Palavras, expressões e algumas irritações: discurso

O discurso (“enunciado superior à frase”, mais longo que um tweet) de Donald Trump poderá ser “esquecido como tantos outros feitos na ONU”. Mas, enquanto nos lembrarmos, foi triste. E perigoso.

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João Catarino

Vindo do latim, discursu, significa “exposição de ideias, em geral solene e prolongada, proferida por um orador perante uma assembleia”. Poder-se-ia dizer que é o oposto de um tweet. Sim, vamos falar de Donald Trump e do seu primeiro “discurso” na Assembleia das Nações Unidas.

“Perante os líderes mundiais e uma audiência de milhões de pessoas, o Presidente Donald Trump admitiu, de forma inédita, destruir a Coreia do Norte se ela ameaçar os Estados Unidos ou os seus aliados. Foi a parte mais sonora do discurso e que imediatamente ocupou as manchetes das edições online da imprensa mundial. Mas não a mais relevante. Esta diz respeito à reafirmação da palavra de ordem ‘America first’, a primazia dos interesses nacionais americanos, convidando os outros países a seguir o exemplo”, escreveu-se. Um claro incentivo a “todos contra todos”, numa casa que se espera promotora da paz.

Quando se fala em “discurso”, está-se perante um “enunciado superior à frase” (lá está, mais longo e reflectido que um tweet). Há os que ficam para a História pela sua qualidade, originalidade e verdade e os de que a História não reza. No La Repubblica, o jornalista Vittorio Zucconi sentenciou que este “será esquecido como tantos outros feitos na ONU”. Pode até ser, mas, enquanto nos lembrarmos, foi triste. E perigoso.

Falando de política doméstica (leia-se nacional), é bom que o leitor e eleitor se vá vestindo de paciência para o “palavreado” (sinónimo de “discurso”) que aí vem. As campanhas das autárquicas costumam ser férteis em “sermões” e “arrazoados” (palavras equivalentes).

É natural que também se escutem algumas “dissertações” “cujo conteúdo se fecha entre um início e um final reiterados e idênticos”. São os chamados “discursos redondos”. Normalmente envolvem gente quadrada.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

A rubrica Semana Ilustrada, nesta edição assinada pelo ilustrador João Catarino e que reflecte o discurso de Donald Trump na ONU, encontra-se publicada no P2

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