Os lances do Moreirense-Sporting

Procuro, sempre que possível, dedicar este meu espaço ao esclarecimento de questões relacionadas com a arbitragem. A ideia é ajudar o leitor a ter as bases para poder, ele próprio, formar a sua opinião de acordo com aquilo que são as Leis de Jogo e as instruções que são dadas aos árbitros.

Momentos houve em que escolhi falar das Leis de Jogo de forma abstracta, não “ilustrando” com casos de jogo reais. Outras vezes, optei por pegar num ou vários jogos e utilizar as situações ocorridas para explicar alguns detalhes das leis do futebol.

Nesta jornada, na observação que fiz dos diversos jogos, houve uma partida que se destacou pelo número de lances difíceis e discutíveis que teve: o Moreirense-Sporting.

Em baixo analiso alguns lances esse jogo por considerar que têm interesse académico para se perceberem algumas situações relacionadas com as decisões dos árbitros e dos videoárbitros (VAR).

Aos 34 minutos de jogo, foi assinalado um fora-de-jogo ao ataque do Moreirense numa jogada que poderia ser muito perigosa para a baliza do Sporting. O lance envolveu dois jogadores: Tozé, que se encontrava sobre a linha de meio-campo (dúvida se estava apenas no seu meio-campo ou se já tinha alguma parte do seu corpo no meio-campo do Sporting), e Zizo, que se encontrava vários metros no interior do seu meio-campo. A bola foi colocada para a corrida de Tozé e o árbitro assistente, sem esperar, levantou a bandeirola sem se aperceber de que Zizo, claramente em jogo, tinha sido mais rápido e tinha sido ele a tomar parte activa no jogo, jogando a bola.

Quatro notas, que espero sejam esclarecedoras, sobre esta decisão: 1) o jogador que poderia estar em posição de fora-de-jogo, não teve interferência no jogo; 2) o jogador que tomou parte activa no jogo não estava em posição irregular; 3) o árbitro assistente errou ao não esperar para ver qual o jogador que iria jogar a bola; 4) o VAR nunca poderia intervir nesta situação, pois não deve avaliar situações de fora-de-jogo a menos que resultem num golo imediato e que aconteça antes do apito do árbitro.

Aos 60 minutos aconteceu uma disputa de bola entre Piccini (Sporting) e Ruben Lima (Moreirense), dentro da área do Moreirense, junto à linha de baliza. A bola acabou por, aparentemente, sair pela linha de baliza e foi assinalado um canto do qual resultou o golo do Sporting.

Notas, importantes, a observar e esclarecer sobre este lance: 1) ficou por assinalar falta de Piccini, que empurrou o defesa do Moreirense. A equipa de arbitragem não detectou o empurrão. O VAR não tinha que intervir nesta infracção; 2) após o empurrão, Piccini foi rasteirado fora do campo. A lei diz que esta falta, ocorrida fora do campo, é transportada para o interior do terreno no local mais próximo. Assim, teria de ser assinalado pontapé de penálti. A equipa de arbitragem não viu a falta. O VAR, apesar de ser uma situação de penálti, não deve intervir porque, a assinalar pontapé de penálti teria de rever todo o lance. Ao rever todo o lance, iria ter de “anular” essa indicação de penálti porque tinha havido, antes, uma infracção da equipa atacante. O protocolo VAR institui, e bem, que dar indicação de pontapé de penálti, para depois voltar a reverter essa indicação, não faz muito sentido. Assim deve o VAR abster-se de intervir; 3) foi assinalado, correctamente ou não, um canto. Foi essa a decisão da equipa de arbitragem. O VAR não pode intervir, como expliquei na minha crónica da passada semana, nas decisões de recomeços de jogo; 4) um golo foi obtido de um pontapé de canto. Sem qualquer infracção. Foi um golo legal. 4) equipa de arbitragem e VAR não falharam no “lance” do golo. Falharam nos lances anteriores como tantas vezes, inevitavelmente, os árbitros erram em lances menores do jogo.

Aos 96 minutos de jogo aconteceu o lance que não deve acontecer. O lance pelo qual o projecto videoárbitro está a ser testado e desenvolvido. Doumbia (Sporting) foi claramente agarrado quando se movimentava para ganhar posição na área.

As minhas observações sobre a situação: 1) a bola estava a ser jogada noutra zona do terreno de jogo e, por isso, compreende-se que o árbitro não tenha detectado a infracção; 2) o agarrão, visto nas imagens televisivas, é claro e inequívoco; 3) sendo um erro claro (pontapé de penálti por assinalar), o VAR tem obrigação de detectar a situação e sugerir ao árbitro a revisão do lance; 4) o VAR, um homem que está a olhar para dois monitores com diversos ângulos de um mesmo lance, falhou. Terá focado a sua atenção numa situação disciplinar que aconteceu dois segundos depois. É homem. Errou. Não é um criminoso com intenções obscuras, ok?

Para terminar bem... saiba o leitor que Jorge Sousa apita hoje o Manchester City-Shakhtar Donetsk para a Liga dos Campeões. Amanhã, na mesma competição, Artur Soares Dias irá dirigir o Qarabag-Roma. 

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