Proteína pode ajudar a diagnosticar síndrome que afecta pugilistas e jogadores de futebol americano

Doença relacionada com impactos violentos na cabeça só podia ser diagnosticada após a morte. Descoberta possibilita o desenvolvimento de terapias.

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REUTERS/Lucy Nicholson

Uma equipa de investigadores identificou uma proteína que poderá ajudar a diagnosticar uma doença neurodegenerativa frequentemente encontrada em atletas, veteranos de guerra e outras pessoas que sofreram lesões no cérebro, revelou um novo estudo publicado na terça-feira. Cientistas da Universidade de Boston, nos EUA, e investigadores de uma rede de hospitais para veteranos de guerra da mesma cidade descobriram níveis elevados da proteína CCL11 no cérebro de jogadores de futebol americanos já falecidos que sofriam de encefalopatia traumática crónica (ETC), mas não no cérebro de pessoas saudáveis, nem de pessoas afectadas por outra patologia neurodegenerativa, a doença de Alzheimer.

Actualmente, a ETC só pode ser diagnosticada através da análise do tecido cerebral de uma pessoa morta. De acordo com o estudo, publicado na revista Plos One, e porque a proteína CCL11 pode ser detectada no líquido cefalorraquidiano, está-se agora mais próximo do desenvolvimento de um método para diagnosticar este tipo de encefalopatia em doentes vivos.

A ETC está associada à ocorrência de repetidas lesões traumáticas no cérebro e pode levar à depressão, ansiedade e perda de memória. O estudo observou que os sintomas desta síndrome são semelhantes aos da doença de Alzheimer, e os médicos têm lutado para distinguir entre Alzheimer e a ETC em pacientes. Esta doença, também conhecida como demência pugilística ou síndrome de pugilista, é uma patologia neurodegenerativa progressiva caracterizada pelo declínio cognitivo, alterações de comportamento, problemas de memória, tremores, falta de coordenação e problemas com a fala.

A designação de demência pugilística decorre do facto de, até 2002, a síndrome só ter sido detectada em lutadores de boxe. Porém, com o diagnóstico de casos da doença noutro tipo de atletas e de profissionais, nomeadamente em jogadores da NFL, a liga de futebol americano, acabou por ficar rotulada de ETC.

No Verão, a Universidade de Boston divulgou os resultados de investigações em que foram detectados sinais de ETC em 110 dos 111 ex-jogadores da (NFL) já falecidos que foram analisados. Esta liga profissional, bem como outros campeonatos escolares e universitários, tem actualizado as regras do jogo de modo a limitar este tipo de lesões. Recentemente, e sobretudo nos Estados Unidos, também tem sido discutida a proibição dos cabeceamentos no futebol, nos escalões infantis.

A ETC foi diagnosticada em jogadores da NFL, incluindo Junior Seau e Dave Duerson, dois atletas que se suicidaram. Aaron Hernandez, ex-jogador no New Englands Patriots, que também se suicidou, na prisão, em Abril, seria igualmente um "caso grave" de ETC, segundo argumentam os investigadores da Universidade de Boston. Nos três casos, o que se sugere é uma relação entre a doença e alterações comportamentais extremas.

Em comunicado, a universidade norte-americana descreve esta investigação como um passo importante para o desenvolvimento de terapias para tratar a doença e para melhorar as formas de a prevenir. A proteína CCL11 é vista, de facto, como um prometedor biomarcador que poderá ser usado no diagnóstico e terapia da ETC, apesar de os autores do estudo avisarem que ainda é preciso investigar mais. No entanto, a CCL11 poderia, argumentam os cientistas, ser eventualmente usado como complemento num exame com outros biomarcadores e procedimentos, como a tomografia por emissão de positrões (PET, na sigla em inglês), para conseguir diagnosticar ETC. 

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