O nosso casamento está hoje em festa. Faz dezassete anos. É a idade mais bonita que já teve. Todos os anos, no dia 30 de Setembro, torna-se mais bonita. Nisso é como a Maria João.

A idade de um casamento é como a idade de uma pessoa. Nasce bebé no dia em que se casa e vai crescendo, aprendendo a dar três passos seguidos e depois a falar e a dançar e a sorrir.

Os dezassete anos são o segundo lado de uma quadrado perfeito formado pelos maravilhosos anos dezy: os dezasseis, os dezassete, os dezoito e os dezanove. Os dezasseis são muito bons mas ainda há muita pressão alheia, do já não ter catorze nem quinze, de já ter idade para muita coisa.

Os dezassete já beneficiam das lutas ganhas durante os dezasseis, com a vantagem de ainda não terem as obrigações dos dezoito. Já se sabe muito desde, para aí, os catorze mas aos dezassete já se confirmaram muitas coisas e outras foram convenientemente esquecidas.

Como todas as pessoas apaixonadas por outras o meu único terror é perdê-la. Neste aspecto os anos não ajudam. Também aos dezassete anos há medos e complexos que persistem, apesar das promessas e esperanças com que nos consolámos quando mais morderam, aos doze, treze anos.

Quando nos casámos houve quem adivinhasse quanto é que "ia durar". Outros, incluindo pessoas que não conhecíamos de parte nenhuma, armadas em sábias, disseram "sim, sim, agora é tudo muito bonito. Daqui a dois ou três anos falamos..."

Ninguém disse "daqui a dezassete". E agora, graças a Deus, já ninguém diz nada.