Sintra Press Photo

A lei do mais forte prevalece nas favelas de Nairobi

Vista geral sobre a favela Mathare, na capital do Quénia
Fotogaleria
Vista geral sobre a favela Mathare, na capital do Quénia

São feitas de madeira, papelão e chapa as habitações irregulares que compõem as favelas que circundam a cidade de Nairobi, a capital do Quénia; nelas vivem cerca de dois milhões de pessoas que lutam diariamente pela sobrevivência. "São bairros densamente povoados que fervilham e explodem de energia", descreve o fotojornalista Siegfried Modola no artigo que acompanha o projecto A Struggle With Poverty and Crime in Nairobi's Shantytowns, realizado em 2015 para a agência Reuters. "Os níveis de crime e desemprego são altos e os serviços básicos são escassos", narra o autor. A prostituição, o roubo e o tráfico de droga imperam. O consumo de drogas — legais e ilegais, leves e pesadas — assume proporções pandémicas. O alcoolismo é um problema comum e afecta sobretudo indivíduos de idade inferior aos 30 anos. "Existe uma infusão ilegal, chamada Chang'aa, que é preparada sob fogo em barris de petróleo na favela de Mathare", relata Modola. A bebida é conhecida por incluir na sua composição gasolina, ácido de bateria ou químicos de embalsamamento. Os casos de envenenamento são frequentes, motivo por que a sua venda foi proibida pelas autoridades quenianas.

 

Apesar da elevada criminalidade registada em Nairobi, a repressão policial é considerada brutal e é amplamente criticada pela população, de acordo com declarações do fotógrafo italo-britânico. "Muitos quenianos queixam-se da forma como a polícia lida com as pessoas. Um homem explicou-me que o seu filho de 20 anos foi morto durante uma operação policial no ano passado." O governo incentiva os quenianos a denunciar situações de abuso de autoridade, agentes corruptos ou violentos, mas a maioria dos civis opta pelo silêncio, por receio de represálias. As mortes em idade jovem são comuns nas favelas. "Alice, de 20 anos, diz que o seu parceiro foi morto num tiroteio, há cinco anos. Hoje, para se sustentar a si e ao seu filho recém-nascido realiza trabalho sexual." Claire, de 17 anos, contou ao fotógrafo que se prostitui desde os 14 anos de idade.

 

A Struggle With Poverty and Crime in Nairobi's Shantytowns estará patente na terceira edição da exposição anual de fotojornalismo Sintra Press Photo de 14 de Outubro a 5 de Novembro, no MU.SA (Museu das Artes de Sintra). No local estarão também expostos os trabalhos dos fotojornalistas João Pina e André Liohn, cujo trabalho foi recentemente publicado no P3.

Agente da polícia comunica com um homem civil, numa rua de Korogocho, durante uma patrulha nocturna em Nairobi
Polícia aponta AK-47 a um suspeito a partir do interior de uma carrinha não identificada
Homem alcoolizado foi retirado de veículo em movimento pela polícia, o que lhe causou ferimentos ligeiros
A actuação das forças policiais é amplamente criticada pela população queniana
Homem destila bebida chamada Chang'aa em Mathare, Nairobi
O consumo de heroína é comum entre as camadas mais desfavorecidas da sociedade de Nairobi
Homens socializam num bar local em Majengo, Nairobi. O desemprego é um problema crónico no Quénia
George Kiru, 36, bebe num bar de Kariobangi, Nairobi.
Familiares choram a morte de Jackson Mutisya Mula, 28, alegadamente provocada por um agente da polícia à paisana
Homem é algemado durante um
Homem foi esfaqueado por gangue local, que o acusou de ser um informador da polícia
Jovem rapaz, que pertence a um gangue local, posa para a fotografia envergando uma arma de fogo
Rapaz reza na Igreja da Legião de Maria durante uma missa dominical nas favelas de Korogocho, Nairobi
O companheiro de Alice (à esq.), de 20 anos, foi assassinado; Claire tem 17 anos e prostitui-se desde os 14
Homem observa Korogocho, em Nairobi, Quénia, onde 2 milhões de pessoas vivem em bairros de lata