Boris Johnson reincide na polémica, desta vez com declarações sobre a Líbia

Para transformar cidade capturada ao Daesh "num novo Dubai" a "única coisa que é preciso fazer é retirar os cadáveres".

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Boris Johnson garante que não estava a fazer uma piada, mas a falar da difícil situação da Líbia FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

Mal saído de uma tempestade política, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico acaba de entrar noutra – e desta vez nem sequer por causa do “Brexit”. Colegas de Governo e de partido criticaram-no em público, e alguns defenderam mesmo a sua demissão, horas depois de Boris Johnson ter dito que há investidores britânicos dispostos a transformar a cidade líbia de Sirte, conquistada no final do ano passado ao Daesh, “num novo Dubai”. “A única coisa que é preciso fazer é retirar os cadáveres” das ruas.

“Este não é o tipo de linguagem que este Governo apoia. O Boris é o Boris e a linguagem que ele usou foi muito infeliz. Não o quero defender”, disse à BBC o ministro da Saúde, Jeremy Hunt, o mesmo que na véspera exortou o chefe da diplomacia a apoiar os planos da primeira-ministra para as negociações com a União Europeia, ou arriscar-se a abrir caminho à chegada dos trabalhistas ao poder.

Já antes Damian Green, ministro-adjunto de Theresa May, tinha dito que Johnson, conhecido pelas suas gaffes e tiradas polémicas, precisava de ter cuidado com as palavras que escolhe, sobretudo em temas tão sensíveis como a situação na Líbia, que continua imersa no caos seis anos após a revolução e morte de Muammar Khadafi – na sequência de uma operação militar liderada pelo Reino Unido e a França. “Temos todos de ter todos cuidado com a linguagem que usamos em relação a situações sensíveis e difíceis como a da Líbia, incluindo o Boris”, afirmou Green.

Mas outros correligionários foram bem mais duros. Estas declarações são “100% inaceitáveis para qualquer um, quanto mais para o ministro dos Negócios Estrangeiros”, disse ao jornal Guardian a deputada Heide Allen, antes de acrescentar: “Boris deve ser demitido por causa disto. Ele não representa o meu partido”. Uma posição defendida pelas também deputadas Anna Soubry e Sarah Wollaston. “Fazer piadas sobre pessoas reais que foram mortas na Líbia é de maus gosto até para um stand-up; estou mortificada de ouvir isto do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros”, disse Wollaston à BBC Radio 4.

Ao invés de recuar, Boris Johnson usou o Twitter para atacar os que o criticam, assegurando que não estava a fazer uma piada, mas apenas a falar “sobre uma realidade em que a retirada dos corpos dos combatentes do Daesh [mortos nos combates do ano passado] está a ser dificultada por IED [engenhos artesanais] e armadilhas minadas”.

“É por isso que o Reino Unido está a assumir um papel de liderança na reconstrução e é por causa disso que visitei este ano duas vezes a Líbia para a apoiar”, escreveu Johnson, que na véspera garantira que “há um grupo de empresários britânicos, tipos óptimos, que querem investir em Sirte, na costa, perto do local onde Khadafi foi capturado e executado”. “Eles têm esta visão brilhante de transformar Sirte, com a ajuda do município local, num novo Dubai”.

Aos que o acusam de mau gosto, diz que “é uma pena que pessoas sem conhecimento ou percepção daquilo que é a Líbia queiram fazer política usando a realidade extremamente perigosa de Sirte”.  

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