Cavani recusa um milhão para deixar Neymar marcar penáltis no PSG

Continua a novela entre o uruguaio e o brasileiro. Dirigentes tentaram sanar o conflito com a oferta de um prémio financeiro ao uruguaio, mas os problemas são mais profundos: um balneário dividido pela chegada do astro.

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Neymar foi contratado para liderar a equipa na Liga dos Campeões, mas a sua chegada ao PSG terá deixado o plantel em polvorosa Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

Este fim-de-semana, o Paris Saint Germain perdeu os primeiros pontos no campeonato francês, empatando a zero com o Montpellier num jogo do clube milionário francês unanimemente considerado como profundamente desinspirado. A grande estrela da equipa, Neymar, com queixas de dores num pé, não foi convocado.

Nasser Al-Khelafi, o magnata qatari proprietário do clube, recusou justificar a pálida exibição com a ausência do astro brasileiro. “Neymar é muito importante para a equipa, mas não é por ele não estar em campo que devemos jogar desta forma. Há muitas razões para este resultado”, afirmou no final do jogo, citado pelo site da TV5. Há realmente. E a principal será um balneário dividido, ou melhor, um balneário unido (contra Neymar).

Há uma semana, o recém-chegado Neymar e o uruguaio Cavani, veterano do PSG dos milhões, com quatro anos de clube, entraram num muito público conflito quando da marcação de um penálti no jogo contra o Olympique Lyon que os parisienses venceram por 2-0 - Neymar queria fazê-lo, Cavani impôs-se (e falhou). A julgar pela história que conta esta segunda-feira o El País, o episódio foi o corolário da tensão vivida no balneário desde a chegada do jogador que, assim acreditam os seus proprietários, irá fazer do clube francês vencedor da Liga do Campeões. A qualidade do seu plantel faz dele um dos grandes candidatos, mas não será um caminho fácil de percorrer.

Depois do arrufo entre os dois jogadores, Al-Khelafi entrou em campo para sanar o conflito, oferecendo ao uruguaio um milhão de euros – o valor inscrito no seu contrato como prémio para a distinção como melhor marcador do campeonato francês – para que cedesse o lugar a Neymar na hierarquia dos marcadores de penáltis. Cavani recusou veementemente. O dinheiro, nesta questão, era secundário. Respondeu que, tendo em conta o seu estatuto e tempo passado no clube (é o terceiro na lista de capitães de equipa), continuaria a ser ele a marcar os penáltis. As abordagens da direcção do clube a Neymar para que este compreendesse a posição de Cavani, por sua vez, também não foram bem-sucedidas.

O problema nasceu no preciso dia em que Neymar chegou pela primeira vez aos treinos do PSG, no início de Agosto, comportando-se, segundo relata o El País, como um jogador acima dos demais, como alguém com trajecto feito e consolidado no PSG. E agudizou-se definitivamente quando chegou a notificação da UEFA de que, caso não cumprisse as regras do fair-play financeiro, o clube francês poderia não sofrer apenas sanções pecuniárias, mas ser afastado durante algumas temporadas das competições europeias. Para contornar a ameaça, os dirigentes convocaram os representantes de vários jogadores, explicando que, dada a situação, era seu desejo transferi-los de forma a cumprir com as regras da UEFA. Entre os jogadores encontravam-se o capitão Thiago Silva, Di Maria, Pastore, Draxler, Ben Arfa, Aurier e Matuidi. Este último, indignado por se ver tratado como matéria descartável, forçou a saída por meros 20 milhões de euros para a Juventus. Nos restantes, cresceu um sentimento de indignação perante Neymar e a sua postura.

O internacional brasileiro chegara do Barcelona por 222 milhões de euros, assinando um contrato que lhe rende 36,8 milhões de euros por época, como revelado no final da semana passada no Der Spiegel. O valor é o dobro do que ganha a outra grande estrela da equipa, Cavani, precisamente, e o segundo maior salário do futebol mundial – o argentino Carlos Tevez, actualmente no clube chinês Shanghai Shenua, acumula 38 milhões de euros por ano.

Cedendo às preocupações do treinador Unay Emery, que receava ver partir muitos dos seus melhores jogadores e ter que lidar com um balneário em polvorosa, Al-Khelafi, cuja equipa para o futebol inclui Antero Henrique, antigo administrador da SAD do Futebol Clube do Porto, voltou atrás na decisão de pôr no mercado meia equipa. A julgar pelo sucedido há uma semana, quando Cavani, um dos líderes do balneário, e Neymar, a estrela acima de todas as outras, discutiram em campo quem marcaria o penálti na vitória sobre o Lyon, a alteração de estratégia não terá sido suficiente para acalmar a tensão entre a equipa. De um lado, Neymar e o amigo Dani Alves, que tenta intervir como agente para a paz. Do outro, aparentemente, todos os restantes jogadores de um plantel despeitado pelas consequências da tumultuosa chegada do astro que vivia à sombra de Messi no Barcelona.

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