Uma foto de casamento, o mano do presidente e uma princesa que é de ferro

Num pavilhão de mesas redondas e toalhas brancas, o palco principal é de António Costa, mas a fotografia XXL é de uma noiva de véu e grinalda

Foto
LUSA/MANUEL ARAÚJO

O-candidato-que-é-o-filho-de-Vieira-de-Carvalho-mas-não-quer-ser-tratado-por-filho-de-Vieira-de-Carvalho decidiu que bom, mas mesmo bom, era mostrar que além de filho-de-Vieira-de-Carvalho-é-homem-de-família-e-bem-casado. Não sabe este jornal precisar quando foi a cerimónia nupcial, mas atendendo à idade actual do candidato-noivo (45) e ao aspecto na fotografia, deverá ter sido, digamos, há 20 anos.

Estabelecido que está o momento incerto que o terá marcado para a vida, regresse-se ao presente - um jantar de campanha na Maia - para contar que o candidato-nubente de há 20 anos fez questão de projectar numa tela de tamanho XXL a fotografia do seu casamento... durante a dita acção partidária. Na imagem aparece sorridente ao lado de uma jovem de vestido branco com véu, cauda e grinalda.

No pavilhão municipal da Maia, centenas de convidados dividiam-se pelas mesas redondas de toalha branca debaixo do slogan “um novo começo”, que tem mais a ver com a luta autárquica do que com a fotografia do jovem casal. O noivo, perdão, o candidato é Francisco Vieira de Carvalho, filho do histórico presidente da câmara daquela autarquia, José Vieira de Carvalho - falecido em 2002 -, que se candidata com o apoio do PS e do movimento Juntos Pelo Povo (JPP). As suas chances de vitória são medidas à unha naquele concelho que foi gerido por Bragança Fernandes, que agora não pode mais ser candidato.

Ora o independente apoiado pelo PS decidiu dar tudo nestas autárquicas e acabou a dar de si. Na dita tela foram passando fotos pessoais, para gáudio dos apoiantes que nelas reconhecem o antigo presidente da câmara pelo CDS e pelo PSD, pai do candidato, com o candidato ao colo. Mas Vieira de Carvalho, o filho, tem insistido na ideia que não quer ser levado ao colo pelo nome que carrega, mas pela força que tem.

Acelere-se para meio do jantar, já sem a presença do líder do PS, António Costa, que foi àquele jantar-comício falar por dez minutos sem direito a pausa para jantar. Ao microfone fala uma senhora que anuncia que tem uma mensagem importante para transmitir de um apoiante ausente. Nem mais nem menos que um Rebelo de Sousa, o mano António do Presidente da República.

É com muita estima pessoal, pela “convicção”, pelo “amor à terra” e pela “família” que António deixa uma mensagem de apoio. António um “adepto da social-democracia e do socialismo democrático” falou por si, mas os apoiantes ouviram o apoio implícito de Marcelo. É que Francisco Vieira de Carvalho foi apoiante e participante na campanha que levaria Marcelo a Belém.

Há “princesas de ferro” que querem figurar numa “quinta de celebridades”

Solta-se aquela voz de rádio dos anos 80, carregando nos graves e prolongando as vogais. “Já aí vem o noooooossooooo [pausa para prolongar o ‘nosso’] secretário-geral”. Abre-se um cordão de pessoas de camisola verde e bandeira em riste. Nas filas de trás, há quem se ponha em bicos de pés para ver António Costa.

Por aqui, ainda há uma avenida que se chama Avelino Ferreira Torres, o conhecido autarca que andou anos a braços com a justiça, que no ano passado ainda pensou em voltar à vida política activa, e que chegou a participar no programa de televisão Quinta das Celebridades.

Por aqui, o speaker entusiasmado do comício socialista esquece a estrela de má fortuna de Adelino e fala em “chuva de estrelas”. Queria com esta apresentação entusiasmada chamar a candidata socialista Cristina Vieira ao palco. A candidata em quem Costa aposta forte (já fez campanha no Marco de Canaveses por duas vezes) para roubar a câmara ao PSD e geri-la pela primeira vez em 43 anos.

Não é sabido que a luta autárquica tenha levado alguém a tentar assassinar a candidata (como aconteceu a Margaret Thatcher), nem se vislumbra pelo seu discurso que negoceie duro com sindicatos (como fazia a Dama de Ferro britânica), nem tão pouco que tenho um problema muito grave com comunistas – ou não seria do partido que tem o apoio do PCP no Governo. Será pelo feitio ou pelos apetites de quem gosta de alcunhar que ficou conhecida como “a princesa de ferro”. Resta saber se tem fibra suficiente para no dia 1 convencer a maioria dos marcoenses. O PS aposta que sim.

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