"Vamos ser grandes parceiros". Está aberta a porta a um acordo entre PS e CDU em Cascais

Candidatos do PSD/CDS, PS e CDU a Cascais encontraram-se no mercado da cidade. Entre pregões, queixas e abraços, o mais revelador foi entre socialistas e comunistas que se querem parceiros "contra o carreirismo".

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Mário Lopes Pereira
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“Olha a sorte grande! Olha aqui a sorte grande!”. O pregão entoava no concorrido mercado de Cascais, onde na manhã desta quarta-feira alguns candidatos à câmara cascalense ali acorreram para auscultar a sua sorte. Para eles, ainda não é amanhã que anda a roda. Só no domingo, por isso, entre pregões e palavras de ordem, cada um foi vender o seu peixe. Primeiro, foi o actual autarca e recandidato da coligação PSD/CDS, Carlos Carreiras, depois Clemente Alves, o vereador comunista que procura a presidência da autarquia e Gabriela Canavilhas, que avança pelo PS. As caravanas cruzavam-se e entre duas das campanhas trocaram-se promessas de parceria. PS e CDU falam em parceria "contra o carreirismo".

Numa arruada rodeado de gente, com direito a gritos de incentivo e dezenas de bandeiras laranjas a esvoaçar, o autarca percorreu, em passo apressado, as bancas do mercado e a feira exterior, juntamente com o candidato à assembleia municipal, Pedro Mota Soares, e os candidatos às juntas de freguesia do município. 

Entre a parafernália de câmaras e máquinas fotográficas, beijinhos e paragens para dois dedos de conversa, o “senhor presidente” ouvia as críticas da população que se queixava de ruas que estão à espera de ser alcatroadas ou de um jardim no Alvito onde as raízes das árvores levantaram o chão. "Quando é que o senhor manda arranjar aquilo? Vocês arranjaram a rua toda e esqueceram-se daquela praceta", diz-lhe a munícipe, lembrando que, por duas vezes, já uma “velhota ali se espalhou”. "Eu vou mandar ver isso", dizia-lhe Carreiras prontamente.

"Não se esquece, senhor presidente? Ainda tem as filhas no colégio? Senão vou lá lembrá-lo", continuava a senhora. À medida que as reclamações se avolumavam, Carreiras ia anotando-as num programa igual ao que distribuía aos feirantes. 

"Ó senhor presidente, não gaste papel comigo. Já sabe que vou votar em si", ouvia de uma munícipe entre cumprimentos efusivos, que aproveitava para pedir uma "canetinha ou um porta-chaves". Comportamento, aliás, repetido vezes sem conta por quem não resiste ao merchandising político tão popular nesta altura de eleições.

"Então, posso cumprimentá-la?". Sempre activo, Pedro Mota Soares, antigo ministro no Governo Passos/Portas, agora na disputa pela assembleia municipal pela aliança do centro-direita cascalense, aproveitava para nos confessar que “vibra muito com as campanhas”. 

Lado a lado com Carreiras, detiveram-se numa banca de sapatos. "Até dia 14 tenho que cá vir comprar uns sapatos que é para o casamento da filha", dizia o autarca ao vendedor. "E eu tenho que cá vir comprar outros sapatos que já gastei as solas destes depois de tantos quilómetros por aí”, continuava Mota Soares. Estava para terminar mais uma etapa, não sem antes tirar uma fotografia de grupo nas escadas do mercado. "Carreiras vai em frente tens aqui a tua gente!", entoava pelo mercado, servindo de banda sonora ao fim de mais uma arruada. 

"Vamos ser grandes parceiros"

No lado oposto, longe do alvoroço provocado pela passagem de Carreiras, começava Gabriela Canavilhas a sua acção, acompanhada por uma comitiva bem mais pequena e bem menos jovem. 

"Posso incomodá-la um bocadinho?", questionava a candidata socialista, enquanto ia entregando os folhetos e incentivando ao voto num concelho que diz ser o terceiro do país com mais abstenção. Aliás, o pedido para que os munícipes vão às urnas no domingo foi sendo repetido, da esquerda à direita. 

Já depois da “enxurrada de gente das nove da manhã”, iam-se metendo panfletos ali mesmo nas sacas de legumes e da fruta dos fregueses, para que fossem lidos mais tarde, que não era tempo de incomodar quem andava às compras.

"Então, já decidiu? Posso confiar na sua escolha?", perguntava a candidata. A resposta fê-la sorrir de orelha a orelha e valeu um abraço à munícipe que jurava fidelidade ao PS. “Olhe que é do coração. Desde pequena. Já o meu pai era”. 

Canavilhas, que foi ministra da Cultura de José Sócrates, foi respondendo aos apelos dos munícipes que pediam que não se esquecesse de certas zonas da cidade. "Carcavelos está esquecida no mapa", queixava-se uma munícipe. "Sabe porquê? Porque quem gere o concelho só tem olhos para a mesma coisa, para os mesmos clientes partidários e económicos", atirava a socialista. 

"Ainda no outro dia fui a Talaíde e parecia que estava no fim do mundo", dizia, em conversa com uma freguesa, acusando a gestão de Carreiras de cavar desigualdades no concelho.

Mas o momento alto da arruada estava para chegar quando Clemente Alves, o candidato da CDU, furou o cordão de apoio à socialista para a cumprimentar. Num abraço apertado ao “querido Clemente”, Canavilhas prometia: "Vamos ser grandes parceiros". "Contra o carreirismo. Contra a vigarice, contra a mentira. Tudo pela verdade, tudo a favor de Cascais”, completava o comunista, com a socialista a subscrever cada palavra. No final, cada um seguiu a sua caravana, mas a porta a um acordo entre as duas forças políticas em Cascais acabou por ficar escancarada.  

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