Problemas com navios lançam "caos" nos transportes do Tejo

No Barreiro, a Soflusa está a operar com barcos a menos, o que está a provocar o “caos”, diz o sindicato que representa os trabalhadores da empresa. Mas as críticas chegam também do Seixal onde a autarquia reclama por mais carreiras.

Foto
A Soflusa só vai ter quatro navios disponíveis para toda a operação esta semana Enric Vives-Rubio

Esta semana não vai ser fácil para as pessoas que diariamente têm de atravessar o Tejo de barco. A Soflusa, empresa que garante as ligações entre o Barreiro e a Praça do Comércio, só tem quatro navios disponíveis e já esta segunda de manhã viu-se obrigada a cancelar oito carreiras. Mas também no Seixal se avolumam as queixas relativas ao transporte fluvial.

“Apesar de a empresa estar a desenvolver todos os esforços para repor a normalidade das carreiras, poderá continuar a verificar-se alguma diminuição de carreiras”, disse uma fonte da Soflusa à agência Lusa. Na sexta-feira, a empresa emitiu um comunicado alertando que não seria possível “assegurar a totalidade das carreiras” esta semana, uma vez que o navio Damião de Góis ainda não regressou do estaleiro onde está a ser reparado.

De acordo com a empresa de transporte fluvial, não se realizaram as carreiras que partiam do Barreiro às 7h15, 7h35, 8h05 e 8h15. No sentido contrário, de Lisboa para o Barreiro, a Soflusa não conseguiu realizar os trajectos das 7h40, 8h, 8h30 e 8h40.

"A partir de amanhã o caos vai ser maior do que nunca", denuncia o Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante (STFCMM), que representa os trabalhadores da Soflusa, num comunicado duro. “Agora nem sabemos as horas de partida, quanto mais as de chegada. Nós, os trabalhadores, sentimos uma crescente revolta com toda esta situação que nos aflige – não só aos passageiros, como a nós próprios”, lê-se no documento.

Também na Transtejo, que assegura as restantes ligações fluviais de Lisboa (Cacilhas, Seixal, Trafaria e Montijo), autarcas e utentes mostram descontentamento com o serviço. Na segunda de manhã, enquanto no Barreiro eram suprimidas carreiras, o presidente da Câmara Municipal do Seixal apanhava um barco em direcção ao Cais do Sodré. “Esta é uma situação insustentável, que prejudica diariamente a população, que paga um serviço do qual não usufrui”, criticou Joaquim Santos, que fez a viagem na companhia de muitos utentes.

Durante a travessia, o autarca lamentou que o "desinvestimento da empresa na manutenção e reforço da frota", que provocou a supressão de 16 carreiras desde 2011, continue a acentuar-se.

Em comunicado, a autarquia nota que as travessias fluviais assumem "um papel de extrema importância na mobilidade das populações", já que garantem o transporte de 5573 passageiros diários no Seixal. Este número, acredita o município, poderia ser maior "se a oferta do número de carreiras fosse também superior", reclamando por isso mais investimento nas frotas e a criação de "novas carreiras que possam ligar os concelhos ribeirinhos do Seixal, Almada, Barreiro e Montijo".

Actualmente, segundo os horários disponíveis no site da Transtejo, entre as 7h e as 9h existem três carreiras, por hora, para cada sentido. Às 9h passam a ser duas e, a partir das 10h até às 15h, apenas uma. “Apesar das várias reuniões e reivindicações da autarquia, até ao momento nada foi feito”, lamentou Joaquim Santos na viagem.

Com base nos números apresentados no Plano de Mobilidade e Transportes Intermunicipal, celebrado em Maio entre os municípios do Barreiro, Moita, Palmela, Seixal e Sesimbra, o transporte fluvial de Lisboa está em "quarto lugar no mundo em termos de volume de passageiros médio diário de sistemas fluviais metropolitanos, com o total de 74.236 passageiros por dia, só superado por Istambul (150 mil passageiros), Rio de Janeiro (106 mil passageiros) e Nova Iorque (75 mil passageiros)", assinala a autarquia seixalense. 

A meio de Setembro, em resposta a perguntas do PCP, o ministro do Ambiente garantiu que “as empresas Transtejo e Soflusa irão terminar 2017 com 18 a 20 barcos disponíveis”, o que é fruto de “um forte reforço orçamental” promovido pelo Governo. Este ano, assegura o gabinete de João Pedro Matos Fernandes, ambas as empresas receberam 10 milhões de euros para a “manutenção das respectivas frotas”.

“Dada a idade da frota e a intensidade de utilização, os índices de avarias são muito elevados”, continua a resposta do ministro, que afirma que “está a ser estudado um plano de renovação da frota”, embora não indique datas nem o volume de investimento previsto. Com Cristiana Faria Moreira e Lusa

Sugerir correcção
Comentar