Montenegro decide nesta quinta-feira se avança. Rangel à espera

Ex-líder parlamentar do PSD deve dar a conhecer nesta quinta-feira a sua decisão. O anúncio de Passos de não se recandidatar foi contestado no núcleo duro do líder.

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Luís Montenegro foi líder parlamentar do PSD durante todo o passismo Adriano Miranda

Depois de ter dito que a sua vez ficaria para mais tarde, Luís Montenegro voltou atrás e pediu dois dias para repensar se é candidato à liderança do PSD. Figuras próximas do ex-líder parlamentar estão no terreno a angariar apoios para as directas. Do lado de Rui Rio, o calendário de apresentação da candidatura mantém-se na próxima semana – e o anúncio pode acontecer em Coimbra - , mas há quem já peça um congresso extraordinário antes das directas.

Os apoiantes de Luís Montenegro estão a tentar convencê-lo de que este é o momento para avançar e que pode não haver outro a médio prazo. Por outro lado, no conselho nacional, figuras próximas do ex-líder parlamentar sentiram algum arrefecimento no entusiasmo em torno de Rui Rio. No espaço mediático, Ângelo Correia deixou de ser tão peremptório no apoio ao ex-autarca do Porto e Nuno Morais Sarmento, na Renascença, acrescentou a Rui Rio outros dois possíveis candidatos – como Marques Mendes e Santana Lopes.

Muito pressionado para avançar, Luís Montenegro está a ponderar  - sublinhando que tem “liberdade total” para o fazer - e pode fazer saber a sua decisão esta quinta-feira. O tempo começa a esgotar-se para quem se quer posicionar na corrida. O ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes também se mantém em reflexão sobre uma possível candidatura. E, num comentário na terça-feira à noite, na SIC, lançou uma farpa ao ex-autarca do Porto ao referir-se a candidaturas que se rodeiam de “barões e baronetes”, numa alusão a um encontro de Rio em Azeitão em que terão participado a ex-líder Manuela Ferreira Leite e o ex-ministro Ângelo Correia.

Caso Montenegro se assuma como candidato e adversário de Rui Rio, a porta deverá fechar-se para o eurodeputado Paulo Rangel que iria reunir os apoios de muitos dos passistas desgostosos com a ideia do ex-autarca do Porto ganhar o partido. O líder da bancada dos últimos seis anos é, ele próprio, herdeiro de grande parte dos apoiantes de Passos Coelho.

Os apoiantes de Rui Rio mantêm o calendário da próxima semana. Mas Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD e fundador da plataforma Portugal Não Pode Esperar, discorda da intenção da direcção de antecipar as directas para o início de Dezembro e defende um congresso antes. “O PSD teve um resultado que demonstrou o divórcio com o eleitorado. Não pode marcar eleições num curto espaço de tempo. Devia fazer um congresso extraordinário para discutir a estratégia e a forma de repensar o partido na sociedade portuguesa”, afirmou ao PÚBLICO. O ex-líder da JSD argumentou ainda que “não faz sentido o PSD estar em directas durante a discussão do Orçamento do Estado”. Pedro Rodrigues junta-se assim a outro ex-líder da JSD, Pedro Duarte, que há dois dias defendeu a realização de um congresso antes da disputa eleitoral num artigo publicado no PÚBLICO.

Apesar desta posição, um operacional do grupo de Rui Rio contactado pelo PÚBLICO mostrou-se tranquilo sobre o calendário das directas em Dezembro.

“Passos é o melhor do PSD”

Na terça-feira de manhã, o anúncio de Passos Coelho de que não se recandidataria a um novo mandato gerou alguma contestação no seu núcleo duro. Uma das vozes na comissão permanente que contestou a decisão do líder foi a da vice-presidente Teresa Morais. “Compreendi as razões pessoais e políticas, mas discordei da decisão, porque o argumento que ele apresenta é que é melhor para o PSD sair do que ficar. Eu acho que ele é o melhor que o PSD tem”, afirmou ao PÚBLICO a deputada. Teresa Morais considera injusto que Passos Coelho assuma “sozinho o fardo das responsabilidades da derrota eleitoral”, quando “não é o único nem o principal responsável”. A dirigente nacional, que costuma manter reserva sobre a vida interna do PSD, lembra que as autárquicas são eleições locais e que a responsabilidade deve ser partilhada com as estruturas.

Depois do anúncio de que já não estará na próxima corrida interna, o líder do PSD mantém-se em funções (assim como os órgãos nacionais) e continuará a representar o partido a nível institucional. Já esta quinta-feira estará na cerimónia que assinala as celebrações do 5 de Outubro e na próxima segunda-feira irá comparecer na reunião do Conselho Nacional do partido, marcada para agendar a data das eleições directas e o congresso. Mas será contido na intervenção pública. Nesta quarta-feira, um dia depois de ter anunciado a sua saída de cena, abdicou de protagonizar o debate quinzenal com o primeiro-ministro, deixando essa tarefa para o líder parlamentar, Hugo Soares. Ficou mesmo ao seu lado na primeira fila, trocou impressões com o líder da bancada (era aliás o seu primeiro debate quinzenal nessa condição) aplaudiu as suas intervenções no duelo com o primeiro-ministro e riu-se com algumas respostas de António Costa.

Mas o seu lugar na bancada deverá ter outro eleito quando o PSD escolher um novo líder. O PÚBLICO apurou que Passos Coelho deverá renunciar ao mandato de deputado. É essa a leitura das suas palavras de terça-feira à noite, quando disse que não iria “ficar cá a rondar” nem “assombrar” a nova liderança. Manifestou a intenção de ser leal à futura direcção, mas também disse que não se iria “calar para sempre”. Até lá, o ainda líder irá articular com a direcção de bancada a estratégia sobre o Orçamento do Estado cuja votação final global está marcada para final de Novembro, ou seja, antes das directas no partido.

Na intervenção de quase despedida da liderança do partido, Passos Coelho deixou nota daquelas que são as suas ideias básicas e pelas quais “vai continuar a lutar”, ensaiando um discurso de quem não quer ser esquecido na vida política. No seu ideário, está “uma sociedade civil forte e aberta, suficientemente autónoma do Estado e dos pequenos e grandes poderes que nele se exercem”, “um poder político responsável e transparente”, “uma economia aberta”, “um sentido de justiça e de equidade” e uma sociedade de “um grande sentido de exigência, disciplina e rigor” e com um “espírito solidário”.

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