O táxi mudou de partido

O colapso do PSD nas duas principais cidades do país confirmou-se e o partido entrou num pântano que terá consequências a curto prazo.

O potencial de análise dos resultados das eleições autárquicas é tão elástico que basta um pouco de imaginação ou de falta de pudor para se encontrar um ângulo no qual todos os líderes partidários se queiram dependurar. Todos com excepção de Pedro Passos Coelho. Porque ainda que o PSD possa aumentar o número de câmaras conquistadas ou o número de votos obtidos em 2013, sobrará para a sua liderança a possibilidade de os seus vereadores nas duas principais câmaras do país, Lisboa e Porto, poderem deslocar-se às reuniões do Executivo de táxi. Um partido com vocação de poder dificilmente pode resistir a esta imagem caricatural.

Como seria de esperar, o PS sai das eleições vencedor. Em Lisboa, no Porto (onde o seu candidato aumenta significativamente o resultado das últimas autárquicas), em Coimbra, nas câmaras que já controlava e, tudo o indicava à hora de fecho deste editorial, no difícil interface com a CDU a sul do Tejo; como seria de esperar, Assunção Cristas passa o seu primeiro teste eleitoral com distinção, ao colocar o CDS no limiar dos 20% na capital nacional; como seria de esperar, a CDU conserva o seu poderoso músculo autárquico, mesmo que possa perder algumas das suas 34 câmaras; e como seria de esperar também, o Bloco ganha mandatos mas fica sem uma única câmara, o que limita o partido ao eleitorado urbano e às disputas para as legislativas.

Só o PSD sai deste desfecho eleitoral com o cenário do “pântano” a vislumbrar-se a curto prazo. Ainda que o contexto fosse difícil, as escolhas erradas da liderança no Porto e em Lisboa carregam o lugar de Passos com mais areias movediças. O PSD, outrora “o partido mais português de Portugal” surge depois destas eleições como uma força acossada, sem personalidades de peso, sem energia nem horizontes para poder resistir às agruras da oposição.

Numa eleição em que o Porto manteve incólume o seu zelo autonómico com Rui Moreira, nota ainda para a vitória de Isaltino Morais em Oeiras. Ter um autarca em exercício que foi condenado por abusos nas suas funções públicas é uma mácula para a democracia. Isaltino já pagou com a sua pena o crime que cometeu contra a sociedade, mas a sua eleição é a prova de que em Portugal o exemplo cívico deixou de contar para a política. O vírus do populismo incrustou-se numa cidade à beira da capital. 

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