O que realmente aconteceu nos concertos de Buenos Aires

Tentei em devido tempo, mas sem êxito, exercer o direito de resposta em relação a um artigo que me tornou alvo de calúnias. Não o conseguindo, divulgo-o agora.

O artigo de Márcio Resende, correspondente do Expresso em Buenos Aires, sobre o concerto que apresentei no passado dia 2 de Setembro no Centro Cultural Kirchner naquela cidade, gerou tão forte controvérsia e abriu nas redes sociais uma caixa de Pandora em torno de aspectos tão sensíveis à minha vida pessoal e profissional que não permite que me cinja à primeira reacção de pura repulsa que normalmente suscita o lixo jornalístico tão ao jeito dos pasquins socialites, categoria em que não esperaria encontrar o Expresso.

Tudo no referido texto são inverdades, fait-divers e ressaibo incontido, para mais arvorando-se o escriba brasileiro em porta-voz de uma hipotética e reduzida “comunidade portuguesa” presente na sala que de forma alguma pode representar os 4000 espectadores que, em dois dias consecutivos, lotaram o Centro Cultural Kirchner, espaço de referência na cidade de Buenos Aires.

Ao colocar o seu único enfoque na minha recusa em interpretar uma canção pedida por uma única pessoa (!) e que não consta do meu repertório (tendo eu explicado a razão e cantando outro tema muito popular em vez desse) e ao fazer interpretações mal-intencionadas sobre as minhas atitudes (a defesa do direito à própria imagem impedindo que ilegalmente se filmasse o concerto desde a primeira fila com uma câmara profissional) o Sr. Resende escamoteou por completo o facto principal da noite – o estrondoso sucesso que constituiu o espectáculo que será retransmitido nos canais culturais da televisão argentina onde se ouvirão os melhores poetas e compositores da nossa cultura. Algo que penso ser positivo para a nossa Comunidade nesse país. Nessas gravações se poderá ver o que realmente sucedeu.

O autor do artigo esqueceu-se de esclarecer que nunca foi ao concerto, serviu uma encomenda armadilhada. Ofereceu-se para ser veículo de transmissão de uma calúnia, usando para isso o seu estatuto no jornal e a mentira aos seus leitores.

Afirmo (e guardo disso prova) que o artigo foi combinado numa página das redes sociais, à vista de todos os “amigos”, o que mostra o discutível nível de inteligência e a falta de respeito por si próprios, dos envolvidos. Quando o autor da encomenda habilmente provoca o correspondente do Expresso dizendo que a matéria não é publicável, este responde: “É publicável, se tu quiseres”.

Afirmo que o Sr. Resende construiu o seu texto recolhendo palpites nessas redes sociais e quando lhe respondem que não houve reacção alguma do público à minha recusa, resolve afirmar que a fadista portuguesa ofendeu a maioria das 2000 pessoas presentes, provando assim as suas intenções difamatórias.

A notícia foi difundida em várias plataformas e podem ler-se na imprensa portuguesa frases como: “De acordo com o Expresso, depois da resposta negativa da cantora portuguesa... Mísia tornou-se uma portuguesa non grata na Argentina”

O escriba não pergunta se o concerto foi filmado, perigoso lapso.

Juntei a esta minha resposta, fundamentando-a, as provas dos diálogos preparatórios deste conluio, eliminando os comentários mais escabrosos. Veja-se como, no cerne da questão está o pecado do orgulho da artista que reclama o direito ao seu repertório, às suas convicções e até – pasme-se – à sua imagem! Supremo sacrilégio!

E em função desta cartilha, da pertença e favores a um pequeno grupo de poder que explora o natural saudosismo dos nossos emigrantes (tirando daí os seus privilégios) prestou-se o tal Sr. Resende a declarações falsas, generalizações abusivas, num tom de enxovalho que, certamente, não são dignas do correspondente de um órgão de comunicação com o prestígio do Expresso.

P.S.: Ler, a propósito, os textos dos jornais argentinos Clarin e La Nacion ou a crónica de Miguel Azevedo no CM.

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