Na Câmara de Lisboa, o tempo ainda é de silêncios

Com menos votos e vereadores, o PS vê-se obrigado a tentar entendimentos à esquerda, mas ainda ninguém quer falar sobre isso. CDS e BE foram as forças que mais cresceram.

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Quando celebrou a vitória, no domingo à noite, Medina ainda não sabia se tinha maioria absoluta - mas garantiu que negociaria com os partidos, fosse como fosse Nuno Ferreira Santos

Fernando Medina não se pode queixar da sua primeira experiência em eleições autárquicas como cabeça-de-lista. O PS venceu e garantiu a liderança da Câmara Municipal de Lisboa por mais quatro anos, que se somam aos dez já passados, divididos entre ele e Antonio Costa. A situação mudou de figura, no entanto, porque os socialistas perderam a maioria absoluta e precisam agora de pelo menos mais um vereador de outro partido para assegurar a estabilidade governativa.

Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda, foi o primeiro a mostrar-se disponível para entendimentos, durante a campanha. Opta agora pelo silêncio, enquanto o panorama não fica mais claro. “Não vou comentar nada. Vamos ter notícias em breve”, promete o agora vereador. Do lado da CDU, que elegeu os mesmos dois vereadores que já tinha, o silêncio é quem mais ordena.

Vale a pena olhar para os números. O PS teve menos 10.315 votos do que em 2013 e perdeu três vereadores: tinha 11, agora tem oito. Os restantes partidos, somados, têm nove vereadores. Os socialistas precisam assim de apenas um eleito da oposição para ter as propostas aprovadas, mas é provável que Medina tente fazer um acordo mais abrangente, com BE e CDU, distribuindo pelouros actualmente concentrados na maioria. O comunista João Ferreira deixou essa porta aberta na campanha, declarando que estava disponível para “exercer responsabilidades a tempo inteiro”.

A segunda força política de Lisboa passou a ser o CDS, que teve mais votos sozinho (51.953) do que a coligação PSD/CDS tinha tido há quatro anos (51.156). O partido de Assunção Cristas passa a ter quatro vereadores, até agora tinha apenas um. Os votos que faltaram a Medina foram também canalizados para o Bloco, que obteve a confiança de mais 7470 eleitores do que em 2013.

O PSD teve menos 77.754 votos do que o PS, confirmando assim as piores previsões. Os sociais-democratas, que perdem um vereador face ao último mandato, mantiveram-se em terceiro lugar, mas apenas com mais 4218 votos do que a CDU. A coligação entre PCP e Os Verdes foi a força que menos cresceu: teve um acréscimo de 1619 votos e mantém os dois vereadores.

Na assembleia municipal, o PS elegeu menos deputados (22) do que há quatro anos (25), sobretudo porque o CDS deu um grande salto: passou de apenas dois eleitos para nove. O PSD, pelo contrário, deu um tombo, e perdeu três deputados. Ainda assim, graças aos centristas, a direita consegue aumentar a representatividade na assembleia, contando agora com 17 eleitos (tinha 14).

A queda do PS nesta votação é compensada por um aumento no número de juntas de freguesia. É que, por inerência, os presidentes das juntas são também deputados municipais. Daqui decorre que o PS fica com 41 deputados (22 eleitos directamente e 19 autarcas), o PSD com 12 (8+4) e a CDU com sete (6+1). Contas feitas, toda a oposição junta – o PAN passou a ter dois deputados em vez de um – não é suficiente para chumbar propostas socialistas, uma vez que só tem 34 eleitos.

A abstenção desceu de 54,94% em 2013 para 48,83% este ano, mas o número de eleitores inscritos também era menor. 

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