Messi e companhia entre o céu e o inferno de Quito

Argentina joga última cartada a 2.850 metros de altitude, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de confirmar a 17.ª presença numa fase final de um Campeonato do Mundo.

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Numa comprometedora, se não mesmo humilhante, sexta posição na louca corrida sul-americana para o Rússia2018, a Argentina enfrenta a última possibilidade de tocar o céu em Quito, no Equador, apesar do inenarrável flashback que ameaça destruir o sonho de Messi poder comparar-se ao Deus Maradona.

Dois anos e dezoito jogos depois de iniciada uma das caminhadas mais atribuladas da selecção celeste – com três seleccionadores: Tata Martino, Edgardo Bauza e Jorge Sampaoli – o planeta aguarda com ansiedade o desfecho de uma história que começou torta.

Caso vença o carrasco da estreia nesta fase de qualificação, agora em terreno adverso, a quase três mil metros de altitude (2.850m), a Argentina sabe que para além de garantir automaticamente a presença no playoff (o que sucederia pela segunda vez, após repescagem de 1994), tem até a possibilidade de alcançar o apuramento directo. No fundo, seria uma espécie de repetição da história de sofrimento de há quase 10 anos, quando chegou a custo à África do Sul (2010).

No limite, um empate ainda poderia adiar tudo para Novembro, num playoff com a Nova Zelândia (dias 8 e 15). Mas o risco seria enorme, pois o Peru (5.º) teria que perder na recepção à Colômbia (6.ª) e o Paraguai não podia vencer a Venezuela (já arredada), em Assunção.

Uma vitória poderia até dissipar todas as dúvidas, ainda que obrigasse os argentinos a torcerem por um triunfo do Brasil frente ao Chile, em São Paulo... um mal menor, apesar de tudo.

Na verdade, o quadro de qualificação sul-americano tem traços de surrealismo, com o Uruguai (segundo classificado) à espera da confirmação de um apuramento anunciado. Tirando o Brasil e os três últimos (Equador, Bolívia e Venezuela), ninguém tem garantias de qualquer ordem quanto à presença na Rússia.

A Argentina, cujo trajecto errante ficou marcado por uma derrota com este mesmo Equador, em Mendonza, no "Malvinas Argentinas", procura explicações para o descalabro, mesmo ciente de que Lionel Messi só pôde ajudar depois das quatro primeiras rondas, cujo saldo (uma vitória, uma derrota e dois empates) resulta elucidativo.

O joelho e as dúvidas existenciais de Messi depois de duas finais da Copa América perdidas para o Chile, em dois anos seguidos, minaram a confiança e traíram as expectativas. A histeria espoletada pelo castigo de quatro jogos à Pulga pode ter sido a machadada final. Para a Argentina, apesar de Messi só ter cumprido um jogo de suspensão (derrota por 2-0, na Bolívia), a realidade parece superar a ficção e nem o regresso do messias consegue evitar uma ponta final desastrosa, sublimada por quatro jogos sem um único golo celeste (o empate caseiro com a Venezuela surgiu na sequência de um autogolo da selecção vinotinto), o que pode riscar a Argentina bicampeã (1978 e 1986) do mapa-mundo do futebol, como no México1970, até agora a última falta de comparência celeste depois do França1938, Brasil1950 e Suíça1954.

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