Brasil, um país de violência “imparável”

Dois jovens rapazes, membros de uma facção criminosa de São Paulo, a fumar marijuana. ©André Liohn
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Dois jovens rapazes, membros de uma facção criminosa de São Paulo, a fumar marijuana. ©André Liohn

No ranking das 50 cidades com as taxas de homicídio mais elevadas o mundo, 19 são brasileiras. Mais: ao todo, apenas oito não se situam na América Latina. Os números são do relatório de 2016 da organização não-governamental mexicana Seguridad, Justicia y Paz e provam o clima de insegurança que se vive no país. Em 2016, o Brasil registou 160 mil homicídios (seis por dia apenas por acção das forças policiais), resultado que supera o de países como o Iraque, o Sudão, o Afeganistão, a Colômbia, o Congo, a Índia, a Somália, o Nepal, o Paquistão, entre outros. Apenas a Síria regista piores resultados que o Brasil, com 172 mil homicídios. De acordo com um estudo levado a cabo em 2016 pelo sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, intitulado Mapa da Violência, "entre 1980 e 2014 morreram no Brasil 967.851 vítimas de disparo de arma de fogo. (...) 85,8% do total, foram resultantes de agressão com intenção de matar: foram homicídios."

 

Influenciado pelo trabalho do amigo e mentor Antonín Kratochvíl, André Liohn, fotodocumentarista brasileiro da agência Prospekt, desenvolveu a série de fotografias Revogo com o intuito de abordar estes dados sob forma de imagem. "As drogas transformaram as favelas brasileiras num inferno, com milhões de seres humanos forçados a viver sem acesso a saneamento, reféns de um governo ausente e, pior, em cumplicidade com os gangues que competem por um gigantesco mercado de droga", refere o brasileiro na descrição do projecto. "Todos os dias, os jovens afiliados dos gangues, assim com os seus amigos e familiares, vêem-se envolvidos em vinganças sangrentas que causam mortes entre civis e polícia, que tenta conter a onda de violência que, por esta altura, parece imparável." As imagens de Liohn contêm mais do que violência física; há nelas uma violência moral que pode ser, por muitos, considerada mais ofensiva que a primeira. Situações de abandono, negligência, de abuso sexual e exposição de menores a perigo estão presentes em algumas das fotografias da série. "Eu não nasci para ser fotógrafo", diz Liohn na sua biografia oficial. "As realidades e expectativas para aqueles que nasceram no mesmo tempo e lugar de onde eu venho não foram feitas de sonhos. Aqueles com quem partilhei a minha infância nasceram para serem criminosos, prostitutas, toxicodependentes ou foram mortos em idade precoce."

 

Revogo estará patente na terceira edição da exposição anual de fotojornalismo Sintra Press Photo de 14 de Outubro a 5 de Novembro, no MU.SA (Museu das Artes de Sintra). No local estarão também expostos os trabalhos dos fotojornalistas João Pina e Siegfried Modola.

Carlos Warley Telles Barbosa, 17, morto por atirador não identificado ©André Liohn
Carla Pereira, 19, grávida de 4 meses de um traficante local, é assassinada como forma de vingança ©André Liohn
Polícia membro do ROTA em acção de rusga num bairro de São Paulo ©André Liohn
Robert da Silva, 18, e Ronaldo Pires Barros, 17, vítimas de ataque armado. Perderam a vida em São Paulo. ©André Liohn
Criança de 11 anos, membro de uma facção criminosa de São Paulo, treina uso de arma automática. ©André Liohn
Uma prostituta mostra o peito num dos bares do Red Light District de Botucatu. ©André Liohn