De Havana a Viñales, pelo coração de Cuba

O leitor João Tiago Oliveira deixou-se conduzir por Orlando, um ex-engenheiro na casa dos 40 anos que o acompanhou pelo Oeste de Cuba.

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Para chegar à cascata Soroa e a Viñales tens de alugar um carro. E, neste caso, nada mais romântico do que alugar um clássico com chauffeur! O nosso Chevrolet de 1956 foi conduzido por Orlando, um ex-engenheiro na casa dos 40 anos que nos fez companhia pelo Oeste de Cuba. Orlando é mais um dissidente do regime cubano. Farto do salário do governo, está agora ao serviço da Havanacar, onde pode sustentar a sua família de uma forma mais desafogada.

Até Soroa são cerca de noventa quilómetros, uma hora por auto-estrada. As paisagens são por vezes deslumbrantes, com o verde intenso a entrar-nos pela lente da máquina fotográfica. E no caminho vamos dando mais uma de letra, espremendo ao máximo os conhecimentos do engenheiro sobre a história de Cuba.

Sem sabermos, Orlando propõe-nos um desvio — visitar Las Terrazas.

- Não sei o que é isso!”

– “Vais experimentar o melhor café de Cuba” —, disse Orlando

Situada na serra do Rosário, Las Terrazas é um complexo ecoturístico — para lá entrar é preciso pagar 3 CUC por pessoa. Mais à frente, cruza-se um lago e começa a aparecer o aldeamento. É realmente um local muito bonito e calmo. Tomámos café no Café da Maria, que não é mais que um pequeno terraço com seis ou sete mesas.

Estava uma manhã morna e húmida. Eram ainda sete horas da manhã e não estava aquele típico calor tropical. Vestidos com calções e t-shirt, o corpo estava a pedir um mimo. Aquele café de filtro, quentinho, feito na hora, veio reconfortar e relaxar-nos. Sentados a ver o nascer de dia, onde a luz ainda vem oblíqua, podemos levantar a cabeça e ver a paisagem fantástica que nos rodeava. Fantástico!

Há viagens que começam com peripécias, esta foi uma delas. Por um lado, tinha-me esquecido da carteira em Havana e estava sem dinheiro. Por outro, um dos pneus do Chevrolet estava a perder ar. Graças ao Orlando, conseguimos resolver as duas situações. Emprestou-me cem CUC e lá arranjou forma de resolver a fuga de ar. Podia ter sido pior!

Saímos das Terrazas e continuamos rumo a Soroa. O Orlando parecia conhecer Cuba como a palma da sua mão. A meio caminho ainda parámos à beira da estrada para estar com uma vendedora de fruta que nunca tínhamos visto ou provado. Uma das grandes vantagens de estar com um guia é esta mesmo, sermos surpreendidos com os seus costumes.

Soroa é uma vila que dá nome à cascata. É outro bom local para parar a caminho de Viñales. Para visitar a cascata também é preciso pagar. A entrada foram seis CUC. Vai-se caminhando, por um piso cimentado, lado a lado com a ribeira que vai desembocar no salto de água. São cerca de cinco ou dez minutos. Como chegámos cedo, não estava ninguém, apenas nós, o Orlando e… os mosquitos! Mas tudo bem! Leva um repelente!

A viagem até Viñales é que é um pouco mais demorada. Porquê Viñales? Podes visitar o museu do tabaco e do rum em Havana, mas não é a mesma coisa. Esta região de Cuba é o local onde existem as maiores plantações de tabaco e de cana de açúcar. Ao visitar as herdades percebemos que também elas estão direccionadas para o turismo. Foi-nos explicado o processo de produção do tabaco e do rum. E sem pagar mais nada também podemos experimentá-los ambos. Quem quiser comprar, também o pode fazer aqui. Esta quinta que visitámos deu-nos a experimentar um Montecristo n.º 4. Eu não sou um apreciador de tabaco, mas o que fumei pareceu muito bom. Nesta mesma quinta, tínhamos a possibilidade de andar de cavalo. Por 10 CUC andas cerca de meia hora pelos vales. Os cavalos estavam superdomesticados e dava a impressão que podia cavalgar quilómetros que não teria problema. Por sorte, choveu torrencialmente ao terminar a cavalgada. Mesmo a tempo de nos enfiarmos no Chevrolet e dirigirmo-nos para Havana.

João Tiago Oliveira

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