Encontro de Santana com Marcelo sinaliza tiro de partida da candidatura

Os primeiros minutos do Conselho Nacional do partido ficaram marcados por um alerta da revista Sábado, dando como certo o avanço de Pedro Santana Lopes.

Foto
Marcelo e Santana em 2015 no 41º aniversário do PSD Nuno Ferreira Santos

Pedro Santana Lopes, candidato ainda não oficial à liderança dos sociais-democratas, deu esta segunda-feira mais um passo nessa direcção ao almoçar com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém. Embora ainda não tenha revelado a sua decisão final sobre uma eventual candidatura à presidência do PSD e o Presidente da República tenha declarado que o encontro foi sobre "o papel da Misericórdia no sistema económico e financeiro português", o círculo mais próximo do antigo primeiro-ministro leu o almoço com Marcelo como o sinal que Santana quis dar de que a sua candidatura é real.

Na Academia das Ciências de Lisboa, o Presidente da República referiu que o encontro com o antigo primeiro-ministro estava previsto "há cerca de um mês" e que não viu razão para o cancelar. "Falámos do sistema financeiro português", acrescentou,

Além do almoço em Belém, Santana prosseguiu com a sua maratona de contactos com estruturas e autarcas do partido, fazendo engrossar a lista de apoios. O PÚBLICO sabe que o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) já abordou um antigo membro dos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes para director de campanha e terá feito outros convites a pessoas de sua confiança para a sua máquina.

Ao fim da tarde, o Expresso avançou também que outro obstáculo para uma candidatura - a situação na Santa Casa - já foi superado. "Santana já conversou com António Costa e com o ministro Vieira da Silva, por causa da sua situação na Santa Casa", escreveu o jornal, avançando que nem o primeiro-ministro nem o ministro da Solidariedade e Segurança Social levantaram dificuldades, reconhecendo a Santana o “direito cívico” de participar na vida partidária e política. "Mas não ficou fechado o que acontecerá em relação ao mandato que Santana ainda está a cumprir na SCML - os estatutos não prevêem a figura da suspensão, apenas a renúncia", lia-se no Expresso.

O anúncio da decisão de se candidatar pode acontecer já esta terça-feira, no pós-Conselho Nacional, antecipando-se a Rui Rio, mas a formalização da candidatura só deverá ocorrer na quinta-feira. Santana inclina-se para formalizar a sua candidatura numa cidade que tem para si um grande simbolismo: Figueira da Foz, a cuja câmara presidiu. O ex-presidente da Câmara do Porto, anuncia a sua candidatura na quarta-feira ao fim da tarde, em Aveiro.

Na geografia dos apoios, o provedor da SCML vai somando contributos, mas há muitas distritais que estão divididas e há concelhias que valem mais do que algumas distritais.

Salvador Malheiros, que preside ao PSD de Aveiro, já veio declarar o apoio a Rui Rio. Mas isso não significa que todas das concelhias estejam com ele. Vagos e Arouca — duas das cinco grandes concelhias do distrito - não estão com o ex-autarca do Porto e esse cenário, segundo fontes do partido, acontece noutras distritais, como Porto, Braga, Viana do Castelo ou Viseu.

Acresce que o presidente da Câmara de Aveiro vai falhar a apresentação de Rio. Nesse dia, Ribau Esteves recebe o comissário europeu Carlos Moedas que faz uma visita oficial ao concelho. Na corrida das directas, Carlos Moedas já foi indicado como estando ao lado do provedor da Santa Casa.

No Conselho Nacional da terça-feira passada, no rescaldo das eleições que penalizaram muito o partido, houve quem criticasse Rui Rio, acusando-o de “ter sido o responsável pela derrota do PSD no Porto há quatro anos ao apoiar Rui Moreira, em detrimento de Luís Filipe Menezes”.

Líderes das distritais de Aveiro, Guarda e Leiria com Rio

O antigo primeiro-ministro conta com o apoio incondicional do deputado e presidente da distrital de Castelo Branco, Manuel Frexes. “Existe um consenso muito alargado de apoio de militantes muito destacados da distrital, de presidentes de câmara e de dirigentes a Santana Lopes.

“O PSD diz-lhe muito”, acrescenta o deputado, reconhecendo que o combate é difícil e que “nunca se pode subestimar o adversário, embora ele tenha um perfil de liderança único”. No distrito de Lisboa, o antigo presidente da câmara conta com forte apoio no distrito.

No extremo oposto, o ex-autarca do Porto tem ao seu lado não só o líder da distrital de Aveiro como o de Leiria e obteve na segunda-feira o apoio público da estrutura da Guarda. Carlos Peixoto, líder da distrital da Guarda, expressou o seu apoio a Rio, depois de reunir a comissão política, na qual a decisão foi “consensual”. A posição foi assumida mesmo antes de ser conhecida a decisão final de Santana Lopes. "Venha quem vier, a distrital da Guarda apoia o doutor Rui Rio. E fá-lo porque nós já conhecemos muito daquilo que ele se propõe fazer no país, se for primeiro-ministro e no partido enquanto líder da oposição, se vier a ganhar a liderança do partido", afirmou o dirigente e deputado.

Em Leiria, confirma-se o apoio do líder da distrital que há muito tempo mostrou estar próximo de Rio. “A minha decisão pessoal é apoiar a candidatura do dr. Rui Rio”, afirmou ao PÚBLICO Rui Rocha. Apesar de a distrital ainda não ter reunido para tomar uma posição sobre o assunto – até porque Rui Rio só apresenta a candidatura na quarta-feira – Rui Rocha refere que “na auscultação” que tem feito junto das concelhias “a maioria das pessoas apoia” o ex-autarca do Porto. O apoio de Leiria não é surpresa: um dos elementos-chave da candidatura de Rio é Feliciano Barreiras Duarte, eleito deputado por Leiria e onde preside à assembleia distrital.

Datas das eleições a votos

A notícia de que Pedro Santana Lopes entrará na corrida pela liderança do PSD marcou os primeiros minutos do conselho nacional de segunda-feira à noite. Ainda os trabalhos mal se tinham iniciado quando um alerta da revista Sábado deu o avanço como certo. Lá dentro, porém, o objectivo estava traçado: escolher entre as duas datas propostas pela Comissão Política Nacional, o melhor dia para realizar as directas do partido.

As duas opções de calendário interno para a realização das eleições directas eram os dias 9 de Dezembro e 13 de Janeiro. Se as directas forem a 9 de Dezembro, a direcção do PSD propõe que o Congresso se realize a 12, 13 e 14 de Janeiro (em Lisboa). Caso os conselheiros nacionais optem por directas a 13 de Janeiro, o Congresso ficaria marcado para 16, 17 e 18 de Fevereiro (em Lisboa).

A informação foi avançada à Lusa por fonte oficial social-democrata, que justificou a apresentação de duas opções pela Comissão Política Nacional como uma forma de dar ao Conselho Nacional — órgão máximo do partido entre Congressos — a possibilidade de escolha.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários