Formação executiva: do conhecimento à criação de valor

As organizações geridas por pessoas com formação executiva em gestão apresentam melhores resultados em vários indicadores.

Não é muito original dizer que o conhecimento é o factor decisivo para a riqueza das organizações e dos países. Diariamente, o conhecimento é gerado, transmitido e transformado em valor nas universidades, nos centros de investigação e em muitas organizações privadas e públicas. Sabemos que as organizações necessitam não só de conhecimento tecnológico como de instrumentos e processos de gestão que assegurem a optimização dos recursos e a criação de valor. Esse é o papel da formação de executivos, quer seja ao nível graduado (licenciaturas, mestrados e doutoramentos), nas instituições de ensino superior, quer não graduado.

Do ponto de vista dos formandos, os estudos encontram retornos salariais associados à formação na ordem dos 10% a 20%, além de outros importantes benefícios que se podem retirar da formação e que dizem respeito a benefícios fiscais pelo pagamento de propinas, possível promoção laboral e melhorias nas suas competências pessoais.

Talvez mais importante sejam os benefícios da formação em gestão para as organizações privadas e públicas, nomeadamente quanto ao impacto no seu desempenho. Os estudos têm vindo a comprovar que a formação é uma das vias mais eficazes para potenciar a motivação e o empowerment dos quadros médios e superiores e que se traduz em níveis maiores de produção e de criação de valor na empresa. As organizações geridas por pessoas com formação executiva em gestão apresentam melhores resultados em vários indicadores. Algumas iniciativas operacionais importantes para as organizações, como a orçamentação e a análise de contas e as actividades de marketing de exportação, são mais eficazmente implementadas por gestores com formação formal relativa à oferta que se pretende apresentar. Existem ainda outras vantagens, como a consideração da formação como uma opção de negociação salarial, um fringe benefit (aumenta o ordenado líquido com menor incidência de descontos), bem como o cumprimento das obrigações legais de oferecerem formação (válido para organizações privadas e públicas que preenchem determinados requisitos).

A premissa da educação executiva é aprender a tornar-se um executivo mais bem sucedido. Isso significa que uma escola deve ser capaz de, em primeiro lugar, desenvolver conhecimento de excelência e depois transformá-lo em ferramentas operacionais com uma aplicabilidade muito clara. As técnicas adquiridas num curso de formação executiva podem, por exemplo, contribuir para o reforço das relações com os clientes ou para a geração de novas ideias para um problema particular, o que nem sempre tem efeito discernível no imediato. Neste sentido, as medidas de avaliação do sucesso da formação dependem muito dos objectivos do cliente. Por isso, é necessário trabalhar com ele, em primeiro lugar, na identificação dos seus problemas e do tipo de soluções que procura, na definição do seu plano de acção e depois na avaliação da desejabilidade dos resultados da sua implementação.

O desafio da educação executiva — que nos EUA teve o seu pico em 2006, momento a partir do qual entrou em declínio em termos de volume de receitas — é o de acompanhar e liderar a gestão do impacto do extraordinário desenvolvimento das TIC nas organizações futuras, nos seus modos de gestão e das competências dos recursos. Por um lado, é evidente que as qualificações ocuparão um lugar de ainda maior saliência nas organizações futuras, impelindo a formação para a necessidade de desenvolver competências verdadeiramente diferenciadoras. Por outro lado, a criação de valor continuará a ser o seu desígnio intrínseco. No caso português, a oferta de formação executiva deve ser diferenciadora para acompanhar a expansão de sectores tradicionais, como o turismo, o vinho, o têxtil e o calçado.

O boom das chamadas “business schools”, a que assistimos recentemente em Portugal, deve ser discutido a esta luz. Para poder ser útil.  

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