Impresa teme “opacidade” no sector dos media com compra da TVI pela PT

O presidente da empresa que detém a SIC diz que a concentração entre a Media Capital e a PT pode "ser muito nefasta" para o sector dos media e para a sociedade portuguesa.

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Rolando Oliveira, da Controlinveste, Gonçalo Reis, da RTP, e Francisco Pedro Balsemão, da Impresa, durante o debate no congresso das comunicações MIGUEL A. LOPES

O presidente executivo da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, afirmou nesta terça-feira que a concentração resultante da compra da Media Capital (dona da TVI) pela PT pode ser “muito nefasta” para o sector dos media e “ter um grande impacto sobre a sociedade” portuguesa.

“Vemos com grande preocupação esta tentativa de convergência no sector, que pode ser muito nefasta”, afirmou o gestor, durante um debate sobre o impacto da transformação digital no negócio dos media, no congresso anual da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC).

Para a plateia e para os seus colegas de painel, incluindo Rosa Cullell, a administradora delegada da Media Capital, o líder do grupo que detém a SIC quis deixar clara a mensagem: "Tem de haver concorrência leal na distribuição de conteúdos e no investimento publicitário”.

Fazendo eco de preocupações já manifestadas pelo regulador das comunicações, a Anacom, o presidente da Impresa sublinhou que uma “verticalização como a de que se fala” poderá ter consequências séria para um “sector que é fundamental para o país”.

No parecer que enviou à AdC, a Anacom disse que a operação não deveria ser aprovada nos moldes em que foi anunciada e sublinhou que a entidade que resultar da concentração entre a PT e a Media Capital terá "incentivos" e "capacidade" para fechar o mercado publicitário e dos conteúdos à concorrência. O que está em causa é uma "integração vertical completa da cadeia de valor", dando lugar a que no mesmo grupo decorram as "relações comerciais entre a produção de conteúdos, o fornecimento grossista de canais de TV e de rádio, a publicidade e a distribuição do serviço de televisão", afirmou a Anacom no seu parecer.

Num momento em que “nunca [como agora] houve tanta procura, mas também tanta oferta de conteúdos”, não pode “criar-se opacidade e anarquia no sector” dos media, sublinhou Francisco Pedro Balsemão, dizendo que “tem de haver concorrência leal na distribuição de conteúdos e no investimento publicitário”.

E depois, dando voz a receios também manifestados na segunda-feira pelo presidente da Sonae, Paulo Azevedo, o presidente da Impresa sublinhou que é preciso “garantir o pluralismo e a diversidade de opiniões para a nossa democracia”.

Na segunda-feira, à saída de uma reunião na ERC, em que foi alertar para os riscos que vê na operação de compra anunciada pela dona da PT, o líder da Sonae (que é uma das principais accionistas da Nos) disse que o negócio é contrário ao interesse público por poder fomentar ligações perigosas entre os media e o poder político.

“Estamos a falar em juntar a propriedade do maior grupo de comunicação social com o maior grupo de telecomunicações e hoje os grupos de telecomunicações são o canal que está entre os consumidores e a comunicação social”, afirmou Paulo Azevedo.

Já no debate da APDC, Rosa Cullell (lembrando que foi jornalista em Espanha na época do franquismo) sublinhou que não está nada “preocupada com a liberdade de imprensa em Portugal” e garantiu que o grupo, que é líder de audiências, vai continuar a fazer “informação independente, porque senão as pessoas vão-se embora”. Além disso, assegurou que a nova Media Capital/PT vai querer ter os seus “canais em todas as plataformas sem discriminações, nem restrições”.

Assumindo que o grupo “quer ser líder no digital”, Rosa Cullell diz que "só as empresas fortes" vão ter dimensão para lutar contra gigantes como o Google e que será preciso “libertar muito investimento” para ir atrás “dos melhores talentos”, como youtubers e vloggers, e dar aos espectadores o que eles querem ver, seja qual for a plataforma.

Investir em conteúdos, especialmente no entretenimento e na ficção portuguesa, juntar a TV e o digital para estar presente em todas as plataformas e apostar em novos modelos de publicidade – como a publicidade online, direccionada – são algumas das estratégias para garantir receita, explicou a gestora.

Sobre a publicidade, Rosa Cullell salientou que os grupos de media “vão ter de ser ajudados” pelo Governo e pelos reguladores: “Temos de acabar com os blocos de publicidade de 12 minutos, os espectadores não querem mais isso, não querem ser interrompidos”, explicou a responsável da Media Capital, notando que uma das apostas será fazer publicidade dentro dos programas.

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