Sete noites, sete bons filmes (portugueses)

A partir de terça-feira, sete documentários de produção nacional a que o TVCine dá horário nobre ao ritmo de um para semana, numa iniciativa tanto mais importante quanto alguns destes filmes estão muito longe de ser material de horário nobre.

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"Ama-san", retrato impressionista que Cláudia Varejão foi filmar junto das mergulhadoras japonesas e com o qual venceu o Doclisboa em 2016
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"Eldorado XXI", que Salomé Lamas foi rodar aos ermos peruanos de La Rinconada y Cerro Lunar (vencedor do Porto/Post/Doc 2016)
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"Saca – O Filme de Tiago Pires" , onde Júlio Adler desenha o percurso de uma das maiores figuras do surf em Portugal

É uma das questões com que nós, aqueles que gostamos de cinema, nos andamos a debater há tanto tempo: se o Doclisboa congrega anualmente 25 mil espectadores e o IndieLisboa 30 mil, porque é que os filmes que eles exibem raramente chegam às salas ou, quando o chegam, passam despercebidos dos espectadores?

Há, felizmente, excepções a essa regra, e duas delas vão estar no Especial Documentários Portugueses que o canal pago de cabo TVCine 2 apresenta a partir da próxima terça, dia 10: Ama-san (2016), o maravilhoso retrato impressionista que Cláudia Varejão foi filmar junto das mergulhadoras japonesas e com o qual venceu o Doclisboa em 2016, e A Toca do Lobo (2015), onde Catarina Mourão pegou nas memórias da sua própria família para falar do avô materno que nunca conheceu e, ao mesmo tempo, reacordar a memória do Portugal antes do 25 de Abril. São filmes que receberam a aclamação da crítica e que tiveram uma calorosa recepção do público aquando da sua estreia em sala, mesmo que discreta.

Ama-san e A Toca do Lobo são dois dos sete documentários de produção nacional a que o TVCine dá horário nobre ao ritmo de um para semana, numa iniciativa tanto mais importante quanto alguns destes filmes estão muito longe de ser material de horário nobre. É o caso de um dos mais poderosos documentários dos últimos anos (de qualquer nacionalidade), Eldorado XXI (2016, vencedor do Porto/Post/Doc 2016), que Salomé Lamas foi rodar aos ermos peruanos de La Rinconada y Cerro Lunar, retrato duríssimo de vidas no escuro em busca da redenção que tem feito um invejável percurso internacional por festivais de primeira linha. Ou de Saca – O Filme de Tiago Pires (2016), onde Júlio Adler desenha o percurso de uma das maiores figuras do surf em Portugal e que teve fugaz passagem pelos cinemas. Ou de Balaou (2007, melhor longa nacional do IndieLisboa nesse ano), frágil “cine-diário” íntimo que Gonçalo Tocha rodou durante uma viagem de barco dos Açores a Lisboa depois da morte da sua mãe.

Significativo daquilo que falávamos logo à cabeça: Balaou nunca teve estreia comercial, apenas edição em DVD depois do sucesso de É na Terra, Não é na Lua, o documentário sobre a ilha do Corvo que revelou Tocha. O realizador assinou um outro filme neste ciclo, Torres e Cometas (2012), encomendado por Guimarães Capital Europeia da Cultura e versando sobre os santos e as lendas do “berço de Portugal”, que também nunca chegou aos nossos cinemas. E o filme de abertura, já esta terça-feira, No Escuro do Cinema Descalço os Sapatos (2016), resultado do ano que Cláudia Varejão passou com a Companhia Nacional do Bailado por ocasião do 40.º aniversário da instituição, também nunca chegou às salas.

São sete filmes, e sete filmes portugueses, que de outro modo não chegariam a tanto público. Seria melhor que este ciclo passasse na RTP, em sinal aberto, do que num canal de cabo pago? Claro. Mas a documentário dado, não se olha o dente. E há pelo menos três obras-primas nestes sete – é preciso dizer mais?

O Especial Documentários Portugueses passa todas as terças-feiras às 22h00 no TVCine 2. Começa a 10 de Outubro com No Escuro do Cinema Descalço os Sapatos, seguindo-se Ama-san (17 de Outubro), Balaou (24 de Outubro), Torres e Cometas (31 de Outubro), Eldorado XXI (7 de Novembro), Saca – O Filme de Tiago Pires (14 de Novembro) e A Toca do Lobo (21 de Novembro). Mais pormenores em www.tvcine.pt

A rubrica Televisão encontra-se publicada no P2, cadernoi de Domingo do PÚBLICO

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