Governo de unidade nacional assume controlo de Gaza em ambiente de euforia

Visita a Gaza marca mais um passo na reconciliação das facções palestinianas. Primeiro-ministro palestiniano promete unidade e reconstrução.

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O primeiro-ministro palestiniano Rami al-Hamdallah esta segunda-feira em Gaza MOHAMMED SALEM/Reuters

Centenas de habitantes da Faixa de Gaza fizeram uma recepção eufórica ao primeiro-ministro palestiniano, Rami al-Hamdallah, que visitou o território num "momento histórico".

Foi mais um passo para a reconciliação das duas facções palestinianas, uma década depois da cisão entre Hamas e Fatah após eleições e uma guerra civil.

“Voltamos a Gaza para concluir a reconciliação e unidade nacional, acabar com o impacto doloroso das divisões, e reconstruir Gaza tijolo a tijolo”, disse Hamdallah numa cerimónia de boas vindas, acompanhado por uma guarda de honra do Hamas.

O Hamas anunciou a semana passada que iria passar o controlo administrativo da Faixa de Gaza a um governo de unidade nacional liderado por Rami al-Hamdallah.

Este chegou ao território nesta segunda-feira com uma grande delegação e anunciou que o governo de unidade iria começar a assumir a sua responsabilidade administrativa na Faixa de Gaza, com o estabelecimento de várias comissões para as principais questões da transferência de poder.

“Sabemos que o único modo de conseguir os nossos objectivos é através da unidade”, disse Hamdallah. “Peço a todos, sem excepção, que apoiem a liderança, reconciliação, unidade nacional e que ponham o nosso interesse nacional acima de todas as considerações e interesses partidários.”  

Outras tentativas de reconciliação dos últimos dez anos têm sempre falhado. Muitos palestinianos de Gaza foram receber Hamdallah com esperança de que a unidade traga o fim do bloqueio e o regresso de mais horas de electricidade ao território (apenas tem tido duas a três horas por dia, o que tem tornado inoperacional o tratamento de esgotos). Mas muitos outros estavam cépticos, conta Muhammad Shehada, colunista do Ha’aretz.

A cisão começou após a vitória do Hamas nas eleições legislativas de 2006 – meses depois era formado um governo de unidade com a Fatah, mas este durou apenas alguns meses. As duas facções envolveram-se em confrontos armados; o Hamas acabou por ficar no poder na Faixa de Gaza e a Fatah na Cisjordânia, e assim se mantiveram.

Este ano, o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, cortou os pagamentos feitos a Israel para electricidade na Faixa de Gaza, os salários dos funcionários públicos no território e limitou o número de pessoas que poderiam sair com aprovação para receber tratamento médico.

As medidas pioraram ainda mais a situação no território, onde o Hamas já teve três guerras com Israel, que deixaram um grande grau de destruição – e a reconstrução foi impossibilitada por causa de um bloqueio de Israel depois seguido pelo Egipto, que impediam que material de construção passasse para o território (por poder ser usado para construir túneis ou rockets para lançar contra Israel).

A adesão do Egipto ao bloqueio deixou o território sem qualquer meio de trazer bens de fora. O Hamas perdeu ainda financiamento significativo do Qatar, sujeito a um "boicote político e económico" da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egipto em Junho.

A reconciliação entre Hamas e Fatah é essencial para qualquer esperança de avanço no processo de paz entre israelitas e palestinianos, moribundo há anos. Israel argumenta que não tem um parceiro para negociar do lado palestiniano.

Uma questão importante está, no entanto, por resolver: o Hamas diz que o desarmamento dos seus combatentes não está em cima da mesa. Alguns analistas antecipam que o acordo falhará se o Hamas não desarmar.

Israel opõe-se à entrada do Hamas, que considera um movimento terrorista, na Autoridade Palestiniana, e garante que não lidará com um governo com ministros do movimento.

O enviado da ONU para o processo de paz no Médio Oriente, Nicolai Mladenov, notou, no entanto, a “real vontade política” das duas facções palestinianas neste processo. Mladenov disse que está “cuidadosamente optimista”, sublinhando “as enormes complicações e dificuldades que podem surgir pelo caminho".

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