Número de alunos cresce há quatro anos nas universidades privadas

Nunca, em mais de duas décadas, tinha havido um período tão prolongado de aumento do número de alunos que entram no 1.º ano. Subida da procura é, em média, de 8,5%.

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Paulo Pimenta

As universidades privadas voltam a acompanhar a tendência do ensino público e aumentaram o número de novos alunos inscritos no 1.º ano das suas licenciaturas para o novo ano lectivo. As informações recolhidas pelo PÚBLICO junto das instituições particulares de ensino superior apontam para um crescimento na ordem dos 8,5%. É o quarto ano consecutivo em que sobe o total de entradas de estudantes neste sector, o que nunca tinha acontecido em duas décadas.

A projecção feita com base nos dados fornecidos pelas instituições de ensino superior aponta para cerca de 20.600 novas entradas neste ano, estimativa a que se chega quando se aplica a taxa de 8,5% ao número de entradas registadas no ano passado (18.992). Caso o valor se confirme será o mais elevado no sector desde 2011/12. No entanto, as características do sistema de ensino privado, onde convivem realidades bem distintas, aconselham prudência nesta leitura.

Há um ano, um balanço da procura semelhante ao que agora se publica, a informação disponibilizada por 14 instituições – onde se incluíam sobretudo as universidades de maior dimensão – apontava  para um crescimento do número de novos alunos de 7%. Mas os números oficiais, revelados apenas na semana passada, mostram que o crescimento global dos alunos no 1.º ano dos cursos privados foi bastante inferior: 0,5%. Esta discrepância pode ser explicada pelo comportamento das universidades mais pequenas - que não foram então contactadas pelo PÚBLICO -  que tiveram um crescimento marginal e em alguns casos perderam alunos. Desta feita, o PÚBLICO recolheu os dados de 21 universidades privadas. Em todo o país existem mais de 50.

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Lusófona é a que mais cresce

De entre as instituições que divulgaram as respectivas informações, o maior crescimento é o verificado na Universidade Lusófona do Porto, onde entraram quase 1000 novos alunos, o que significa mais 38% do que no ano anterior. Na outra universidade do grupo, com sede em Lisboa, o aumento do número de novos estudantes fixou-se em 24%.

Manuel José Damásio, administrador da Lusófona, não quer, porém, valorizar o facto de a universidade ser a que mais cresce dentro do sector privado, preferindo destacar o “crescimento global do sistema”. “É um fenómeno sistémico. Quanto muito, há diferenças dentro do país: o eixo litoral tem mais procura do que o interior, mas não mais do que isso”, avalia.

O administrador da Universidade Lusófona sublinha ainda o facto de o aumento da procura do sector particular estar em linha com o que tem acontecido no concurso nacional de acesso ao ensino superior público. No ensino público, entraram este ano 44.923 estudantes na 1.ª fase do concurso nacional de acesso, o que significa mais 4,5% do que no ano anterior.

Para Damásio, este aumento da procura do ensino superior deve-se ao aumento do número de estudantes em condições para entrar no ensino superior, em consequência, por um lado, da diminuição do abandono no ensino secundário e, por outro, de um aumento do número global de estudantes face ao alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos.

Além da Lusófona, há outras instituições com taxas de crescimento elevadas, como o Instituto Superior de Gestão (mais 30%) e a Universidade Portucalense, que aumenta o número de novos alunos em 25% face ao ano anterior. Globalmente, o aumento do número de novos alunos no ensino superior privado cifra-se nos 8,5%, devido ao que acontece nas instituições de ensino superior mais pequenas, que revelam um crescimento mais modesto ou até marginal.

No entanto, em todas as instituições de ensino superior privado que responderam às perguntas do PÚBLICO verificou-se um aumento do número de novos alunos neste ano lectivo.

Ao contrário do que acontece no ensino superior público, em que a generalidade dos novos alunos é colocada por meio de um concurso nacional que dá acesso a todas as universidades e politécnicos, as candidaturas a um curso superior no sector privado são feitas directamente junto de cada uma das instituições de ensino. Por esse motivo, não existem dados centralizados no Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sobre os recém-chegados às instituições privadas. O PÚBLICO recolheu os números relativos às entradas de novos alunos no ano lectivo 2017/18 junto das instituições, tendo obtido respostas de 21.

Cursos de Gestão são os mais procurados

As informações pedidas pelo PÚBLICO às instituições privadas de ensino superior incluíam também as áreas de formação mais procuradas pelos seus novos alunos. Os resultados não são muito surpreendentes e estão em linha com o que vem acontecendo nos últimos anos e também com aquelas que são as áreas de maior oferta no sector particular. Os cursos de Gestão são os mais procurados pelos estudantes, estando no topo das preferências em dez das instituições contactadas. Seguem-se o sector da Saúde – numa contabilidade em que se incluem cursos como Enfermagem, Fisioterapia, Medicina Dentária ou Ciências Farmacêuticas – e Direito, uma área com tradição entre as maiores universidades privadas.

Os dados agora conhecidos permitem antecipar que 2017/18 será o quarto ano lectivo consecutivo em que o número de alunos no 1.º ano aumenta, algo que nunca tinha acontecido desde 1995/96. Essa é a data do início da série do Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino Superior, publicado na semana passada pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).

As estatísticas oficiais mostram que a entrada de novos alunos no ensino superior privado sofreu uma travagem brusca em 2011. Nos três anos lectivos seguintes, o número de novos alunos que entram nas universidades particulares baixou 43%. Em 2013/14 entraram apenas 16.257 “caloiros” nas privadas.

É essa quebra do número de entradas de novos alunos – que já se tinha verificado de forma intermitente desde o início do século – que justifica a diminuição de mais de 40% no número de diplomados no ensino superior privado ao longo da última década, que era sublinhada num outro relatório da DGEEC publicado no mês passado.

A partir de 2013/14, o ciclo inverteu-se, com uma ligeira recuperação (mais 4,2% de novos alunos) no ano lectivo seguinte e um crescimento acelerado em 2015/2016, quando entraram nas universidades privadas 18892 estudantes, mais 11,6% do que no ano anterior. A tendência positiva manteve-se no ano seguinte, ainda que o crescimento tenha sido marginal (0,5%). Só dentro de três a quatro anos estes números terão reflexo no total de diplomados do ensino superior privado.

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