, já anunciou que não joga mais pela selecção, apesar de ter apenas 30 anos. Juan Antonio Pizzi, o seleccionador do triunfo na Copa América 2016 (Sampaoli foi o do primeiro), também já se demitiu.

Consequência semelhante teve a derrota surpreendente dos EUA (campeão da CONCACAF) em Trindade e Tobago, com a saída imediata de Bruce Arena, que fora chamado para substituir o alemão Jürgen Klinsmann. Também é o fim de linha para muitos jogadores emblemáticos, como Tim, Howard, Clint Dempsey ou Michael Bradley.

Holanda, Chile e EUA são três das sete selecções que estiveram em 2014 e que não vão estar na Rússia no próximo Verão. Ausências garantidas também neste grupo são ainda Argélia, Camarões (campeão africano), Gana e Bósnia, enquanto Austrália (campeão asiático), Costa do Marfim, Honduras, Grécia, Suíça e Itália ainda não têm lugar certo.

A Argentina esteve quase a juntar-se ao grupo dos ausentes, mas Lionel Messi foi decisivo frente ao Equador como poucas vezes costuma ser na selecção e deixou o país de Maradona a respirar melhor. Há quem diga que a federação argentina contratou um bruxo para ajudar à causa, mas Messi foi toda a magia que precisaram.

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