Líder do PSOE desafiado a retirar apoio a Rajoy na gestão da crise catalã

Podemos e alcaide de Barcelona instam Pedro Sánchez a liderar um governo que negoceie um referendo. Milhares prometem nas ruas que vão votar.

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"Votaremos" foi a palavra de ordem este ano da festa de La Mercè SUSANA VERA/Reuters

A uma semana do referendo convocado pelos independentistas catalães, milhares de pessoas saíram à rua em cerca de 500 municípios para assegurar que, de uma forma ou outra, vão votar na consulta que o Governo espanhol garante que não se realizará. Uma “maratona pela democracia” realizada no mesmo dia que em que o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, foi desafiado a romper com o apoio que tem dado a Mariano Rajoy na gestão da actual crise e a liderar um governo “plurinacional e democrático” que aceite um referendo na Catalunha.

O repto foi lançado por líder do Podemos, numa reunião em Saragoça que reuniu centenas de eleitos e dirigentes do partido de esquerda e de forças aliadas, bem como de representantes de partidos nacionalistas catalães, bascos e valencianos. “Companheiro Sanchéz, não caias no erro de uma frente com o PP”, disse Pablo Iglesias, insistindo que “esse é um caminho que conduzirá à destruição da democracia em Espanha como um projecto colectivo”.

Os populares governam em Madrid sem maioria e bastaria que os socialistas se juntassem à coligação Unidos Podemos, aos nacionalistas catalães e bascos numa moção de censura para fazer cair o executivo de Rajoy. Sánchez, no entanto, tem-se recusado a usar a crise catalã como arma de arremesso contra os populares, assegurando o apoio do partido às iniciativas legais e políticas adoptadas pelo Governo para travar o referendo e rejeitando que a consulta possa ser lida como uma moção de censura a Rajoy. O líder socialista insiste ainda assim que, passado o 1 de Outubro, Madrid e Barcelona têm de dialogar para encontrar uma solução negociada para a disputa.

Iglesias desafia, no entanto, o PSOE a “encontrar o seu próprio caminho longe dos carris reaccionário e autoritário do PP”. “Faz falta um governo de unidade plurinacional e democrática que organize um referendo na Catalunha” e inicie uma revisão constitucional para mudar o actual modelo das autonomias. Convidada para o mesmo encontro – que a certo ponto chegou a estar acossado por uma manifestação da extrema-direita – a alcaide de Barcelona, Ada Colau, desafiou também o líder socialista espanhol a “ouvir o sentimento maioritário dos espanhóis que pedem para votar. “Sánchez falou de responsabilidade de Estado e eu digo-lhe, com humildade, que a responsabilidade de Estado é escutar a Catalunha e não se aliar com o PP”.

Mas se os apelos ao diálogo se sucedem – neste domingo foi a vez de Iñigo Urkullu, chefe do governo autónomo basco, a pedir a Madrid que aceite um “referendo legal e negociado” na Catalunha – as duas partes não dão qualquer sinal de retrocesso. Em Barcelona, onde a “maratona pela democracia” coincidiu com as festas maiores da cidade, as duas associações que impulsionam a consulta anunciaram ter distribuído “cem mil boletins de voto” (um milhão em toda a região, acrescentaram). “Votaremos”, foi a palavra de ordem mais ouvida durante as festas.

Do lado oposto, o responsável do Ministério do Interior nomeado para coordenar todas as forças de segurança mobilizadas para impedir a consulta convocou a primeira reunião para esta segunda-feira, não sendo ainda certo se o chefe dos Mossos d’Esquadra aceitará que a polícia catalã fique sob a alçada daquele organismo.   

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