Passos, na hora da saída

A obrigação do PSD é agora aproveitar essa oportunidade, garantindo que o partido não desperdiça os dois anos que se seguem e se apresenta em melhores condições nas próximas legislativas.

Não foi preciso pensar muito. Passos Coelho decidiu sair da liderança do PSD, não porque tenha feitio para se pôr ao fresco — como avisou durante a campanha —, mas porque se tornou evidente que já não teria condições políticas para vencer as próximas eleições legislativas. Esta é a ironia do destino: precisamente dois anos depois de ter vencido as últimas legislativas, uma vitória sem vista para uma maioria que lhe valeu uma dolorosa perda do poder, Passos viu-se perante a evidência de que já não conseguiria dar outra volta ao destino e vencer as próximas legislativas.  

A decisão foi seguramente dolorosa, mas era a única saída possível. A derrota nas eleições autárquicas, na dimensão em que aconteceu, já não poderia ser atribuível a outros que não a ele: foi Passos quem não teve já força para convencer Santana ou Rangel para Lisboa e Porto; foi ele quem escolheu as alternativas. Foi também dele o discurso carregado que o PSD levou para a campanha, ainda carregado de avisos ao país de que não vai pelo rumo certo, sempre acompanhado pela bandeira na lapela. Daqui a uns tempos teremos de voltar a ler esses avisos — mas no domingo o país não acreditou neles.

A sua saída antecipada tornou-se uma inevitabilidade. A obrigação do PSD é agora aproveitar essa oportunidade, garantindo que o partido não desperdiça os dois anos que se seguem e se apresenta em melhores condições nas próximas legislativas. Olhando para o que têm dito os potenciais sucessores — Rui Rio, Luís Montenegro, Paulo Rangel, Pedro Duarte, Santana Lopes —, não será um desafio fácil. Se eles cumprem a condição número um para uma recuperação (não estiveram no Governo no momento da troika, um peso que se revelou insuperável para Passos), a verdade é que nenhum deles mostrou ainda um caminho claro para o país significativamente diferente do que Passos escolheu, ou escolheria.

A esse ponto teremos de voltar mais tarde. Hoje, o primeiro dia do fim desta liderança, é preciso dizer algo mais sobre estes sete anos. Ele não foi apenas o segundo líder mais duradouro do PSD, a seguir a Cavaco, nem só o primeiro chefe de governo a levar até ao fim um governo de coligação. Passos foi o primeiro-ministro que teve a tarefa mais difícil da história do país, no único mandato da nossa história em que tivemos de recuperar acesso a financiamento externo sem poder desvalorizar a moeda. Verdade seja dita: nessa missão, foi bem sucedido. E boa parte do sucesso que a “geringonça” hoje tem deve-se a ele. Ironia maior, não há.

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