A Barbado Gallery fechou, mas João Barbado vai continuar a vender fotografia

Uma das poucas galerias portuguesas voltadas apenas para a fotografia deixa de ter um espaço físico. O modelo de negócio, explica o dono, “não é o mais adequado”.

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João Barbado durante a inauguração da exposição de abertura da sua galeria Daniel Rocha
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Exposição de abertura da Barbado Gallery, em Maio de 2015 Daniel Rocha
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Martin Parr na Barbado Gallery durante a inauguração de A Place in the Sun Enric Vives-Rubio

A Barbado Gallery, com sede em Lisboa, um dos poucos espaços especificamente vocacionados para a fotografia em Portugal, fechou portas no final de Setembro, confirmou o PÚBLICO junto do seu proprietário. Apesar de ter decidido encerrar a galeria que ocupava um espaço de 120 metros quadrados em Campo de Ourique, João Barbado continuará a negociar em fotografia, mas agora no chamado mercado secundário, como marchand privado.

Inaugurada no final de Maio de 2015 com a exposição colectiva Retrato do Mundo, a Barbado Gallery apresentou-se com um naipe de artistas que não incluía nenhum português e com a ambição de ser “uma galeria de arte internacional sediada em Lisboa”. Dela faziam parte nomes com carreiras internacionais reconhecidas como Antoine D'Agata, Roger Ballen, Ren Hang, Nadav Kander, Steve McCurry ou Martin Parr. Passados dois anos e meio, e depois de ter incluído no seu elenco ou de ter promovido exposições de artistas nacionais como Noé Sendas e José Manuel Rodrigues, João Barbado conclui que o modelo de negócio em que apostou “não é o mais adequado”. Ressalvando que “as coisas estavam a correr bem” no que às vendas diz respeito, admite que aquilo que pessoalmente lhe “interessa fazer” não se coaduna com a manutenção de uma “galeria clássica, com porta aberta, regularidade de exposições e divulgação permanente”. “Apercebi-me de que uma estrutura física deste género acarreta um peso e uma série de responsabilidades que são negativas para o negócio. Nem é bem a dificuldade de manter aberta a galeria, mas o que isso consome em termos de recursos mentais, situação que não me permitia fazer aquilo que tenho de fazer bem, que é vender”, explica o marchand. Promete continuar a dedicar-se em exclusivo à venda de fotografia, trabalhando quer com alguns dos nomes que já representava, quer com outros artistas, mas agora num modelo de transacção ou como uma agência, que pode receber “encomendas para certos trabalhos ou para grandes exposições institucionais”. E revela ainda que começará a transaccionar também peças de colecções privadas.

Para João Barbado, “o mercado português para a fotografia não é muito rigoroso” nem existem “coleccionadores em número suficiente” para o alimentar. No entanto, admite que “há procura para a fotografia portuguesa e colecionadores unicamente vocacionados para autores portugueses”. “O mercado da fotografia continua a ser muito interessante, e as vendas revelam-no. Foram vendas feitas em Portugal, mas, sobretudo, para estrangeiros. Mas no meu caso específico, o modelo da galeria não é o mais adequado, nem o que permite uma maior proximidade, aspecto que quero desenvolver. Por isso, vou continuar como dealer privado.”

“Jogos de espelhos”

Este ano, a galeria Barbado viu-se excluída da feira de arte contemporânea ARCOlisboa, numa decisão que alimentou alguma polémica e que envolveu também as galerias lisboetas 111 e Underdogs. Na altura, em declarações à revista Sábado, Barbado escusou-se a fazer comentários sobre a situação, afirmando apenas que desejava “sinceramente” que as propostas expositivas concorrentes fossem mais válidas do que a sua. Em jeito de balanço, o ex-galerista diz que “o mundo do negócio da arte está cheio de aparências, cheio de jogos de espelhos”: “Por vezes tem um brilho que é verdadeiro, mas outras não." Apesar deste retrato, a experiência com a galeria foi “muito positiva”, conclui, lembrando o “privilégio de trabalhar com artistas fabulosos”. “Se tudo correr bem, é um privilégio que continuará a existir.”

Em Maio de 2015, a exposição Retrato do Mundo mostrou trabalhos de 12 artistas estrangeiros, entre os quais Nadav Kander, Ren Hang, Gaston Bertin, Alison Jackson e Boris Eldagsen. Seguiram-se outras dez exposições individuais e colectivas, das quais se destacaram A Place in the Sun, do britânico Martin Parr, The Long Night, do francês Antoine D’Agata, The Theater of Apparitions, do sul-africano Roger Ballen, ou Errata, de José Manuel Rodrigues. A última exposição da galeria foi Machina Mundi, do brasileiro Cláudio Edinger.

A Barbado Gallery junta-se ao rol de espaços especificamente voltados para a fotografia que não conseguiram manter-se abertos em Portugal. Deste historial fazem parte a Ether – Vale Tudo Menos Tirar Olhos, nos anos 80, e, mais recentemente, a Pente 10 (ambas de Lisboa) e a Dear Sir Gallery, do Porto.

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