Palavras, expressões e algumas irritações: silêncio

Escolhemos esta palavra porque neste domingo, dia de eleições autárquicas em Portugal, não podemos falar de certas coisas. Nem nós nem eles, os protagonistas a escrutinar. E é tão bom este “sossego”. Chiu!

“Estado de quem se cala, se abstém ou é impedido de falar.” Assim surge no dicionário a primeira definição de “silêncio”.

Escolhemos esta palavra porque hoje, dia de eleições autárquicas em Portugal, não podemos falar de certas coisas. Nem nós nem eles, os protagonistas a escrutinar.

E é tão bom este “sossego”, que também significa “ausência completa de ruído ou barulho”. Uma bênção (poderíamos acrescentar ao dicionário).

Estamos portanto, desde ontem, em “período de reflexão” eleitoral, que “corresponde à véspera e ao próprio dia da eleição até ao encerramento das urnas”, explica a Comissão Nacional de Eleições.

Concretizando: “Nesses dias, a Lei de Sondagens proíbe tanto a divulgação, como a análise, o comentário ou a projecção de resultados de sondagens.” Calados, que o respeitinho é muito bonito.

“Silêncio” é também o nome de um belo festival, que decorreu por estes dias em Lisboa, no Cais do Sodré, e que hoje termina. Chamam-lhe a Festa da Palavra, já que a celebram como “símbolo de comunicação e de expressão”, representando “relações entre os indivíduos e a comunidade”. Apropriado, pensando em concelhos e proximidade.

Também se chama “silêncio” ao “toque de corneta que, nos quartéis, assinala a ordem de recolher e a proibição de fazer barulho.” Seria assim em Tancos?

“Silêncio” quer dizer ainda “pausa no discurso ou numa sequência musical”. Aproveitemo-la o melhor que pudermos, já que, a partir das 20 horas deste domingo, voltará, na voz de vencedores e vencidos, o “ruído”, o “barulho”, a “vociferação”, o “estardalhaço”, o “chinfrim”, a “tagarelice”. Tudo antónimos de “silêncio” e de “paz”.

Até lá, chiu! Votem em silêncio.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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João Catarino

A rubrica Semana ilustrada, nesta edição assinada pelo ilustrador João Catarino e que reflecte o eleitorado nacional, encontra-se publicada no P2

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