Vinte anos depois, PS volta a liderar a Área Metropolitana do Porto

Socialistas ganharam nove das 17 câmaras da região, mas prometem procurar solução de consenso com o PSD, o CDS e os dois municípios liderados por independentes.

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Emídio Sousa, actual líder da AMP, com Fernando Gomes, o primeiro socialista a líderar este organismo Nelson Garrido

O PS perdeu Vila do Conde para uma sua ex-autarca, não ganhou o Porto, mas os resultados globais na Área Metropolitana do Porto, onde ganhou três câmaras ao PSD e recuperou uma a independentes permitem-lhe voltar a liderar o conselho metropolitano, o que não acontecia já desde que Fernando Gomes saiu do principal município da região, em 1998.

No modelo actual das áreas metropolitanas, a liderança decorre da legitimidade política que lhe é conferida pelo voto dos autarcas das 17 câmaras que fazem parte da AMP ou das 18 da Área Metropolitana de Lisboa, mas o líder da Federação Distrital do Porto do PS, Manuel Pizarro, vinca que o seu partido, mesmo tendo condições para decidir, sozinho, a presidência deste organismo, não pretende quebrar uma solidariedade interpartidária que tem permitido que, nalguns dossiers importantes para a região, os autarcas consigam concertar posições. “No que depender do PS, não vamos ter uma área metropolitana a duas vozes”, insistiu Pizarro.

Neste momento ainda não está decidido quem será o autarca que o PS vai candidatar à liderança do conselho metropolitano e o líder da distrital assinala que o partido pretende também dar algum tempo para dialogar com as congéneres do PSD do Porto e de Aveiro, com o CDS (que lidera Vale de Cambra) e os independentes que governam Vila do Conde e o Porto, para encontrar uma solução de governação da AMP que seja, se possível, consensual. O que pode passar pela entrega de uma das vice-presidências, tal como aconteceu no actual mandato, em que o socialista Joaquim Couto, de Santo Tirso, desempenhou esse cargo durante as lideranças dos sociais-democratas Hermínio Loureiro e Emídio Sousa.

O PSD elogia esta atitude do PS que, lembra o líder da distrital de Aveiro e autarca de Ovar, Salvador Malheiro, respeita aquela tem sido a pedra de toque da actuação dos dois partidos, em relação a este organismo. “Vamos dialogar, mas no total respeito pelo voto popular, que deu a maioria dos municípios da área metropolitana ao partido socialista”, explicou o dirigente do PSD, acreditando que será pacifico chegar a uma proposta consensual – que terá de partir do PS –, que permita que a AMP continue a falar a uma só voz.

Com este quadro político, depois das presidências de Vieira de Carvalho, Valentim Loureiro, Rui Rio, Hermínio Loureiro e Emídio Sousa, todos do PSD, um socialista voltará a liderar o organismo que este ano celebrou 25 anos de existência e cujo primeiro presidente eleito foi Fernando Gomes. E tudo graças a uma noite eleitoral em que o PS saiu vencedor na região metropolitana, tal como aconteceu no resto do país.  

Na margem norte do Douro os socialistas sofreram uma hecatombe em Vila do Conde, câmara perdida ao fim de quatro décadas de poder rosa para a agora independente Elisa Ferraz, mas em compensação recuperaram Matosinhos, concelho governado nos últimos mandatos por uma lista independente de dissidentes do PS, liderada por Guilherme Pinto e, desde a morte deste, por Eduardo Pinheiro. Este faz parte, com outros antigos vereadores, da equipa da nova presidente de câmara, Luísa Salgueiro. Perdida uma, ganha outra, sobra Paredes, que o PS ganhou ao PSD, com Alexandre Almeida.

A sul do Douro, os socialistas têm também motivos para sorrir, pois não só mantiveram os municípios que detinham – Gaia, Castelo de Paiva e Arouca – como ganharam outros dois ao PSD: Oliveira de Azeméis e São João da Madeira. Na primeira, os sociais-democratas não resistiram à saída, no início do ano, de Hermínio Loureiro, que em Junho foi constituído arguido num processo de corrupção. E em São João da Madeira, onde o mandato anterior ficara marcado por eleições intercalares, que até levaram uma coligação liderada pelo PSD a uma maioria absoluta, as autárquicas deste domingo trouxeram uma total inversão do sentido de voto, beneficiando, também com maioria absoluta, o candidato socialista Jorge Sequeira.

Com estas mudanças, o PS passou a liderar nove autarquias – Santo Tirso, Valongo, Gondomar, Matosinhos, Paredes, Gaia, Arouca, Oliveira de Azeméis e São João da Madeira - contra cinco do PSD – que manteve Póvoa de Varzim, Trofa, Maia, Espinho e Feira e uma do CDS (Castelo de Paiva). O Porto, com Rui Moreira, e Vila do Conde, agora com Elisa Ferraz a assumir, com lista própria, também o estatuto de independente, completam o retrato da nova AMP onde se notará um reforço de mulheres, com a entrada de Luísa Salgueiro e de Margarida Belém, as novas autarcas socialistas de Matosinhos e Arouca.

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