O xadrez das alianças de que a CDU precisa

Em Loures e em cinco municípios onde perderam a maioria absoluta, os comunistas terão de negociar pelouros para governar sem sobressaltos.

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LUSA/JOAO RELVAS

Como se não fosse suficiente ter perdido a gestão de dez câmaras num só dia, a CDU deixou escapar a maioria absoluta de outros cinco municípios e voltou a ter um problema de governabilidade em Loures (agora agravado). No caso deste concelho vizinho de Lisboa, os comunistas também perderam a presidência da Assembleia Municipal para o PS. Agora, aqui e em Palmela, Seixal, Moita, Vila Viçosa e Vidigueira a CDU poderá ter que distribuir pelouros à oposição para conseguir alguma estabilidade.

O problema mais complicado é em Loures. Apesar de ter conseguido mais 130 votos, Bernardino Soares perdeu um dos cinco vereadores para o PSD, muito por causa do aumento do número de votantes (foram mais 5347 que em 2013, quase o mesmo número de votos em que o PSD cresceu) e pela ligeira queda do PS. O que significa que o comunista, que recusa qualquer tipo de entendimento com André Ventura por causa das declarações que rotula de xenófobas, fica agora nas mãos dos socialistas. Estes deverão subir mais alto a fasquia das exigências de pelouros, já que em 2013, Bernardino preferiu dar funções aos dois vereadores do PSD em detrimento do PS por considerar que este queria “continuar a governar a câmara”.

No distrito de Setúbal – onde a machadada socialista à CDU foi mais significativa -, ficam três dos cinco concelhos em que os comunistas ganharam, mas passaram de maioria absoluta para relativa. E que têm outra característica em comum: Seixal, Moita e Palmela são comunistas desde 1976.

O Seixal poderá ser o caso mais fácil tendo em conta o histórico de relacionamento entre os vários partidos com representação camarária: desde 2013, apesar de ter tido maioria absoluta, Joaquim Santos dera ao PS o pelouro da Defesa do Consumidor e Segurança Alimentar, ao PSD a Fiscalização Municipal e ao BE a protecção civil. Ou talvez não - é que agora a maioria da CDU é só relativa e a oposição unida pode fazer finca-pé aos comunistas.

No caso de Palmela, foi a entrada na corrida do Movimento Independente pela Mudança (MIM) liderado pelo presidente dos Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo e também vice-presidente do Clube Desportivo Pinhalnovense, que veio baralhar as contas da CDU. José Calado, empresário do sector imobiliário e conhecido pela sua longa participação no movimento associativo mas sem ligações partidárias, tinha estabelecido como principal objectivo retirar a maioria absoluta à CDU. E conseguiu-o ao ser eleito, "roubando" à lista comunista de Álvaro Amaro um dos cinco lugares que mantinha no executivo (e por consequência a maioria absoluta), mesmo apesar de a CDU ter tido mais votos do que em 2013.

Aliás, o aumento da participação eleitoral levou a que todos os partidos tivessem mais votos, mas os 1896 conseguidos pelo MIM fizeram com que relegasse o Bloco para último lugar e conseguisse um lugar na vereação. A CDU pode agora voltar a aliar-se ao PS já que no actual mandato, apesar de ter maioria absoluta, dera pelouros a um dos três vereadores socialistas (iluminação, cemitérios e toponímia). Perante o discurso de José Calado, aliás, dificilmente será com o MIM o entendimento dos comunistas.

Mesmo ao lado, na Moita, onde todos os partidos aumentaram o número de votos excepto os comunistas, estes viram fugir-lhes um vereador para a coligação PSD/CDS e com ele a maioria absoluta. Rui Garcia, que em 2013 passou de vice a presidente, não dera pelouros à oposição, poderá ter agora de o fazer, escolhendo entre PS (três eleitos), BE (um eleito) ou a direita (um).

Comunistas de volta a casa?

Vila Viçosa, no distrito de Évora, fora uma das dez câmaras conquistadas pela CDU em 2013, neste caso ao PS. Há quatro anos, Manuel Condenado, que já liderara o município durante 12 anos mas fora derrotado em 2009, conseguiu reconquistar Vila Viçosa aos socialistas. Na altura contou com a ajuda do Movimento de Unidade Calipolense: o PS perdeu um vereador para este grupo de cidadãos e outro para a CDU. O movimento tinha a particularidade de ter sido fundado por um ex-CDU, António Jardim, e um ex-PSD, Inácio Esperança. Em 2013, foi este último que concorreu à câmara e foi eleito vereador, enquanto o primeiro ficou deputado municipal. Agora, o PS ganhou gás de novo, roubou um lugar na vereação e o movimento independente conseguiu eleger para o executivo António Jardim. A CDU, que tem dois eleitos como o PS mas mantém a presidência por 76 votos, poderá agora ter que se entender com o seu antigo vereador António Jardim.

No caso da Vidigueira (distrito de Beja), foi mesmo uma dissidente da CDU que fez estragos à sua coligação na sequência de um caso de amor. Helena d’Aguilar é ainda vice-presidente, mas como a sua passagem a cabeça-de-lista pela CDU proposta pelo actual presidente (afectado pela limitação de mandatos) não foi aceite, criou um movimento independente e candidatou-se. No domingo, o seu movimento ficou em terceiro lugar (e último porque a direita não concorreu) mas Helena d’Aguilar foi eleita. A CDU manteve a câmara, elegendo o presidente e um vereador; o PS, com menos 302 votos, também elegeu dois vereadores. Mas os comunistas vão ter de decidir quem chamam para governar consigo – se socialistas ou se a sua dissidente.

Mas se os comunistas vão ter de fazer acordos com a oposição, também os socialistas deverão precisar da CDU em câmaras que lhes acabaram de roubar. Como Almada, onde os dois partidos tiveram quatro eleitos cada (a diferença acabou por ser por 313 votos a mais para o PS, que elegeu Inês de Medeiros como nova presidente da câmara), o PSD dois e o BE um. Ou Barreiro, município em que o PS, empatado com a CDU em número de eleitos, só tem como alternativa o vereador do PSD. Ou ainda Alcochete, onde os socialistas têm três eleitos e a oposição conseguiu quatro – dois a CDU e CDS/PSD outros dois.

No domingo, a CDU manteve a maioria absoluta nas câmaras de Cuba, Serpa, Évora, Montemor-o-Novo, Mora, Sobral de Monte Agraço, Alpiarça, Benavente (embora tenha perdido um vereador), Alcácer do Sal, Santiago do Cacém e Sesimbra. Subiu de maiorias relativas para absolutas em Alvito, Silves e Grândola; e reforçou as maiorias absolutas que já tinha em Arraiolos, Avis, Monforte e Setúbal.

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