Será que as notícias da morte de Al-Baghdadi foram manifestamente exageradas?

Daesh divulga gravação de alguém cuja voz parece ser a do líder do grupo que se julgava ter sido morto em Maio, num ataque da Força Aérea russa na cidade síria de Raqqa.

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Baghdadi na sua única aparição pública registada em vídeo, em Julho de 2014 Reuters/Reuters TV

Em Junho, foi noticiado que Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Daesh, fora atingido num ataque da Força Aérea russa ao local, na cidade síria de Raqqa, onde se encontravam reunidas figuras destacadas do grupo terrorista. As autoridades russas deram a sua morte no ataque de 28 de Maio como “muito provável”. Do Irão, pouco depois, chegou a informação de que a probabilidade de sobrevivência era nula. Baghdadi estaria “definitivamente morto”. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, tal como a televisão iraquiana, deram também a morte como confirmada. Ou talvez não.

Esta quinta-feira, o Daesh divulgou uma gravação de 45 minutos em que um homem fala do conflito latente entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte e das batalhas em cidades como Mossul, onde o grupo foi praticamente eliminado. A voz e a cadência do discurso parecem ser as de Baghdadi. “Ele tem uma voz e uma forma de falar muito reconhecíveis e, na minha opinião, é claramente ele”, afirmou à BBC Radio 4 Charlie Winter, analista do Centro para o Estudo da Radicalização no King's College de Londres. 

Ao longo de uma comunicação marcada em grande parte pela exortação religiosa, a voz enaltece os combatentes que, “à custa da sua carne e do seu sangue”, recusaram durante meses a rendição na luta em Mossul — “Só depois de um ano de luta”, enalteceu —, a grande cidade no Sul do Iraque que o Daesh tinha como sua capital e que o Exército iraquiano declarou libertada no final de Junho. Questionou a população síria quanto aos benefícios retirados da aliança entre o Irão e a Turquia para que o regime de Assad pusesse fim à guerra civil no país. Aos seus seguidores deixa uma mensagem: “[Que] intensifiquem um ataque após outro contra os centros de informações dos infiéis e os seus centros de guerra ideológica.”

Um porta-voz das Forças Armadas americanas, Ryan Dillon, declarou à BBC News que, ainda que não haja “razões para duvidar da autenticidade” da gravação, não foram concluídos os exames necessários para confirmar se se trata realmente de Baghdadi. Facto é que, apesar das quase certezas russas e de toda a certeza iraniana, os americanos sempre resistiram a tratar como facto consumado a morte do homem que, em Julho de 2014, subiu ao púlpito da Grande Mesquita de Al-Nuri, na então recém-conquistada Mossul, e se proclamou líder de um novo califado instituído pelo Daesh.

“Sem provas verificáveis da sua morte, continuamos a assumir que está vivo”, explicou Ryan Dillon. Os Estados Unidos anunciaram em 2011 uma recompensa de 10 milhões de dólares pela sua captura ou morte, valor que foi sendo aumentado e que se fixa actualmente nos 25 milhões de dólares (cerca de 21,1 milhões de euros).

Solitário, extremamente cuidadoso na forma como se expõe — diz-se que, não raras vezes, até aos seus comandantes se dirige com a face ocultada —, tem como única aparição pública registada em vídeo o momento da proclamação do califado em 2014. Foi confirmado que passou vários meses de 2015 a convalescer dos ferimentos sofridos num ataque aéreo na zona de Sharqat, na Síria.

O jornal The Guardian refere que tem sido visto várias vezes na cidade síria de Al-Bukamal, fronteiriça com o Iraque, a última das quais em Outubro de 2016.

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