Na ginástica, as notas vão passar a depender do computador

A Federação Internacional de Ginástica começou a testar uma tecnologia que visa evitar a subjectividade humana na avaliação dos juízes

Ginasta nos Mundiais de ginástica artística
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Ginasta nos Mundiais de ginástica artística LUSA/ANDRE PICHETTE
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Ginasta nos Mundiais de ginástica artística LUSA/ANDRE PICHETTE
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Ginasta nos Mundiais de ginástica artística Reuters/Jean-Yves Ahern
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Ginasta nos Mundiais de ginástica artística LUSA/CJ GUNTHER

Pode a actuação de um ginasta ser avaliada por um computador em vez de um ser humano? A resposta é sim e esse será o futuro da modalidade. O futuro ou o presente, uma vez que uma tecnologia para esse efeito já está a ser testada e ao mais alto nível.

Desde 2016 que a Fujitsu, empresa ligada ao sector tecnológico, e a Federação Japonesa de Ginástica têm trabalhado em conjunto para montarem um sistema de avaliação computorizado que ajude os juízes nas notas atribuídas aos ginastas. E foi com base nos resultados obtidos que a Federação Internacional de Ginástica (FIG) aceitou avançar com testes, de forma a que a tecnologia seja plenamente adoptada num futuro muito próximo.

Actualmente, a nota final de um ginasta é composta pela nota técnica (ou de dificuldade) e a nota artística (ou de execução). No primeiro caso, trata-se de uma nota objectiva, que tem a ver com o valor dos elementos executados - já é possível recorrer ao vídeo em caso de dúvidas e para protestos dos técnicos. No segundo caso, a avaliação é subjectiva e indica o grau de qualidade na execução dos movimentos.

A ideia com esta nova tecnologia é oferecer aos juízes um sistema computorizado que os ajude a arbitrar e lhes permita tomar decisões mais correctas e rápidas, tornando as notas que atribuem mais justas, em princípio apenas na componente técnica da nota.

Na prática, o que está em causa é uma tecnologia que, captando os movimentos dos ginastas através de um sensor laser 3D durante um determinado exercício, transpõe esses movimentos para dados numéricos, permitindo uma avaliação mais rigorosa e imune ao factor ou erro humano, seja ele motivado pelo cansaço, subjectividade ou desatenção dos juízes.

É que se a componente artística não pode ser avaliada pelo computador, já o mesmo não se aplica à componente técnica. A tecnologia que está a ser ensaiada identifica as articulações dos atletas (tornozelos, joelhos, zona da cintura, ombros) e mede ângulos, distâncias, amplitudes… tudo em tempo real. Assim, se um determinado elemento implica o posicionamento do corpo do ginasta num ângulo de 90 graus, por exemplo, o computador pode identificar cada desvio desse posicionamento.

O revolucionário sistema foi apresentado, publicamente, em Montreal, cidade canadiana onde, entre os dias 2 e 8 de Outubro, se disputou o último Campeonato do Mundo de ginástica artística, competição na qual a tecnologia já foi testada. E os ensaios continuarão na próxima edição da prova, em 2018, no Mundial que se realizará em Doha, primeira etapa no apuramento para os Jogos Olímpicos de 2020.

Apesar do inegável entusiasmo com que a Federação Internacional de Ginástica está a encarar esta inovação, o organismo que tutela a modalidade a nível mundial foi rápido a tranquilizar os juízes, que temem vir a tornar-se “dispensáveis”, dizendo que o novo sistema não os irá substituir. Morinari Watanabe, presidente da FIG, insistiu antes na ideia de que se está perante um auxílio à arbitragem.

Em sua defesa, Watanabe diz que sua prioridade como presidente da FIG é o atleta e a atribuição de uma nota tão precisa quanto possível. E, na sua opinião, este sistema vai nessa direcção. Para já, a intenção da FIG é que esta tecnologia seja utilizada apenas para analisar queixas de ginastas quanto às notas que lhe foram atribuídas.

Outro grande defensor desta experiência é Bruno Grandi, ex-presidente da FIG. “Às vezes, o juiz não consegue avaliar bem por causa do ângulo de visão. E é impossível manter o critério de avaliação do começo ao fim [de uma prova]. Apenas o computador pode fazer isso”, disse.

A Fujitsu espera que a tecnologia possa ser também utilizada por atletas, nomeadamente durante os treinos, dando-lhes informações sobre a forma como eles fizeram os vários exercícios. Assim, poderão saber quais são as suas fraquezas e onde têm que trabalhar para melhorar seu desempenho.

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