Jeremy Corbyn avisa May para "se recompor ou dar lugar a outro"

Líder trabalhista encerrou congresso com um discurso triunfal. Garante estar pronto para governar e assegura que as suas propostas são o novo "mainstream político"

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Corbyn diz que “o centro político não é hoje o mesmo que era há 20 ou 30 anos” NEIL HALL/EPA

Jeremy Corbyn, ainda há meses visto como um líder incapaz de levar de novo os trabalhistas ao poder no Reino Unido, garante que o Labour “está pronto” para governar e que as propostas descritas como radicais pelos jornais e as empresas representam “aquilo que a maioria do país quer de verdade”. Colhendo os louros do bom resultado que o partido obteve nas eleições de Junho, atacou sem dó a forma como o governo conservador está a gerir as negociações do “Brexit” e deixou um aviso: “A bem do Reino Unido, recomponham-se ou dêem o lugar a outro”.

“Nunca o interesse nacional foi tão mal servido num assunto tão vital. Ainda que não houvesse outra razão para mandar embora os tories, esta trapalhada incompetente do ‘Brexit’ seria razão suficiente”, disse Corbyn no final do congresso anual dos trabalhistas, em Brighton.

O Labour só recentemente assumiu que defende a continuação do actual status quo durante um período de transição após a saída britânica da União Europeia e continua dividido sobre se o país deve manter-se no mercado único após essa fase – o que o obrigaria a abdicar de controlar a imigração. Mas as palavras de Corbyn devem ter soado ainda mais duras em Downing Street, num momento particularmente delicado para a primeira-ministra, Theresa May, depois de o discurso que fez na semana passada em Florença não ter convencido os líderes europeus a acelerar as negociações.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse terça-feira em Londres que “não houve ainda progressos suficientes” nas discussões iniciadas em Junho e é pouco provável que a quarta ronda, que termina esta quinta-feira em Bruxelas, traga novidades capazes de quebrar um impasse que alarma cada vez mais o executivo e as empresas britânicas. E, a quatro dias da reunião anual dos conservadores, sobram sinais de que May não conseguiu unir o partido em torno dos seus planos para o “Brexit” – um desafio à sua liderança continua em cima da mesa, mesmo que no partido muitos estejam conscientes de que uma luta interna poderá abrir a porta de Downing Street a Corbyn.

Um objectivo que o líder trabalhista garante estar ao seu alcance, como diz ter ficado provado nas últimas eleições, em que o partido “teve a maior subida de votação desde 1945 e o melhor resultado numa geração”, contra todos os que consideravam o seu programa demasiado radical. No seu discurso, repetiu as promessas de abolir as propinas nas universidades e renacionalizar serviços, acrescentando-lhes a intenção de dar poderes às autarquias para impor rendas controladas e, na esteira do incêndio que matou dezenas de pessoas na Grenfell Tower, defendeu regras apertadas para que os programas de reabilitação não sejam usados para expulsar das suas casas os moradores mais pobres.  

Propostas que, garante Corbyn, não são radicais e correspondem às expectativas de uma fatia crescente de eleitores. “O centro político não é hoje o mesmo que era há 20 ou 30 anos”, disse, acrescentando que “um novo consenso está a emergir depois da grande crise económica e de anos de austeridade”, colocando o Labour no “mainstream político”. As confederações patronais não tardaram a criticar o discurso, mas Corbyn, o agora senhor do partido e da popularidade, acredita que “2017 pode ser o ano em que a política finalmente reagiu à crise de 2008”.

 

 

 

 

 

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