O sorriso do Zé Pratas

Que melhor elogio se pode fazer ao árbitro Carlos Xistra do que não se ter notado no "clássico".

Na oitava jornada da Liga, que se jogou este fim-de-semana, houve clássico. Sporting e Porto defrontaram-se em Alvalade com Carlos Xistra, terceiro classificado da época transacta, a ser o escolhido para esta importante partida.

O resultado do jogo foi um empate a zero golos. Carlos Xistra quase não se notou. Que melhor elogio se pode fazer a um árbitro? Diga-se que o internacional de Castelo Branco contou com a colaboração dos jogadores, que tiveram comportamento exemplar em campo, e contou também com a colaboração dos clubes e das suas comunicações, que não dedicaram a semana fazer guerra entre si ou com a arbitragem.

Neste jogo destaco três lances ocorridos nas áreas:

Aos 36 minutos, no interior da área do Sporting, Mathieu entrou em tacle deslizante para cortar a bola e impedir progressão perigosa de Marega. Chegou primeiro à bola, tocando-a, sem cometer qualquer infracção sobre o atacante do FC Porto. Carlos Xistra, seguramente com palavra de concordância do seu assistente nº1 que estava muito próximo, entendeu que não houve qualquer falta. Decidiu bem num lance que poderia suscitar dúvidas.

Novamente na área do Sporting, aos 40 minutos, foi Aboubakar quem apareceu isolado na cara de Rui Patrício. O guarda-redes do Sporting arriscou, mergulhando aos pés do avançado portista para, com uma palmada com a mão direita, afastar a bola. Correu bem. Apenas jogou a bola. Um contacto posterior entre os jogadores já foi fortuito, inevitável e provocado por ambos. Boa decisão do árbitro em deixar prosseguir sem assinalar qualquer infração.

O outro lance em que se pediu um pontapé de penálti aconteceu na segunda parte e, agora, na área do FC Porto. Após remate de Acuña, a bola ressaltou em dois jogadores do FC Porto e subiu de forma inesperada e de curta distância para a mão de Brahimi. O jogador argelino não teve qualquer intenção de tocar a bola com a mão e, não teve também, qualquer hipótese de evitar que a bola lhe fosse tocar. Mais uma boa decisão de Carlos Xistra.

Não foi uma arbitragem isenta de erros. Mas pudessem todos os clássicos do futebol português ter arbitragens deste nível e, não menos importante, que se pudesse sempre respirar o ambiente de paz que envolveu esta partida.

Este fim-de-semana ficou também, e principalmente, marcado pelo desaparecimento do antigo árbitro José Pratas.

Muitos dos adeptos de futebol lembram-se do José Pratas pelo episódio que protagonizou, na Supertaça de 1992 entre Benfica e Porto, em que teve de “fugir” dos jogadores do FC Porto que o pressionavam para alterar uma decisão. Uma triste e pouco justa memória.

Há outras bem mais importantes, valiosas e felizes que não podem nem merecem ser esquecidas. O Zé Pratas foi um dos árbitros com carreira mais marcante na arbitragem portuguesa. Entre 1998 e 2003 apitou mais de 200 jogos do Campeonato Nacional da I Divisão e I Liga. Foi árbitro internacional de 1988 até 2002. Colaborou com a AF de Évora e com o Conselho de Arbitragem da PFF na formação de centenas de jovens árbitros.

Mas, falando de coisas realmente importantes, importa-me recordar o sorriso honesto que o Zé já não escondia debaixo daquele bigode. Sim, quando o conheci pessoalmente o bigode já não era tão farfalhudo como o dos anos 80 e 90. Convivi com ele na nos cursos de árbitros nacionais da FPF nos quais foi meu formador. Ali, no meio da sua família da arbitragem, conheci um homem humilde, disponível, discreto mas com sentido de humor. Falando de coisas importantes, desapareceu um homem bom...

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