Merkel elogia o voluntarismo europeu de Macron

Cimeira informal debateu propostas para o futuro da UE. Chanceler alemã diz que propostas do Presidente francês são "uma boa base de discussão".

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“A Europa não pode ficar imóvel, tem de continuar a evoluir”, disse Merkel depois de um encontro com Macron VALDA KALNINA/EPA

Não houve entusiasmo, mas o Presidente francês, Emmanuel Macron, ouviu na cimeira de Tallin reacções positivas à ambiciosa agenda para a União Europeia que apresentou no início da semana. A mais aguardada era a de Angela Merkel, reeleita no domingo para um quarto mandato, mas condicionada na sua acção pelas difíceis negociações que tem pela frente para formar uma coligação. E a chanceler alemã não o desiludiu, assegurando que o discurso de Macron constitui “uma boa base de discussão” para o futuro da UE.

Antecedendo a “cimeira digital”, único tema na agenda oficial da reunião informal na Estónia, os líderes dos 28 (desta vez a primeira-ministra britânica, Theresa May, optou por estar presente), reuniram-se num jantar que, além de iguarias estónias, teve como prato forte as visões de reforma apresentadas nas últimas semanas por Macron e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker – intervenções que em comum têm o sentimento que, passado o pior da crise financeira, das ameaças populistas e da crise migratória, e com o “Brexit” a seguir o seu caminho, é tempo de a UE corrigir falhas e avançar nos seus projectos de integração.

Para além de Juncker, que abre quase sempre os jantares dos líderes, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu ao Presidente francês e ao primeiro-ministro português para fazerem a introdução do debate. António Costa retomou algumas das ideias do seu discurso de Bruges, nomeadamente que não vale a pena querer fazer tudo ao mesmo tempo, insistindo na necessidade de concluir a reforma da zona euro o mais depressa possível. As suas propostas procuram um equilíbrio entre a ambição de Macron e as posições da chanceler. 

France is back on stage

Merkel antecipou-se, optando por conversar a sós com o Presidente francês meia hora antes do jantar e foi muito clara no elogio ao seu voluntarismo, após cinco anos em que François Hollande lhe cedeu a condução da locomotiva franco-alemã. “France is back on stage” (A França está de volta ao palco), disse-lhe, assim mesmo em inglês, segundo a reconstituição do encontro feita pelo Le Monde.

O jornal adianta que os dois líderes reconheceram as áreas em que será possível avançar mais rapidamente (segurança e migrações) e aquelas onde têm maiores divergências (a reforma do euro), mas falando aos jornalistas logo a seguir, Merkel deixou claro que “há um alto nível de entendimento entre a Alemanha e a França no caminho a seguir.

“Temos de discutir os detalhes, mas estou convicta de que a Europa não pode ficar imóvel, tem de continuar a evoluir”, afirmou, desmentindo as visões mais pessimistas de que, a previsível aliança com os liberais democratas, a levaria a pôr na gaveta a reforma da UE, sublinhou o El País.

“Miragens no deserto”

Nem todos, no entanto, estão convencidos da urgência deste debate. A Leste, os governos resistem à ideia de ceder mais poderes a Bruxelas e temem ser colocados na segunda divisão de uma Europa a duas velocidades. Vários países do Norte opõem-se a um reforço do euro que implique que os obrigue a partilhar mais riscos com as economias pobres do Sul. E alguns deixaram claro o seu cepticismo depois de terem ouvido Macron repetir ao jantar algumas das suas propostas mais ambiciosas.

“Estamos a começar pelo fim. Estamos a discutir a criação de um ministro das Finanças europeu, mas ninguém me explicou o que ele irá fazer”, reagiu o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte. Igualmente cáustica, a Presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite, escreveu no Twitter: “Os horizontes europeus estão traçados. É importante evitar miragens do deserto no caminho”.  

Quer a presidência francesa, quer várias fontes europeias asseguraram, no entanto, que a ambição reformista de Macron foi bem acolhida em Tallin. “Toda a gente o ouviu com interesse, acha que ele está a fazer um bom trabalho”, disse ao Le Monde um diplomata sediado em Bruxelas. Também Tusk, insistindo como sempre na necessidade de não criar novas divisões, saudou já esta sexta-feira o “debate positivo e construtivo” da véspera.

Revelou ainda que foi incumbido de apresentar já na próxima cimeira europeia, a 19 de Outubro, propostas que dêem corpo a esta discussão – “aquilo a que chamaria a agenda dos líderes de 2017-18”. Um assunto que poderá diminuir ainda mais o destaque que será dado à avaliação das negociações para a saída britânica da UE, um tema que esteve quase ausente da discussão em Tallin, menos quando Juncker disse aos jornalistas que “será preciso um milagre” para que os 27 aceitem nessa data passar à fase seguinte das negociações. com Teresa de Sousa

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