Que destino para o planeta azul?, pergunta o Fórum do Futuro

Quarta edição do programa da Câmara Municipal do Porto tem por tema Terra Eléctrica. Vai decorrer de 5 a 11 de Novembro em vários palcos da cidade.

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Rita Franca

“Estaremos perto da extinção?” A questão poderá parecer extrema, ou talvez não. O que é certo é que ela irá atravessar as 26 sessões que fazem a quarta edição do Fórum do Futuro, iniciativa do pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto que de 5 a 11 de Novembro irradiará a partir do Teatro Municipal Rivoli para outros “palcos” da cidade.

O tema genérico da edição deste ano é Terra Eléctricadepois da Ligação (2016), da Felicidade (2015) e de uma edição inaugural genérica em 2014 com que o então vereador da Cultura do município, Paulo Cunha e Silva (1962-2015), lançou o que ambiciosamente apresentou como uma espécie de “Fórum Davos do Pensamento”.

O desaparecimento do vereador não retirou ambição ao projecto, e na apresentação, esta quarta-feira, do programa deste ano, Rui Moreira enumerou a presença de 32 convidados internacionais, de 13 países, a acrescentar-se a 14 nacionais, que irão preencher um número de sessões aumentado em relação à edição anterior, e que serão também acompanhadas por jornalistas internacionais convidados.

“O tema da Terra, e da dita era do Antropoceno, talvez seja mesmo o grande tema dos nossos dias”, disse o presidente da Câmara do Porto, sintetizando um programa que vai reunir académicos e artistas a debater e encenar as grandes questões da ciência e da arte contemporânea.

Mas do programa propriamente dito falou o seu assessor para a Cultura, Guilherme Blanc, que justificou a escolha do mote Terra Eléctrica para “explorar as várias possibilidades de reflexão crítica sobre o impacto da acção humana na natureza”. E as cidades são o lugar onde esse impacto mais se faz sentir, como se perceberá na intervenção que irá abrir o fórum, do sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett, interpelado pelo cineasta galês Gareth Evans (Rivoli, dia 5). A caminho da cidade aberta é o título da conferência de Sennett, professor da London School of Economics e da Universidade de Nova Iorque, que irá debater o desenvolvimento sustentável, a Carta de Atenas e as concepções corbusianas de cidade, nomeadamente no confronto com as alterações climáticas, o “big data” e a informalidade.

Uma performance da holandesa Alexandra Duvekot e da sua The Plant Orchestra sobre “o estado de espírito” das plantas, e um concerto dos britânicos Psychic TV, de Genesis P-Orridge, completam a agenda do primeiro dia.

Na segunda jornada, o arquitecto japonês Sou Fujimoto irá falar das cidades actuais na sua relação com a paisagem; e a bióloga americana Elizabeth Hadley irá conversar com António Sobrinho Simões sobre como – aí está – a espécie humana estará condenada à extinção se não mudar drasticamente de rumo.

Ao terceiro dia, o fórum sai do Rivoli para chegar à Casa da Música e ao Coliseu. No primeiro espaço, reúnem-se Karsten Witt, ex-presidente da Deutsche Grammophon e ex-director do Konzerthaus de Viena, Louwrens Langevoort, director da Filarmonia de Colónia, e Simon Reinink, responsável do Concertgebouw de Amesterdão, em volta do tema Música eléctrica. António Jorge Pacheco, director da Casa da Música, explicou que estas “três figuras cimeiras da vida musical europeia” irão debater o modo como “a electricidade – e nomeadamente a invenção da guitarra eléctrica – veio alterar a nossa relação com a música”.

Já no Coliseu, a designer e música Nelly Bem Hayoun – “que já levou uma orquestra ao espaço com a NASA”, lembrou Guilherme Blanc – vai apresentar a sua visão optimista de que a condição humana pode prevalecer sobre a tecnologia. O mesmo tema estará no centro da intervenção do duo de artistas Hito Steyerl + Trevor Paglen a fechar esse dia, de novo no Rivoli.

O Museu de Serralves é outra instituição já ligada à história do Fórum do Futuro, e este ano convidou o artista argentino Tomás Sareceno, que – explicou João Ribas, director adjunto do museu – também trabalhou com a NASA e desenvolve a sua acção “no e além do planeta Terra”, criando instalações interactivas que associam a arte, a ciência e a consciência ambiental.

No mesmo dia 8, Francis Kéré, do Burkina Faso, autor do pavilhão efémero deste ano na Serpentine Gallery, em Londres, e “talvez o arquitecto africano mais conhecido da actualidade”, disse Blanc, vem falar de como, entendendo a arquitectura como acto social, é possível fazer “mais com menos”.

Nessa quarta-feira, abre-se a primeira de três noites Club Ecosex, uma instalação-performance dos artistas australianos Pony Express no piso 5 do Rivoli, onde se poderão “libertar os desejos ecológicos mais profundos e secretos”, explicou o assessor da Cultura.

A economia e a condição da mulher no Golfo Pérsico é o tema da intervenção da artista qatari Sophia Al-Maria, a marcar a entrada da Faculdade de Belas Artes no fórum (dia 9). As concepções de género e o lugar antropocénico, no olhar de Denise Ferreira da Silva, filósofa brasileira, e de Ursula Biemann, artista suíça, serão debatidos no Mosteiro de São Bento da Vitória.

Ainda nessa quinta-feira, o cientista norte-americano David Shoemaker, porta-voz do projecto LIGO, recém-premiado com o Nobel da Física, vem falar das ondas gravitacionais percepcionadas há mais de um século por Albert Einstein.

Este ano, a mala voadora participa no fórum com Vânia Rodrigues a interpelar Les U. Kinght, líder do Human Voluntary Extinction Movement, que a gestora daquela companhia apresentou como “um activista” que propõe o fim da procriação. “Les não é misantropo, nem moralista, nem pessimista”, acrescentou, lembrando que se trata de um apelo à salvação do equilíbrio do planeta.

Os britânicos Timothy Morton, autor do livro Dark Ecology (2016), e Ben Rivers, realizador de Two Years at Sea (2011) e de Urth (2016), encontram-se no dia 10 para visualizarem o destino do planeta após a extinção da humanidade.

Para o último dia, depois de o filósofo holandês Koert van Mensvoort explicar “como a tecnologia se transforma em natureza", José Pacheco Pereira dialogará na sessão de encerramento com o escritor e psicólogo americano Steven Pinker sobre o Passado, presente e futuro da violência. Defendendo o professor de Harvard – considerado pela Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo actual – que actualmente vivemos num mundo menos violento do que outrora.

O optimismo possível num mundo, e num planeta, em mutação acelerada rumo a um destino incerto? “Esta é uma vasta conferência sobre clima, violência, sexualidade, tecnologia e extinção”, sintetizou Guilherme Blanc.

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