No concelho mais "laranja" do país, o voto foi para o habitual

Na Pampilhosa da Serra o candidato do PSD à presidência da câmara obteve 78,58% da votação. A autarquia só teve gestão socialista entre 1976 e 1979.

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Os resultados na Pampilhosa contrastam com os do resto do país SÉRGIO AZENHA

Numa noite que, a nível nacional, correu muito mal para o partido, as eleições autárquicas correram muito bem a José Brito. O social-democrata que se candidatou à reeleição na Pampilhosa da Serra voltou a conquistar a câmara, com a esmagadora maioria dos votos, 78,58%, e a totalidade dos mandatos.

Presidente da câmara desde 2009, José Brito segue agora para o terceiro mandato. Num concelho que é o segundo maior, em área, do distrito de Coimbra, mas com uma população residente de apenas 4100 habitantes, José Brito teve 1977, num universo de 3825 inscritos.

No final de um dia de trabalho, José Fernandes bebe uma "mini" à porta do café Arco Iris, praticamente em frente ao edifício da Câmara da Pampilhosa. Quando lhe perguntam sobre o resultado das eleições, não demora muito a responder. Acha que foi por causa do candidato.

“As pessoas já conhecem quem lá está” e optam pela continuação. “Tem feito umas coisitas”, ao contrário do PSD a nível nacional, que “cortou nos salários”. Assim, mesmo antes de dia 1 de Outubro, “aqui na vila já se sabia como era”, até porque, entende, “não há concorrência”.

A propaganda que sobrou do período de campanha parecia prever os resultados. Pelo centro da sede de concelho vêem-se alguns cartazes da CDU, alguns do PS e uma larga maioria com os rostos sociais democratas.

Os números do PSD deste ano até descem em relação a 2013, quando obteve esclarecedores 83,12% e 2363 votos, mas o autarca manteve o número dos eleitos: em cinco possíveis, todos serão do PSD. O Partido Socialista, a segunda força mais votada, foi reduzido a 13,39%, conseguindo apenas 337 votos.

“Estamos num concelho onde praticamente todos nos conhecemos. Aqui as eleições são muito personalizadas”, interpreta José Brito. Ao PÚBLICO, o autarca concede que haja “alguns” votos “pela cor e nada mais”, mas serão poucos, entende. “Quando falamos de autárquicas falamos de pessoas. A cor partidária suporta a candidatura e nada mais do que isso”.

O presidente, que já não se poderá recandidatar em 2021, explica que o facto de a maioria da população ter “condições essenciais para o dia-a-dia”, apoios para a juventude e ao envelhecimento activo terá pesado na hora de decidir o voto às urnas. Isto, apesar de considerar que há margem para melhorias. “O nosso grande drama é a desertificação humana”.

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PSD para a câmara ou para o Parlamento

Os resultados na Pampilhosa da Serra contrastam com os do resto do país, onde o PSD registou resultados historicamente baixos e viu a sua expressão eleitoral encolher substancialmente na maioria dos grandes centros urbanos. Pelo menos neste município do Pinhal Interior Norte as coisas correram bem aos sociais-democratas.

Luís Nunes apresenta as credenciais para explicar o que se passou no domingo: “Sou taxista e lido com esta gente toda”. “Aqui quem manda é a chaminé”, diz, numa alusão ao símbolo social democrata, explicando que “já há muitos anos que isto está com o PSD” e há muita gente que vota pelo partido. Segundo o taxista, com 25 de serviço nesta praça, isto explica os 78,58%. Mas, além do PSD, “há quem goste do presidente”, uma vez que nas legislativas o PS consegue uma percentagem maior. Mas quando a escolha é para a câmara, “não há oposição”, analisa Luís Nunes.

É preciso recuar 41 anos para encontrar uma cor diferente na Pampilhosa. Foi apenas em 1976, nas primeiras autárquicas a seguir ao 25 de Abril, que o PS elegeu o presidente de câmara. De 1979 para a frente, o mapa foi sempre "laranja".

Nas legislativas a escolha também costuma recair no PSD, embora por margens menos expressivas. Foi assim nos últimos três actos eleitorais. No entanto, em 2005, ano da maioria absoluta de José Sócrates, o PS ficou à frente do PSD, com 45,2% dos votos. Apesar disso, a diferença para os sociais-democratas foi de apenas 1%. Para Luís Nunes, há outro factor de peso a considerar: "A câmara emprega muita gente”, diz. 

Francisco António, que vota no concelho vizinho da Lousã, onde reside, mas trabalha na Pampilhosa há 40 anos, pega nesta mesma ideia. Na opinião do dono do Talho Alcides, “há muita gente da CDU e do PS” que “tem receio de fazer lista, por causa do emprego na câmara”.

Apesar de entender que “a câmara tem dinheiro” e que a maioria da população tem, pelo menos, “o básico das condições”, Luís Nunes lamenta que não haja oposição no executivo camarário. “Faz falta. Nem que seja para dar ideias”. 

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