Passos em campanha local, com um olho na “geringonça” e outro no partido

Líder do PSD termina o dia em Lisboa a dizer que o Governo está "acossado" e "mimado".

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A um dia de terminar a campanha, Passos andou de comboio na Linha de Cascais MIGUEL A. LOPES/LUSA
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Passos esteve num jantar de apoio à candidata do PSD a Lisboa, Teresa Leal Coelho MIGUEL A. LOPES/LUSA

Passos visita estaleiro de obras, Passos anda de comboio, Passos aceita improvisar um comício, Passos discursa em jantar de apoio à candidata a Lisboa. É o líder da oposição no penúltimo dia de campanha autárquica. Passou a manhã a dar apoio ao candidato à câmara que é uma das estrelinhas do PSD – Cascais. Sujou os pés de pó branco no novo campus da Universidade Nova de Carcavelos –  uma obra decidida no tempo do seu Governo – e não “revertida” pelo actual executivo – e viajou de comboio para mostrar que houve investimento naquela linha que ficou na gaveta. Na volta pelo país, Passos fez uma campanha local (e interna) embrulhada numa visão nacional de crítica à “geringonça”. Fosse por causa dos cortes na saúde, educação e em obras públicas ou por causa de um relatório sobre Tancos.

Num jantar previsto para pouco mais de mil pessoas, mas onde havia muitos lugares vazios, na antiga FIL de Lisboa, só num momento Passos Coelho aqueceu a sala onde era audível o burburinho durante o seu e também noutros discursos. Foi quando sugeriu que há quem bajule o Governo e que à frente do executivo não vá estar “como um menino mimado, aborrecer-se e perder a compostura”, num recado que é dado um dia depois de o primeiro-ministro ter interrompido abruptamente uma entrevista à Rádio Renascença.

Mais directas foram as críticas lançadas à posição de António Costa quando pediu mais votos nestas autárquicas para conquistar mais poder de negociação com os partidos que o apoiam: “Quem lhe deu força foi ele, quem tem de descalçar a bota é ele”. O discurso voltou ainda à mensagem de que se “já perdeu dois anos” na construção do futuro do país. Passos Coelho não se importou de recuperar as palavras de um dos seus críticos internos, José Eduardo Martins.

Como candidato à Assembleia Municipal de Lisboa, José Eduardo Martins lembrou que, na sua primeira campanha, em 2009, ao lado de Manuela Ferreira Leite, “o país escolheu o engenheiro Sócrates, dois anos depois arrependeu-se amargamente”. Passos Coelho também faz o paralelo com o actual governo nacional e municipal. “Foi demasiado tarde para se chegar a essa conclusão. Um desperdício de oportunidades, estamos a empurrar com a barriga. O país precisa de mais de simpatia precisa de coragem e de reformismo para resolver os problemas. Assim também é para Lisboa”, afirmou, arrancando nesta altura uma das mais fortes salva de palmas da sua intervenção.

No momento em que era divulgada mais uma sondagem que coloca Assunção Cristas à frente de Teresa Leal Coelho (RTP/Católica), Passos Coelho voltava a desvalorizar – escusam de “torcer e retorcer” – e deixava a certeza de que no domingo o PSD em Lisboa “vai ter um bom resultado”.

O dia de campanha começou em Carcavelos, no novo campus da Universidade Nova em construção, um projecto que Passos Coelho disse conhecer bem e que foi decidido no tempo do seu governo. Depois, a caravana deixou os automóveis e seguiu de transportes públicos.  

A estação de comboios de Carcavelos estava deserta ao final da manhã, mas isso não parecia incomodar o líder do PSD nem Carlos Carreiras, o candidato PSD/CDS a um segundo mandato em Cascais. Desde que se tornou primeiro-ministro que Passos Coelho não viajava de comboio. “Onde está a videovigilância?”, perguntou, rodeado de jornalistas, dentro da carruagem, onde permaneceu de pé durante os cerca de 20 minutos da viagem. Só cumprimentou uma passageira que entrou, na porta mesmo à sua frente, em São João Do Estoril, e que (coincidência ou não) se assumiu como apoiante do PSD a caminho da acção de campanha, acompanhada pelo marido. As bandeiras, as palmas e os gritos de alegria haveriam de se ver e ouvir à chegada à estação de Cascais, gerando-se alguma confusão no acolhimento dos dirigentes. “Juntaste aqui muita gente”, comentou Passos Coelho, dirigindo-se a Carlos Carreiras, que é também o coordenador autárquico do PSD.

Sem casaco e sem o pin de Portugal na lapela que se colou à imagem de primeiro-ministro, o líder do PSD caminhou por algumas ruas de Cascais, sem insistir em muitos contactos com a população como aconteceu durante esta última semana de campanha. Encontrou uma das filhas que trabalha num dos restaurantes na cidade – “estás muito bem fardada” – e seguiu caminho ao lado de Carreiras e do centrista Pedro Mota Soares (candidato à Assembleia Municipal). Num dos largos da cidade, os três subiram uns degraus junto a uma igreja e improvisaram um comício. A luta é contra a abstenção e o risco de uma “geringonça” local PS/PCP.

Já no país, a geringonça no Governo tem sido também o alvo da volta nacional de Passos Coelho, que pôde dar exemplos de investimentos públicos que ficaram na gaveta para dar “mais dinheiro às pessoas”. O discurso não mudou muito nos últimos meses como afirmou esta quinta-feira à TSF: “a austeridade não acabou” e foi transferida para áreas que se “notam menos.”

Na última semana de campanha que o PÚBLICO acompanhou, Passos Coelho mostrou estar mais solto, mais descontraído. Fez uma ou outra arruada, visitou instituições sociais, viajou de moliceiro, participou num almoço-arraial e num comício com um outro ex-primeiro-ministro, Pedro santana Lopes. Não houve banhos de multidão e nem parece que a preocupação da volta fosse essa.

A organização da volta nacional só divulgava duas ou três acções de campanha por dia. O resto da agenda era secreta e isso foi assumido desde o início. Esta forma de gerir a campanha permitiu a Passos Coelho passar por locais onde o terreno é pouco favorável ou desconfortável como aconteceu quando se deslocou a Oeiras na passada semana. Mas, entre as acções divulgadas em que participou, foi clara a insistência no distrito de Braga, onde os socialistas se dividiram em candidaturas apoiadas pelo PS e as independentes. Desavenças que o PSD quer capitalizar. Mesmo que sejam os movimentos a conquistar essas câmaras são municípios que não serão contabilizados pelo PS. Assim vai a contabilidade social-democrata.

Quando os críticos parecem afiar as facas para o day-after, Passos Coelho deixou claro que não há uma relação causa-efeito entre os resultados de domingo e a sua liderança. Ao mesmo tempo, tentou dar um sinal de normalidade ao anunciar o calendário interno: eleições directas serão em finais de Janeiro ou princípios de Fevereiro e o congresso será um mês depois.

Lisboa pode ser a maior dor de cabeça para o líder do PSD. Mas, para já, desdramatizou o equilíbrio de forças com a candidata do CDS. Disse não ver Assunção Cristas como “adversária” já que é possível trabalhar em conjunto: “Já o fizemos noutras ocasiões e teremos oportunidade de o fazer no futuro. Seria, pelo menos, um bom indicador.”

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