Único camião com canhão de água da polícia espanhola já está em Barcelona

Procuradoria-Geral admite o óbvio: por causa do referendo marcado para domingo pode pedir a detenção do presidente da Generalitat, algo que até agora não foi “oportuno”.

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Imagem das carrinhas da polícia espanhola no porto de Barcelona Albert Gea/Reuters

Depois de mais 6000 reforços de unidades antimotins e de dezenas e dezenas de viaturas policiais alinhadas por agora no porto de Barcelona, o Ministério do Interior espanhol já fez chegar à capital catalã o único camião com canhão de água de que dispõe. Isto a seis dias do referendo sobre a independência que o presidente da região, Carles Puigdemont, insiste que vai organizar no domingo.

O Governo de Mariano Rajoy garante que a consulta, ilegal à luz da Constituição, não terá lugar. A semana passada, fez o que pôde para a tornar impossível, detendo o núcleo duro da organização, incluindo altos cargos da Generalitat, e apreendendo quase 10 milhões de boletins de voto e outros documentos, como as listas da constituição das mesas ou as cartas que deveriam ter seguido para os cidadãos sorteados para estarem em cada local de voto.

Para além disso, o Governo retirou ao governo de Puigdemont o controlo das suas contas e designou um responsável do Interior para coordenar todas as forças policiais presentes na Catalunha até 1 de Outubro, colocando assim, na prática, a polícia catalã sob as ordens de Madrid. Num sinal de discordância ou, pelo menos, grande mal-estar, o chefe dos Mosso d’Esquadra, Josep Lluís Trapero, decidiu não participar na primeira reunião convocada pelo coronel da Guardia Civil Diego López de los Cobos.

Caso o camião com canhão de água chegue a sair da Zona Franca do porto de Barcelona e acabe por ser disparado, será a primeira vez que isso acontece desde que a viatura foi comprada, em 2014. Até agora, foi mobilizado de forma preventiva em grandes concentrações (como na última final da Taça do Rei) em Maio, mas nunca utilizado.

No campo das declarações políticas, continua o braço-de-ferro sem solução. Puigdemont assegura que se vai votar – as associações que mais têm promovido o independentismo dizem ter distribuído um milhão de boletins de voto durante as concentrações em centenas de municípios no domingo – e que, em seguida, “o resultado será aplicado.

Horas depois, os dirigentes do partido de esquerda Podemos, que apoia a realização da consulta apesar de ter insistido para que esta fosse negociada com Madrid (o que Rajoy nunca admitiu), apelavam ao líder catalão para não fazer uma declaração unilateral de independência. “Nem o bloqueio do imobilismo nem o do independentismo vão solucionar seja o que for”, afirma a direcção do partido de Pablo Iglesias.

Puigdemont já se dissera preparado para ir parar à prisão por causa de um referendo que ele sabe estar a tentar realizar em desafio aberto ao Estado, defendendo que Madrid o deixou sem outras opções. Agora foi a vez dos responsáveis judiciais admitirem o óbvio: se altos dirigentes da Generalitat foram detidos e acusados de desvio de fundos, prevaricação, desobediência e até de insurreição, é natural que o mesmo possa acontecer ao presidente do governo autonómico.

A decisão de mandar deter Puigdemont, diz o procurador-geral, José Manuel Maza, “mantém-se em aberto”. A Procuradoria, explicou em entrevista à rádio Onda Cero, “está convencida” que o líder catalão está a cometer “delitos de desvio de fundos, prevaricação e desobediência” na preparação da consulta. “Para já”, diz, a sua detenção não foi considerada “oportuna”.

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