Suzy Menkes e dois portugueses em Paris: as presenças que iluminaram a ModaLisboa

A 49.ª edição do evento levou as novas colecções dos criadores portugueses ao Pavilhão Carlos Lopes. Entre a assistência, estiveram a influente editora da Condé Nast Suzy Menkes e dois franceses que vão abrir uma concept store portuguesa em Paris.

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O desfile de Dino Alves na ModaLisboa fez silêncio MIGUEL A. LOPES/LUSA

Sob as esteiras da Estufa Fria, a 49.ª ModaLisboa arrancou na tarde de quinta-feira com o sol a espreitar entre as brechas — não fosse o tema desta edição a luz. Como é costume, o primeiro dia do evento foi ocupado pelas Fast Talks, com um painel de oradores a debater a relação entre moda e política. Presente na plateia estava Suzy Menkes, editora de várias publicações da Condé Nast — detentora da Vogue — e uma das vozes mais influentes da moda a nível internacional.

Algumas filas atrás dela, assistiam também Carlos Sereno e Luís Filipe Neto — um luso-descendente de primeira geração e um português a viver em França, respectivamente —, que em Fevereiro de 2018 vão abrir uma concept store de luxo de produtos portugueses em Paris.

Foi do lado oposto do Parque Eduardo VII, no Pavilhão Carlos Lopes, que, de sexta-feira a domingo, prosseguiu o evento, com 22 desfiles, o concurso de jovens talentos Sangue Novo e várias áreas expositivas. Este ano, a organização convidou a cidade a assistir, organizando oito das apresentações ao ar livre, nos jardins ao lado do pavilhão.

No arranque, Lidija Kolovrat — uma das criadoras mais conceituadas a participar nesta edição — apresentou uma colecção concebida a partir da ideia do ritual, com peças assimétricas, casacos que abrem nas costas e misturas de diferentes proporções. No segundo dia, o jovem criador David Ferreira cruzou os mundos das gueixas e do fado e deu um espectáculo de fantasia aos transeuntes, com luxuosos tecidos em tons de preto, dourado e vermelho e cortes extravagantes. A fechar o dia, Dino Alves trocou a música de desfile pelo chilrear de pássaros. O mote — silêncio — vem no seguimento do desfile que apresentou há seis meses, com um sermão em passerelle sobre a disparidade entre o interesse nos seus desfiles e o posterior volume de compras, debitado pelas vozes de Ana Bola e Maria Rueff. Pelo seu atelier passaria entretanto Suzy Menkes, revelou ao PÚBLICO: “Expliquei-lhe o meu método, contei-lhe a história do desfile, disse que é sempre um sofrimento imenso... Ela respondeu ‘pois, mas se não houver sofrimento não há genialidade’”.

Dino Alves não foi o único a receber a editora, que visitou também Lidija Kolovrat, na sua loja do Príncipe Real, e David Ferreira. Suzy Menkes visitou ainda a criadora Alexandra Moura, encontro que tinha sido combinado já em Londres, quando a editora visitou uma open house de marcas portuguesas, na residência oficial da embaixada de Portugal.

A viagem de Suzy Menkes a Lisboa surge em antecipação da conferência sobre o luxo da Condé Nast, que em 2018 acontece em Lisboa. Até lá, a editora regressa à capital pelo menos mais uma vez, em Novembro, para participar na Web Summit. “[Lisboa] é o sítio que está a dar no momento. É onde todos querem estar, é onde há coisas entusiasmantes a acontecer”, justifica. De acordo com a carismática editora, aquilo que a moda portuguesa pode oferecer ao mundo “tem mais a ver com designers individuais" do que com a marca genérica do design nacional. 

“Acabámos de ver alguém que se formou e trabalhou em Londres e agora voltou a casa”, exemplifica, referindo-se a David Ferreira, que se formou na Universidade de Westminster e colaborou com grandes nomes da indústria, nomeadamente Iris Van Herpen.

“Acho que é bom ser fluido”, aponta. “A moda francesa”, por exemplo, “tem sido muito ajudada pelo facto de os designers japoneses terem escolhido mostrar em Paris, os belgas também". “A única identidade real que consigo ver [na moda portuguesa] é o uso de tecidos muito interessantes”, continua. “Parece-me que deve haver muito trabalho manual neste país e também pessoas a fazerem tecidos que são originais e que por isso fazem toda a diferença para jovens designers."

Para Menkes, olhar para Portugal é também olhar para outros países de língua portuguesa. “Estou muito interessada, por exemplo, na ligação com Angola e outras partes de África, porque obviamente entraram nas artes [de Portugal] ao longo dos anos."

Uma loja evidentemente portuguesa

Se o interesse de Suzy Menkes em Portugal é motivo para celebrar, também o ambicioso projecto de Carlos Sereno e Luís Filipe Neto representa uma oportunidade para as marcas portuguesas.

A concept store dos dois abre as portas a 8 de Fevereiro de 2018, numa das ruas mais movimentadas do bairro do Marais, em Paris — onde passa uma média de 30 milhões de pessoas por ano, de acordo com a dupla de empresários. O objectivo, contam, é “apresentar, com muito orgulho, o que é Portugal hoje”, aproveitando a tradição e o “savoir-faire” e posicionando o país “na nova geração”, com uma imagem contemporânea.

O espaço de 150 metros quadrados terá cerca de 80 marcas de diversas áreas, da moda à beleza, passando pela joalharia — bem como eventos com artistas portugueses. Será vizinho, na Rue du Temple, de marcas como Dior, Gucci e Karl Lagerfeld. É que o Marais é definitivamente o bairro para onde todas as grandes marcas estão a olhar.

“Viemos à ModaLisboa porque ouvimos falar do showcase que fez a Eduarda Abbondanza em Paris”, explica Carlos. O evento reuniu 27 designers e marcas portuguesas durante dois dias — precisamente no Marais. Foi sobretudo para conhecer “os novos talentos que vão fazer a moda do amanhã” que os empresários viajaram para Portugal.

Notícia alterada às 11h15 de 9/10, rectificando o nome do designer Luís Filipe Neto

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