Os EUA procuram respostas para o mais grave tiroteio da sua história

Um reformado de 64 anos subiu a um hotel em Las Vegas e disparou sobre uma multidão que assistia a um concerto country, matando 58 pessoas e deixando mais de 500 feridos.

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Steve MARCUS/Reuters

Mais do que calma, a vida de Stephen Paddock era aborrecida, até à noite de domingo, quando o sexagenário cometeu o maior massacre da história recente dos Estados Unidos a partir do 32.º andar de um hotel de Las Vegas. Não houve critério na escolha das vítimas. Durante mais de dez minutos, o alvo foram as mais de vinte mil pessoas que assistiam a um concerto que integrava um festival de música country, quando uma chuva de balas instalou o pânico.

Morreram pelo menos 58 pessoas, e mais de 500 ficaram feridas, algumas em estado grave, o que em termos puramente aritméticos faz deste o pior ataque deste género em solo americano. Até agora, o massacre mais mortífero era o tiroteio na discoteca Pulse, em Orlando, em Janeiro do ano passado, em que morreram 49 pessoas, num ataque reivindicado pelo Daesh.

Também agora o grupo terrorista de inspiração islamista chamou a si a responsabilidade pelo ataque, dizendo que o seu autor se tinha convertido ao islão “nós últimos meses”. Porém, o FBI foi rápido a retirar crédito à reivindicação deste grupo radical islâmico. “Apurámos, até ao momento, que não existe ligação com um grupo terrorista internacional”, afirmou o agente especial Aaron Rouse.

O mais difícil parece ser conseguir estabelecer um motivo para que Stephen Paddock tenha levado uma dezena de espingardas automáticas para um quarto no hotel Mandalay Bay, em plena Strip – a célebre avenida onde se concentram os principais casinos de Las Vegas – e alvejado a multidão que assistia a um concerto no outro lado da rua. “Estamos zangados, estamos magoados, estamos confusos” – o governador do Nevada, Brian Sandoval, resumia desta forma o estado psicológico da população.

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Uma vida normal

Até àquela noite de domingo, a vida de Paddock, de 64 anos, não se distinguia da de milhares de reformados que dividem o tempo entre os seus hobbies. Desde 2015 que vivia em Mesquite, uma pequena cidade a uma hora de Las Vegas, na fronteira com o Arizona, conhecida por atrair muitos reformados que ali vivem entre os casinos e o golfe. Foi de lá que terá saído na quinta-feira com o Mandalay Bay como destino, diz a polícia.

A casa de Mesquite é “limpa”, “sem nada fora do normal”, afirmou o porta-voz da polícia local, Quinn Averett, após as buscas. Foram encontradas algumas armas e munições, mas nada de extraordinário para uma região onde o porte de armas é muito comum. No quarto de hotel onde Paddock foi encontrado já morto, a polícia diz que havia mais dez espingardas para além da que foi usada. A polícia acredita que o suspeito agiu sozinho, embora tenha interrogado a sua companheira de casa, Marilou Denley, que se encontrava em viagem.

O irmão do atirador, Eric Paddock, que vive na Florida, recebeu com muita surpresa a notícia e disse estar “horrorizado”. “Ficámos estupefactos e enviamos as nossas condolências às vítimas”, afirmou, citado pela Reuters. Eric descreve o irmão como um homem pacífico cujo grande interesse era o vídeo poker e que foi isso que o levou a mudar-se para o Nevada.

Do ponto de vista criminal, o percurso de Stephen Paddock é imaculado, sem sequer multas de estacionamento. A NBC revelou que o homem fez movimentações relacionadas com jogos de azar no valor de centenas de milhares de dólares nas últimas semanas, embora não se saiba se se tratam de ganhos ou perdas.

O problema das armas

A magnitude do massacre voltou a despertar o debate sobre o porte de armas de fogo nos EUA – um dos tópicos que mais divide o país. Segundo a polícia, Paddock terá adquirido legalmente as armas em sua posse, uma vez que o Nevada é um dos estados com uma lei mais permissiva, de acordo com a qual não é necessário sequer registar a arma.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, limitou-se a fazer uma curta declaração em que descreveu o ataque como “um acto de malvadez pura”, mas não fez qualquer referência à necessidade de se reenquadrar as leis de porte de armas. O seu antecessor, Barack Obama, fez do controlo da venda de armas uma prioridade, especialmente após o massacre na escola primária de Sandy Hook, em 2012, em que morreram 20 crianças. No entanto, a legislação que visava reforçar os mecanismos de registo e controlo de armas de fogo nos EUA acabou chumbada pelo Senado.

O senador democrata Chris Murphy, do Connecticut, onde fica Sandy Hook, disse que “é tempo de o Congresso se mexer e fazer alguma coisa” relativamente à posse de armas. Também a candidata democrata derrotada nas presidenciais, Hillary Clinton, pediu que se enfrente Associação Nacional de Armas (NRA na sigla em inglês), a poderosa associação que defende a liberalização do porte de armas nos EUA.

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