PSD: o partido em que eu acredito

A derrota foi dura, a derrota é dura. Mas não deve esmorecer-nos ou acantonar-nos. Não deve esfumar-se numa luta de personalidades ou num choque de séquitos e aparelhos.

1. Todos reconhecem – todos reconhecemos –, sem excepção, que os resultados do PSD nas eleições autárquicas são francamente negativos. E, para lá de negativos, são especialmente dolorosos, porque o PSD é genética e sociologicamente um partido das autarquias e dos territórios. A larga e funda implantação territorial faz parte da nossa essência. No seu ADN, o PSD não é apenas o partido das classes médias e dos sectores mais dinâmicos da sociedade civil, que, em meados dos anos 70, mobilizou os pequenos e médios comerciantes, agricultores e empresários, os professores e profissões liberais, os “self made men and women”, os então ditos “retornados” ou os “emigrantes” (na altura tão caricaturados). O PSD é também um partido das raízes e das terras, o PSD é o partido dos “homens bons” dos concelhos (na melhor tradição das nossas origens, com os seus “forais” e a “representação dos concelhos nas cortes”). Para o PSD, a “nossa terra”, a “pertença à terra” e a “representação da terra” não é mitologia nem serve de demagogia; é identidade. É mesmo identidade: identidade que temos e queremos preservar. A todo o transe. A todo o custo.

 2. A derrota foi dura. A derrota é dura. Ela exige decerto reflexão, avaliação e debate, que, em grande parte, mesmo sem estudos mais profundos, é possível fazer no curto prazo. Esse debate foi aberto (ou reaberto) no domingo, está já em curso e segue o seu caminho. A derrota foi dura, a derrota é dura. Mas não deve esmorecer-nos ou acantonar-nos. Não deve precipitar-se numa apatia nostálgica ou numa depressão paralisante. Não deve esfumar-se numa luta de personalidades ou num choque de séquitos e aparelhos. É absolutamente essencial que, nesta hora difícil, devolvamos o melhor do nosso partido aos portugueses, a Portugal, à política portuguesa. Essa é a nossa obrigação; essa obrigação é nossa. É o mínimo que devemos a todos os eleitores e candidatos que confiaram em nós; é esse o repto – o grande e sério repto – de todos os portugueses que não votaram em nós. Há momentos em que temos de estar à altura da nossa vitória. Este é o momento para estarmos à altura da nossa derrota. De estarmos à altura do que os portugueses nos quiseram dizer com ela.

 3. Isso não deve nem pode significar uma recriminação do passado. Diante da iminência da bancarrota, o PSD foi chamado a uma tarefa patriótica, chefiando um Governo que teve de aplicar um rigoroso programa de austeridade e de reformas difíceis. O país estava em “estado de calamidade” e foi preciso socorrê-lo. Seguramente com erros, cumprimos com êxito o essencial. Era a nossa missão. Temos de ter orgulho e respeito pela missão cumprida. O contexto é agora outro, também e em boa parte pelo nosso esforço. É preciso saber passar à frente. Dar horizontes, dar visão, dar futuro.

O reforço eleitoral do PS não pode, por outro lado, baixar a guarda ou a intensidade da oposição. A oposição firme e construtiva é indispensável à democracia e ao seu bom funcionamento. Apesar da anestesia crítica generalizada, todos os dias o Governo PS descura e desguarnece o Estado, nas áreas da segurança e da soberania em geral, desnata e esvazia o serviço nacional de saúde, fragiliza e ilude o sistema educativo, paralisa e trava qualquer impulso reformista. Não podemos caucionar esta política, por mais rósea que pareça. Temos de a denunciar, de lhe fazer frente, de apresentar alternativas, de ser o que somos, o que efectivamente fomos feitos para ser: a alternativa.

 4. O código genético do PSD funda-se na dignidade da pessoa humana e nos direitos fundamentais, na democracia e no Estado de Direito. E aqui, em particular, nos tempos que correm, externa e internamente, o PSD tem de ser inflexível na defesa da independência dos tribunais e da liberdade de imprensa e de expressão. Insisto: tanto externa como internamente! O nosso modelo é a democracia liberal, e não há que ter vergonha de dizê-lo, a democracia liberal ocidental.

O PSD é pela liberdade, mas não é liberal, é, modelando as palavras, liberalizador. Numa sociedade cativada pelo Estado, liberalizar é um progresso; incentivar a dependência estatal, como quer o PS, é um retrocesso. A liberalização não é nem pode ser a operação através da qual os interesses que opacamente colonizam o Estado passam abertamente a colonizar a sociedade. Por isso não somos liberais.

O PSD é pela igualdade solidária, o PS é pelo igualitarismo social. O PSD acredita no Estado social que liberta, autonomiza e responsabiliza o cidadão, o PS cultiva o Estado social que o cativa, condiciona e infantiliza. O PSD aposta em que a exigência na educação pode tornar os cidadãos mais iguais, o PS presume que o facilitismo os trata por igual. O PSD acredita que a família e a comunidade devem guiar a educação, o PS insiste em que o Estado deve formatá-la. O PSD quer um SNS capaz e eficiente, o PS quer um SNS gigante e complacente. O PSD visa uma segurança social abrangente e sustentável; o PS recusa pensá-la.

O PSD é um partido aberto e cosmopolita, respeitador da diferença, amigo da ciência e da cultura. O PSD é eclético e, entre os seus eleitores e dirigentes, soube sempre acolher conservadores e progressistas, zelando pela liberdade de consciência. O PSD não corre atrás do politicamente correcto, não bane as religiões do espaço público, não dá foro nem guarida ao pensamento único.

O PSD é capaz e tem todas as condições para integrar e acolher os sectores mais dinâmicos da sociedade portuguesa, que reside dentro e fora de fronteiras. Deve reavivar e reactivar os seus núcleos territoriais, mas também criar, com base numa nova escala tecnológica, uma rede paralela e transversal de militantes e apoiantes.

O PSD tem de ter orgulho e respeito pelo seu passado, mas não pode ter medo nem receio do seu presente. Não pode fechar-se numa luta de nomes ou numa batalha de números; tem de arriscar um programa mobilizador. É nos momentos difíceis que o PSD tem de ter ganas de futuro.

SIM. EMA e Porto. Numa concorrência dificílima ou quase impossível, nos critérios essenciais passa o teste. E a maior desvantagem é a que inviabilizaria Lisboa: já existem 2 agências em Portugal. Por sinal, em Lisboa. 

NÃO. Referendo catalão. O modo como as autoridades catalãs se barricam nas suas posições e a escalada da tensão não são de bom augúrio. A abertura do Governo central para dialogar não devia ser desaproveitada.

 

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