PCP garante que autárquicas não terão influência nas negociações do OE

Jerónimo de Sousa garantiu que os comunistas vão “manter o rumo” a nível nacional. Assunção Cristas promete “oposição construtiva” e propostas orçamentais já na próxima semana.

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LUSA/TIAGO PETINGA

O secretário-geral do PCP foi garantir ao Presidente da República que o partido “manter o rumo de continuar este caminho de reposição de rendimentos e direitos” e que é essa a condição determinante para a aprovação do Orçamento do Estado para 2018.

“Para quem nos conhece, o PCP nunca determina a sua orientação por qualquer resultado eleitoral”, afirmou aos jornalistas à saída da audiência. Sobre as negociações do OE, disse apenas: “Estamos na fase de exame comum do OE, não há mais nem menos do que isso, exame que vai ser acelerado em função do calendário orçamental, mas isso não altera o essencial”. E o essencial, começou por dizer, é “a necessidade de eliminar definitivamente a herança anterior em termos de cortes e eliminação de direitos”.

Questionado sobre se considera, tal como a líder do BE afirmou na véspera, que é mais difícil negociar o OE depois das eleições autárquicas, o líder comunista descartou: “Nenhum resultado autárquico deve levar a alterar aquilo que é a nossa posição de fundo e este caminho que apontamos”.

Aliás, sublinhou que “a relação de forças mantém-se na Assembleia da República” e considerou “ousado” confundir autárquicas com legislativas, porque “não se pode fazer o transporte mecânico das intenções de voto numas eleições e noutras”.

“Não estamos nem condicionados nem amarrados a qualquer resultado eleitoral, vamos procurar manter esta linha de construção, sempre a pensar nos trabalhadores e no povo português”, garantiu. Mas já não respondeu se está em condições de assegurar a estabilidade política nos próximos dois anos.

Jerónimo de Sousa começara por dizer que “a evolução económica positiva que se verificou na sequência da reposição de rendimentos” é reconhecida pelo Governo e por isso o PCP vai insistir em  prosseguir esse caminho. “Destacamos o aumento do salário mínimo no próximo ano para 600 euros, a necessidade de eliminar o corte inaceitável no subsídio de desemprego, de medidas de fundo em relação ao sector da saúde que sofre de muitas carências e subfinanciamento”.

Acrescentou ter dito ao PR que “problemas estruturais precisam de respostas estruturais”, referindo a política de florestas, a prevenção de incêndios, as infraestruturas, os transportes e a saúde. “É fundamental continuar esse caminho e simultaneamente de medidas que levem os portugueses a acreditar na real recuperação de rendimentos”, rematou.

Logo a seguir, a delegação do PEV, liderada pelo deputado José Luís Ferreira, veio garantir o mesmo: “O resultados das eleições autárquica em nada vão interferir nas negociações que estão em curso com o Governo e da parte d’Os Verdes mantemos toda a determinação para negociar este OE tendo por base a declaração conjunta com o PS”. E essa declaração aponta para o caminho da recuperação de rendimentos e direitos, como sublinhou.

“Os Verdes estão neste processo de boa fé e com sentido de responsabilidade, consideramos que os pactos são para ser cumpridos e por isso, enquanto essa declaração conjunta for respeitada, estamos neste processo parlamentar e faremos parte desta solução governativa”, acrescentou.

CDS fará “oposição construtiva”

Antes, Marcelo Rebelo de Sousa recebera a delegação do CDS-PP e ouvira a lider Assunção Cristas reafirmar a sua intenção, avançada na noite eleitoral, de liderar a oposição à direita. “A nível nacional, como a nível autárquico, o CDS continuará sempre a fazer uma oposição firme, acutilante, mas sempre muito construtiva, contribuindo com propostas para liderar o debate político”, repetiu Cristas aos jornalistas, após 40 minutos de audiência.

O CDS, aliás, nem vai esperar pela proposta do OE e avança, já na próxima semana, com propostas orçamentais – ou melhor, vai insistir em algumas que já foram rejeitadas nos últimos exercícios -, “sem prejuízo de apresentar mais propostas ao longo do processo orçamental”, anunciou. “Coloco sempre um ponto de interrogação quando se fala em baixar muitos impostos, mas esperamos pela proposta do Governo para fazer as nossas escolhas”, afirmou Cristas, revelando que esta será uma área onde os centristas irão ter propostas próprias.

Na conversa com o chefe de Estado, a lider quis também falar de Tancos e de Pedrógão Grande e pré-anunciou que o CDS pode avançar com iniciativas parlamentares logo que seja conhecido o relatório da comissão independente sobre o grande incêndio de 17 de Junho. “Quisemos sinalizar a importância que tem para nós as questões das áreas de soberania, reforçando que o CDS continua muito atento nesta matéria, não declinando o uso de qualquer instrumento parlamentar que seja útil para descobrir tudo o que se passou e para apurar responsabilidades aos vários níivels nestas áreas”, afirmou.

Assunção Cristas foi a única líder partidária já recebida pelo chefe de Estado que não se imcomoda nada em fazer uma extrapolação das autárquicas para o panorama nacional. “Os resultados das autárquicas dão-nos um sinal de encorajamento e de ânimo, mas isso resulta de muito trabalho. Vamos trabalhar para mostrar a todos os portugueses que temos uma alternativa de trabalho para uma governação de centro-direita em Portugal, temos propostas concretas, vamos discuti-las com todo o país, ouvir todo o país e estamos a preparar e estaremos preparados para outros ciclos eleitorais”.

Na pele de líder partidária, mas sem despir o taileur de vereadora da segunda força política da capital, Assunção Cristas realçou as vitórias do partido: “Nós em Lisboa contribuimos muito significamente para retirar a maioria absoluta ao PS, passamos de um vereador para quatro, enquanto o PS passou de 11 para oito. No Porto, contribuimos para a maioria absoluta do dr. Rui Moreira, ajudando a libertar-se do PS”. Mas garantiu que esse não foi tema de conversa com Marcelo.

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